sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Protestos derrubam presidente do Egito


Era Mubarak chega ao fim; protestos derrubam presidente

Por Edmund Blair e Samia Nakhoul

CAIRO (Reuters) - Hosni Mubarak renunciou à Presidência do Egito nesta sexta-feira e passou o poder ao Exército. Mubarak encerrou três décadas de governo autocrático, curvando-se à pressão cada vez maior vinda dos militares e dos manifestantes que exigiam a sua saída.

Um orador fez o anúncio da renúncia de Mubarak na praça Tahrir, do Cairo, onde centenas de milhares de pessoas choraram de alegria, comemoraram e se abraçaram, cantando: "O povo derrubou o regime." Outros gritavam: "Allahu Akbar" (Deus é grande).

A celebração tomou conta das ruas do Cairo, Alexandria e outras cidades. As pessoas acenavam bandeiras e tocavam as buzinas dos carros. "Ele está fora e nós estamos dentro", diziam.


O vice-presidente Omar Suleiman afirmou que um Conselho Militar passaria a dirigir o país, o mais populoso do mundo árabe. Segundo uma fonte militar, o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, chefiará o Conselho. Uma eleição presidencial livre e justa está prometida para setembro.

Pouco depois, a rede de TV Al-Arabiya informou, citando fontes não especificadas, que o Conselho vai demitir o gabinete e suspender as duas casas do Parlamento

A queda de Mubarak, de 82 anos, após 18 dias de protestos populares sem precedentes foi uma vitória monumental para a força popular e com certeza abalará as autocracias ao redor do mundo árabe e além.

Os poderosos militares egípcios haviam dado garantias mais cedo na sexta-feira de que as reformas democráticas prometidas seriam executadas, mas os manifestantes furiosos intensificaram sua revolta contra Mubarak, marchando para o palácio presidencial e a torre da televisão estatal.

Foi um esforço do Exército para neutralizar o levante, mas, ao não acatar a principal exigência dos manifestantes para a saída imediata de Mubarak, não conseguiu acalmar a agitação que afetou a economia e sacudiu todo o Oriente Médio.



A intervenção militar não era o bastante.

O tumulto pela recusa de Mubarak em renunciar testou a lealdade das Forças Armadas, que tiveram de optar entre proteger o comandante supremo ou livrar-se dele.

O confronto cada vez mais acirrado suscitou temores de uma violência fora de controle no país, um aliado-chave dos EUA numa região rica em petróleo, onde o risco do caos se espalhar para outros países repressores preocupa o Ocidente.

O governo norte-americano pediu uma pronta transição democrática para restaurar a estabilidade no Egito, um dos poucos países árabes não hostis a Israel, guardião do Canal de Suez, que liga a Europa e a Ásia, e uma importante força contra o Islã militante na região.

A declaração do Exército observou que Mubarak havia passado os poderes para governar o país de 80 milhões de habitantes ao seu vice no dia anterior - talvez sinalizando que isso deveria satisfazer os manifestantes, reformistas e figuras da oposição.

"Essa não é a nossa exigência", disse um manifestante, depois de passar o conteúdo da declaração do Exército à multidão da praça Tahrir, no centro de Cairo. "Nós temos uma exigência: que Mubarak renuncie." Ele havia dito que permaneceria no posto até as eleições de setembro.

A Irmandade Muçulmana, grupo islâmico de oposição, pediu que os manifestantes mantivessem os protestos de rua em todo o país, descrevendo as concessões de Mubarak como um truque para ficar no poder.

REFORMA PEQUENA E MUITO TARDIA

Centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas no Egito, incluindo na cidade industrial de Suez, palco de alguns dos episódios mais violentos da crise, e em Alexandria, a segunda maior cidade do país, assim como em Tanta e em outros centros do Delta do Nilo.

O Exército também disse que "confirma a suspensão do estado de emergência assim que as circunstâncias atuais terminarem", numa promessa de retirar uma lei imposta depois que Mubarak se tornou presidente, após o assassinato de Anwar Sadat em 1981, e que os manifestantes afirmam ter sido usada durante muito tempo para calar a dissidência.

Ele também prometeu garantir a realização de eleições livres e justas e cumprir outras concessões feitas por Mubarak aos manifestantes, que seriam impensáveis antes de 25 de janeiro, no início da revolta.

Nada disso, porém, foi suficiente para as muitas centenas de milhares de manifestantes desconfiados que protestavam nas cidades ao redor do país na sexta, insatisfeitos com o alto desemprego, a elite corrupta e a repressão policial.

Desde a queda do líder da Tunísia Zine al-Abidine Ben Ali, que deflagrou protestos pela região, os egípcios têm protagonizado manifestações contra a subida de preços, a pobreza, o desemprego e o regime autoritário.

LEIS DE EMERGÊNCIA

As potências mundiais haviam aumentado a pressão sobre Mubarak para que ele organizasse uma transição de poder pacífica desde o início dos protestos, no final de janeiro.

Mubarak subiu ao poder quando seu antecessor, Anwar Satad, foi morto a tiros por militantes islâmicos num desfile militar em 1981.

O ex-comandante da Força Aérea ficou muito mais tempo no poder do que qualquer um pudesse imaginar na época, governando com leis de emergência.

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