sábado, 12 de junho de 2010

'Não tenho saudades do PMDB', diz Jaques Wagner

Ao iG, governador que há quatro anos cedeu vice ao aliado e se sentiu traído, diz esperar que fato não se repita com Dilma




Eleito em 2006 com um vice do PMDB, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), foi um dos principais articuladores da aliança nacional que será formalizada neste fim de semana com a ex-ministra Dilma Rousseff (PT) como candidata a presidente e o deputado Michel Temer (PMDB) como vice. Mas, agora, ele afirma em entrevista ao iG: “Espero que não aconteça com ela o que aconteceu comigo”.

O governador diz isso porque, ao longo do seus quatro anos de governo, foi perdendo aos poucos o apoio do PMDB baiano. “O PMDB trazia muita tensão para o meu governo. Era uma crise permanente”, disse. “Eu não tenho saudades deles (dos peemedebistas)”, completou.

Na Bahia, o PMDB é comandado pelo deputado Geddel Vieira Lima, que no primeiro mandato de Lula fez oposição cerrada ao Palácio do Planalto, ao lado de Temer. Em 2007, após adesão ao governo, assumiu o Ministério da Integração Nacional e pavimentou sua candidatura ao governo do Estado contra Wagner. Agora, sob o argumento de que pertence à base aliada nacional, disputa com Wagner o palanque de Dilma no Estado.

Wagner prefere não reclamar. “A Dilma não precisa declarar quem é o candidato do coração dela. Para mim, não tem problema ela ir a outro palanque”, disse. Leia abaixo a íntegra da entrevista.

iG - Não é ruim Dilma ir a dois palanques na Bahia?

Jaques Wagner – Não nego as dificuldades, mas eu pedi ao presidente Lula para ficar fora do rol dos problemas entre o PT e o PMDB. A Dilma não precisa declarar quem é o candidato do coração dela. Para mim não tem problema ela ir a outro palanque. O povo sabe separar as coisas.

iG – O senhor foi um dos responsáveis pela formação da aliança com o PMDB no começo do segundo mandato do presidente Lula. No entanto, acabou sem o partido no Estado. Por quê?

Wagner – Eu tive uma participação intensa, inclusive na aproximação entre o Michel e o presidente Lula. Confesso que fiquei bastante surpreso com a postura do PMDB na Bahia, que deixou o meu governo e tomou outro caminho. Mas eu não tenho saudade deles não.

iG – Por quê?

Wagner – O PMDB trazia muita tensão para o meu governo. Era uma crise permanente. Agora eu tenho uma base aliada mais compacta e unida. E eles (os peemedebistas) têm um caminho próprio.

iG – Num eventual governo Dilma, isso não poderá ocorrer em nível nacional?

Wagner – Eu espero que não aconteça com ela o que aconteceu comigo. Agora, todos sabemos que o PMDB não tem uma unidade nacional. Essa é sua característica.

iG – O senhor acredita haver um acordo branco entre o DEM e PMDB baianos?

Wagner – Do ponto de vista histórico, sempre tiveram ligação. Em 1998, o Geddel estava disposto a apoiar o Luís Eduardo Magalhães (deputado federal do PFL, atual DEM) como candidato a governador. As coisas mudaram depois que o Luís Eduardo morreu e não foi candidato.

iG – Mas por que eles se reaproximaram durante o seu governo?

Wagner – A morte do Antônio Carlos Magalhães (senador do DEM) provocou uma lacuna na oposição ao meu governo. Por conta disso, o DEM se reaproximou no PMDB para se contrapor a nós.

iG – Uma das maiores críticas ao seu governo é a questão da violência. Existe uma visão nacional de que há na Bahia um grave problema na segurança pública.

Wagner – Eu desconheço essa visão. Nosso problema no aumento dos homicídios deve-se ao tráfico de drogas. Em 70%, 80% dos casos, o assassinato está ligado à droga. E o consumo aumentou no Brasil inteiro.

iG – Mas como o senhor está combatendo o problema?

Wagner – Tenho um planejamento em que acredito. Já aumentamos o efetivo da Polícia Militar. Temos 6 mil homens agora. Precisamos de mais recursos porque não é fácil sustentar uma folha de pagamento como essa. Na Polícia Civil, estamos melhorando o setor de inteligência.

iG – Mesmo quando perdeu, Lula sempre teve boas votações na Bahia. Existe alguma meta a ser cumprida para Dilma na Bahia?

Wagner – Na fotografia de hoje, a situação está dois por um. A cada voto para o Senado há dois para Dilma. Se continuar assim, acho que conseguimos vencer na Bahia com 2 milhões de votos de vantagem.

iG – Em 2007, quando Lula ainda não havia anunciado Dilma como candidata, o nome do senhor chegou a ser cotado para disputar o Palácio do Planalto. Pensou em ser presidente?

Wagner – Minha vitória em 2006 foi surpreendente. Ninguém achava que eu ia ganhar. Por isso, isso mexeu com as pessoas que começaram a falar “é o sucessor, é o sucessor”. Dentro de mim, eu sempre soube que não poderia ser governador por apenas três anos e seis meses. O nosso projeto para a Bahia tinha de ser maior, por isso eu precisava disputar a reeleição.

iG – Mesmo sem o apoio do PMDB, considera possível vencer no primeiro turno?

Wagner – Até agora todas as pesquisas mostram a minha vitória em primeiro turno. Mas, em 2006, todas também diziam que eu não iria nem para o segundo turno. Acabei vencendo no primeiro. Por isso não gosto de ficar pensando muito nisso. Posso dizer que estou muito contente com a chapa que conseguimos formar. Principalmente com o meu vice, o Otto Alencar (PP). É político da minha geração. Foi duas vezes o deputado estadual mais votado da Bahia. Em 1998, elegeu-se vice-governador do Cesar Borges (na época no PFL, hoje no PR). O Otto amplia nossas possibilidades porque atinge outro eleitorado.



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Excelente entrevista de Fernando Pimentel, um dos coordenadores da campanha de Dilma


"O PT não usa mais a ideologia como máscara para não enxergar a realidade"


Um dos coordenadores da campanha de Dilma, petista justifica alianças e nega ligação com dossiê



Ex-militante de grupos contrários à ditadura militar na juventude ao lado da hoje presidenciável Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel ganhou espaço na campanha da petista em parte por esta ligação. Nas últimas semanas, porém, levou rasteiras de companheiros do grupo paulista liderado pelo coordenador de comunicação, Rui Falcão, e da própria cúpula do PT, que vetou sua candidatura ao governo de Minas para garantir o apoio do PMDB a Dilma. Pimentel diz que o PT se renovou, que o governo Lula trouxe diversos avanços, e que as alianças são o preço que se paga para governar e continuar no Planalto. Ele nega qualquer relação da campanha de Dilma com o suposto dossiê contra o presidenciável tucano, José Serra, que envolveu o jornalista Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicações, até então contratado pelo PT para as eleições. Trata o caso como “um não episódio”, irrelevante, e diz que continuará atuando como um dos coordenadores da campanha de Dilma. Ao final desta entrevista, feita durante visita à redação do GLOBO no Rio, entretanto, pareceu extenuado da ginástica para explicar os últimos episódios: “Vocês me chamaram para um pinguepongue, mas isso aqui foi uma final de tênis em Roland Garros”, brincou.


Maria Lima, Silvia Fonseca e Ascânio Seleme – O GLOBO



O GLOBO: A campanha já começou para valer. Esse episódio do dossiê contamina?

FERNANDO PIMENTEL: Não, a campanha começa dia 5 de julho.

Não acho que tenha contaminação.

Esse episódio é irrelevante, desimportante, e o que está sendo dito não aconteceu.

Até onde sei, é um não episódio.

É uma conversa de um jornalista com um araponga.

Esse episódio está sendo usado internamente pelo chamado grupo paulista para minar seu poder junto a Dilma?

PIMENTEL: Não. Essa suposta guerra interna existe mais fora do que dentro da campanha. Temos ótima convivência, as pessoas estão todas dedicadas ao projeto de eleger a ministra Dilma, e as pessoas que estão sendo mencionadas como meus opositores, ao contrário, são as pessoas com quem tenho mais afinidade. Tanto o Rui Falcão quanto o ex-ministro Palocci são meus amigos fraternos.

O que se diz é que o grupo mais ligado ao mensalão estaria enciumado com uma nova liderança no PT e estaria aproveitando o caso para queimá-lo junto à ex-ministra.

PIMENTEL: Eu desconheço.

Acho que o que está acontecendo, e não tem nada a ver com esse episódio, é um processo visível de renovação do PT. O que é salutar e compartilhado por todas as lideranças lúcidas e responsáveis do partido. O que chamo de renovação? Um partido que está se tornando o grande partido da democracia brasileira.

Não é mais o partido criado há 30 anos com o viés estreito do ponto de vista ideológico, porém necessário naquele momento.

Hoje temos uma democracia sólida. Temos que ser o partido da nova classe média, da classe C que está vindo para a cidadania agora, que representa o que alguns analistas chamam de lulismo, o que não acho que é assim porque não tem culto à personalidade, mas é um sentimento de participação político que precisa ter um canal partidário.

O PT tem de se preparar para ser esse canal.

Na eleição municipal passada, o senhor defendeu aliança com o governador Aécio em Minas, e o partido foi contra. Agora o senhor queria ser candidato ao governo de Minas, e o partido foi contra. O senhor estava errado nos dois casos?

PIMENTEL: Não, veja bem! O partido nacional não vetou nada (em 2008), possibilitou que fizéssemos a aliança com o PSB. O único veto foi à participação do governador Aécio, do PSDB, no nosso programa. Ainda assim ele participou informalmente.

Essa aliança informal com o PSDB contrariou o PT…

PIMENTEL: Uma parte do PT.

Esse episódio está superado.

Mostrou que tínhamos razão, tanto é que a cidade elegeu o candidato que a gente apoiou.

E esse episódio agora, em que o senhor teve que abrir mão da candidatura?

PIMENTEL: É outra coisa. Desde o início, o partido todo sabia que havia um acordo nacional com o PMDB. Foi feito ano passado e é o seguinte: o PMDB vai marchar conosco na eleição nacional, nos dar seu tempo de TV e o candidato a vice na chapa de Dilma. Em troca disso, flexibilizaríamos, como estamos flexibilizando, a nossa posição em todos os estados onde o PMDB tivesse candidatos competitivos, como o Hélio Costa em Minas.

Evidentemente que a militância do PT, embora entenda e aceite, lutou para que eu também, já que disputei as prévias e ganhei do Patrus (Ananias), fosse competitivo.

Cheguei ao ponto de, nas últimas pesquisas, estar empatado.

O que desempatou? O critério da aliança nacional.

Não é um preço alto?

PIMENTEL: É o preço de estarmos aliados como um partido grande como o PMDB.

E esse é o PT novo, identificado com a classe média? Apoiar Hélio Costa, abrir mão de apoiar Flávio Dino no Maranhão, do PCdoB, para apoiar Roseana Sarney?

PIMENTEL: Exatamente disso que eu estava falando. O PT novo é o PT que faz alianças e convive com a realidade política brasileira, buscando transformála, mas não ignorando e reagindo como se fosse um marciano chegando à Terra. Não somos mais um partido que coloca a ideologia como uma máscara, como óculos escuros para não enxergar a realidade política.

Não! Operamos com a realidade política do jeito que ela é, para melhorá-la, para transformá-la.

Foi o que o presidente Lula fez nesses últimos oito anos. Ou o Brasil não melhorou? 80% da população acham que melhorou.

Somos uma democracia sólida.

As instituições funcionam. Nunca víamos governadores presos.

Inegavelmente o governo Lula avançou muito nessa área. E não tiro o mérito dos outros.

A ex-deputada Sandra Starling, fundadora do PT, deixou o partido acusando o presidente Lula de ser um caudilho e dizendo que o PT mineiro tinha que reagir. Esses petistas históricos estão errados?

PIMENTEL: Essa é a opinião da minha amiga e companheira Sandra Starling. A Sandra está afastada da política e do partido há oito anos. Ela tem uma visão que respeito mas não concordo: em vez de se modernizar e buscar se aproximar da realidade concreta do Brasil para transformála, o PT deve voltar ao passado.

Ela se identifica muito com outro antigo companheiro nosso, pelo qual tenho grande cari nho, mas não tenho a menor afinidade política, que é o Plínio de Arruda Sampaio, que foi para o PSOL. Nesse processo de renovação, alguns companheiros vão ficar no passado.

No Maranhão o PT abriu mão da aliança com um aliado histórico, o PCdoB.

PIMENTEL: E há mal em fazer alianças com outros aliados? Eu vejo a configuração política necessária para mantermos no Brasil o projeto hoje liderado pelo presidente Lula e que futuramente será pela ministra Dilma.

Essa é a tônica da eleição. Creio que o PT majoritariamente quer continuar nesta eleição, e, para isso, temos de fazer as alianças que no passado não fizemos.

Roseana e a família Sarney representam um passado muito distante, de 30 anos, muito antes do PT. É uma aliança simbólica muito forte.

PIMENTEL: Vocês estão se queixando do Brasil real, do Brasil do jeito que ele é. O Fernando Henrique, quando foi presidente, teve que fazer aliança com o PFL. Era essa a conjuntura da época. Rendeu-se a isso e fez, e o Brasil avançou rumo à estabilidade econômica. Hoje estamos fazendo o Brasil avançar também, mantendo a estabilidade econômica, do ponto de vista do crescimento econômico, conquistas sociais ao custo de fazer uma aliança que vocês avaliam seja a volta ao passado. Esta é a realidade política do Brasil.

O senhor acha que os petistas vão votar no Hélio Costa?

PIMENTEL: Acho que o voto do PT mais fiel será na chapa do Hélio Costa para governador e no meu nome para senador. Por que os petistas vão se envolver? Porque é a chapa que representa a candidatura da ministra Dilma e do presidente Lula em Minas Gerais.

Patrus não quer ser o vice do Hélio Costa, já avisou que não é o salvador da pátria.

PIMENTEL: O meu compa nheiro e amigo Patrus Ananias está com uma opinião, que respeito, que é o pensamento pessoal dele.

Está dizendo assim: Eu prefiro não ser candidato a nada, quero voltar ao trabalho com os movimentos sociais, conviver com a família. E quando insistiram com o negócio de vice, ele disse: e além do mais eu não sou salvador da pátria.

O senhor vai fazer campanha ou coordenar a campanha da ministra Dilma?

PIMENTEL: As duas coisas. A campanha do Senado lá em Minas é um pouco a campanha da ministra Dilma. Nacionalmente vou ter menos tempo, mas hoje fico dois dias em Brasília. Acho que não tem muito prejuízo. Posso continuar fazendo isso. Temos dois companheiros com dedicação integral, que são o Dutra e o Palocci, que não são candidatos.

E com eles tenho afinidade enorme.

O senhor falou do Lulismo.

Patrus era o ministro responsável pelo principal programa do governo, o Bolsa Família, e não consegue ter a candidatura que desejava. A ministra foi uma escolha pessoal do Lula. O PT não está diminuindo diante da preponderância da vontade do presidente Lula?

PIMENTEL: Vamos separar. O PT tem hoje 25% da chamada preferência partidária, espontaneamente.

O PMDB, 7%, e o PSDB, 5%. Isso é uma coisa fantástica.

Como dizer que está enfraquecido? PT fica cada vez mais forte no pensamento dos que se interessam por política.

O PT é um partido muito forte.

É governo.

PIMENTEL: Não é porque é governo. Foi construindo isso ao longo de 30 anos e foi se tornando cada vez mais um partido próximo do Brasil real, ainda que tenhamos companheiros que ainda pensam com a cabeça do início do século XX.

Ou do início do PT.

PIMENTEL: Ou do início do PT, se você assim quiser. Mas o ministro do principal programa tem sim direito de ser candidato.

Ocorre que o Patrus perdeu a prévia para mim, então ele não pode ser candidato a governador. A deputado federal, ou estadual, sim, só que ele não quer.

O senhor diz que o PT é um partido muito forte, mas o fato é que, nos três principais colégios eleitorais, não tem hoje um candidato competitivo.

PIMENTEL: Esse é o outro lado da moeda de ter o principal posto do país, que é a Presidência da República. Como temos uma grande liderança política, o presidente Lula, um homem convictamente democrático, ele não usou os 8 anos para aparelhar os estados para que seu partido tivesse os candidatos competitivos e tirar da cena os outros partidos.

Qual a maior dificuldade que a ministra Dilma pode enfrentar na campanha?

PIMENTEL: Vou fazer uma blague mas vocês vão publicar. É uma brincadeira: a maior dificuldade será contar a avalanche de votos que ela vai ter (risos).

Acho que, na campanha, dificuldade é difícil, porque está tudo indo bem.

Será difícil ela ir a debates? Ela está cancelando…

PIMENTEL: Não. Não tem dificuldade.

Temem algum erro dela?

PIMENTEL: Não! Acho que a Dilma está cada dia melhor. Não tem mesmo experiência eleitoral.

Mas, para quem não tem experiência eleitoral, está se saindo muito bem. Pode ter cometido um deslize aqui, outro ali, eu nunca vi um maior. Está se aprimorando.

Não esperem nenhum erro brutal nem da Dilma nem da campanha que comprometa sua eleição.

Como esse do dossiê?

PIMENTEL: Mas isso nem existe.

Imagine isso a uma semana da eleição…

PIMENTEL: Mas isso não existe! Nada que vincule a précampanha de Dilma com esse episódio.

O delegado Onézimo, que veio a público dizer que a campanha estava comprando um dossiê…

PIMENTEL: Um delegado aposentado da PF conhecido como araponga tem um encontro com um jornalista que dá uma versão desse encontro.

Foi um erro do Lanzetta (o jornalista que trabalhava para o PT) ir a esse encontro?

PIMENTEL: O jornalista dá outra versão corroborada pelos outros dois ou três presentes.

Mas é grave uma pessoa da campanha ir lá conversar com um araponga, não?

PIMENTEL: Eu não vejo o que a campanha tem a ver com isso.

O jornalista tem uma empresa de comunicação.

Mas ele trabalha junto com a coordenação da campanha da Dilma.

PIMENTEL: E daí? Nós somos responsáveis pela atitudes que o contratado toma?

Mas ele não foi lá como jornalista.

Ele foi como contratado da campanha.

PIMENTEL: Essa afirmação sua eu devo desmentir categoricamente: o jornalista Luiz Lanzetta jamais foi autorizado a procurar ninguém por essa campanha. Até porque nenhum de nós tinha conhecimento que ele ia ter contato com araponga ou com quem seja. Se fez, ele errou, não podia ter feito. Mas acredito no que ele está dizendo: que não o fez. Ele procurou esse sujeito a convite do próprio Onézimo.

Num eventual governo Dilma ela teria pulso para evitar o toma-lá-da-cá do PMDB e outros aliados?

PIMENTEL: Pelo que vejo na imprensa, dizem que ela é extremamente dura e rígida.

Acho que não vamos ter risco de que essa aliança se transforme num governo moralmente frouxo.

O PT vai ter mais influência num eventual governo Dilma do que teve no governo Lula?

PIMENTEL: Não me parece que vai ter tanta diferença em relação ao que é hoje. Não é por causa das personalidades.

A Dilma tem relação cada vez melhor com o partido e tem uma formulação própria dela também.


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sexta-feira, 11 de junho de 2010

A história do dossiê contada por CartaCapital

Da CartaCapital

Na pista do factoide

Leandro Fortes

De um segundo encontro em uma confeitaria de Brasília ao roubo de arquivos, novos detalhes da mal-ajambrada trama do dossiê anti-Serra que ninguém viu

Nas últimas semanas, os eleitores brasileiros acompanharam o desenrolar de uma série de informações desconexas sobre um escândalo inexistente baseado em um dossiê fantasma a ser montado por uma equipe de arapongas jamais formada. Ainda assim, a história está longe de acabar. O tal dossiê, na verdade um livro sobre os bastidores do processo de privatização durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, voltará a ser notícia depois da Copa do Mundo, provavelmente no fim de julho.

É o período mais provável para o autor do texto, o repórter Amaury Ribeiro Júnior, com passagens por alguns dos principais veículos de comunicação do País e colecionador de prêmios jornalísticos, entregar ao Ministério Público Federal as informações e documentos coletados por ele ao longo de dois anos de investigação. Em seguida, vai publicar a obra, 14 capítulos que o autor acredita serem capazes de abalar os alicerces do PSDB às vésperas das eleições de outubro.

Antes, porém, é preciso esclarecer as circunstâncias que, em 5 de abril, levaram a uma mesa do restaurante Fritz, na Asa Sul de Brasília, os cinco personagens de uma trama rocambolesca, cujo início ainda tem pontos obscuros. A partir desse encontro, CartaCapital buscou reconstituir os bastidores dos acontecimentos que resultaram na crise inaugurada a partir de uma reportagem publicada pela revista Veja em 29 de maio, mas costurada antes no submundo político brasiliense, graças, em parte, ao grau de amadorismo dos envolvidos na confusão e em grande medida à guerra eleitoral que se aproxima.

batalha de versões estabelecidas entre as partes envolvidas no escândalo do dossiê que ninguém viu, o primeiro a falar foi, justamente, o primeiro a cair, o empresário Luiz Lanzetta, dono da agência Lanza, responsável na campanha da pré-candidata Dilma Rousseff pela contratação de profissionais da área de comunicação, 14 ao todo. No fim de março, Lanzetta diz ter percebido a existência de vazamentos de informações de dentro do comitê do PT, instalado em uma casa no Lago Sul de Brasília. Nessa altura, havia se instalado uma clara divisão na área de comunicação. De um lado, Lanzetta, levado à campanha pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo de Dilma Rousseff. De outro, o grupo do paulista Rui Falcão, igualmente próximo à ex-ministra.

Atribui-se o vazamento a essa luta interna pelo controle da área de comunicação na campanha. Tanto Pimentel quanto Falcão se dizem amigos fraternais e negam qualquer divergência ou briga por mais espaço e poder.

Preocupado com os vazamentos, Lanzetta procurou apoio de um velho conhecido de fora da campanha, Ribeiro Jr.. A ideia era contratá-lo para a equipe de Dilma Rousseff de forma a conseguir também, a partir do perfil profissional do repórter, informações sobre os movimentos do adversário. Até aí, nada de novo no front eleitoral brasileiro, onde investigações mútuas entre candidatos são tão comuns quanto a impressão de "santinhos" de campanha.

Ao saber das preocupações de Lanzetta, Ribeiro Jr. decidiu convocar uma fonte antiga, o sargento Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, ex-agente da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica (Secint). O araponga disse ao jornalista conhecer o nome certo para o serviço na casa do Lago Sul, Onézimo Sousa, ex-delegado da Polícia Federal e investigador com 30 anos de experiência. Decidiu-se marcar o citado almoço no restaurante Fritz. O quinto participante do encontro seria Benedito Oliveira Neto, empresário do setor gráfico e de eventos de Brasília, possuidor de contratos com o governo federal. Oliveira Neto teria sido convidado à reunião por Lanzetta para atuar como "testemunha". Os dois também se conhecem de longa data.

Na versão de Lanzetta, sustentada por Oliveira Neto e Ribeiro Jr., Onézimo Sousa foi consultado somente sobre a montagem de um esquema de segurança interna do comitê da campanha petista para detectar de onde saíam os vazamentos e arranjar um jeito de evitá-los. Suspeitava-se, ainda, da existência de escutas telefônica e ambientais na casa. Segundo Lanzetta, Sousa os alertou de que era "antipetista", mas engatou uma conversa sobre uma centena de dossiês que, segundo ele, estariam sendo produzidos por uma equipe encabeçada pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) contra aliados da base do presidente Lula, principalmente do PT e do PMDB. "Ele disse que tinha sido do lado de lá, que conhecia esses caras todos", afirma Lanzetta. O "antídoto" para os vazamentos apontados por Sousa, segundo o empresário de comunicação, seria um sistema de contraespionagem ao custo de 180 mil reais por mês. "Aí eu encerrei o assunto, me levantei e fui embora."

A CartaCapital Sousa afirmou nunca ter oferecido serviço algum a Lanzetta ou a ninguém do PT. "Da minha parte, tenho como provar tudo que eu disse. Nunca citei o Itagiba. Fui ao restaurante, ouvi uma proposta indecente e saí", contou o ex-delegado, em entrevista por telefone, na terça-feira 8, de um quarto de hotel localizado fora de Brasília, em local não revelado por ele. A proposta indecente seria a de investigar o candidato José Serra, interpretada por ele como ordem implícita de fazer grampos telefônicos nas linhas do tucano e de seus aliados políticos. Antes de sair do restaurante, o araponga deixou com Lanzetta um cartão de apresentação em que se lia apenas "Onézimo Sousa – Advogado – OAB-DF 13600", seguido do endereço do escritório e dos telefones de contato.

"Estou com a consciência tranquila, porque foram eles que me chamaram. Até estranhei, porque não sou petista", diz Sousa. Uma semana depois, o ex-delegado iria encontrar o mesmo cartão nas mãos do jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da Veja em Brasília. Como ele pode garantir ser o mesmo cartão? "Fiz uma marca de identificação nele." Passados alguns dias da reunião no Fritz, uma equipe de repórteres da Editora Abril já estava no encalço dos participantes do almoço. Ou seja, de algu-ma forma, e com bastante rapidez, a informação havia sido vazada para a imprensa. O delegado passou a achar que o vazamento partira de alguém que esteve no encontro no restaurante.

Sousa, a quem Policarpo Jr. conhece há quase duas décadas, foi um dos primeiros a ser contatados. Quando viu o cartão de visita nas mãos do repórter, perguntou como ele havia conseguido o papel. "Ele me disse que tinha vindo da casa", conta o ex-delegado. "Eu entendi que a Veja tem alguém lá dentro", afirma. Por isso mesmo, concluiu que havia caído em uma armadilha, principalmente quando soube, logo depois, que também Ribeiro Jr. tinha sido entrevistado.

Por sete semanas, o staff da campanha petista ficou na expectativa sobre o que poderia ser publicado sobre o almoço do restaurante Fritz. Portanto, ao menos os mais bem informados integrantes do comitê sabiam da preparação da reportagem. Nesse intervalo, além de Sousa e Ribeiro Jr., o deputado Rui Falcão foi procurado pela revista. "Eu sabia que o assunto estava no ar. Mas eles não registraram nenhuma declaração minha", diz Falcão.

Em 29 de maio, uma matéria truncada foi publicada em Veja com foto e declaração do ex-delegado Sousa, mas sem nenhuma linha sobre o livro de Ribeiro Jr., o que, obviamente desmontaria a tese do dossiê tão alegremente sustentada pela mídia nos últimos dias, ainda que, a exemplo do suposto grampo contra o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes (outra contribuição da revista da Editora Abril ao jornalismo "investigativo" à brasileira), faltem alicerces para manter a versão de pé.

Na iminência da publicação, Sousa decidiu enviar uma carta à revista, reproduzida na internet, onde se dizia "obrigado a manter o devido sigilo" sobre conversas com clientes e informou ter sido apenas sondado pelos petistas, apesar de não ter aceitado o serviço por "divergir cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a serem ali executados". Na mesma semana, ele voltaria a falar com Policarpo Júnior, mas desta vez para fazer estardalhaço.

Em 5 de junho, Veja publicou uma entrevista com o ex-delegado, na qual ele soltou o verbo contra Lanzetta e Ribeiro Jr. Acusou o grupo petista de querer grampear Serra e lançou-se numa estratégia de virtual suicídio profissional, ao abrir as intenções de um cliente, mesmo não contratado. No mesmo dia, Lanzetta foi obrigado a se demitir da campanha de Dilma Rousseff. O ex-delegado agiu com o fígado, sobretudo, porque passou a ser acusado de ter sido cooptado pelos tucanos e, no passado, ter participado do núcleo de inteligência de Serra no Ministério da Saúde.

Não é verdade. Sousa jamais trabalhou com o deputado Itagiba ou no Ministério da Saúde, ou mesmo em ambientes comuns na Polícia Federal, onde ambos foram delegados. Quando na PF, Sousa fez fama como investigador profissional e corajoso, sobretudo no combate a traficantes de drogas e de armas no Rio de Janeiro, numa época em que coleta de provas e infiltração entre bandidos valiam mais que escutas telefônicas. Aposentado em 1995, fez carreira de investigador particular na Control Risks, uma renomada agência de investigação inglesa, com filial em São Paulo. De volta a Brasília, montou um escritório de advocacia no Setor Comercial Sul, embora ainda continuasse, eventualmente, a fazer serviços de investigação para uns poucos clientes. O que o levou a corroborar a tal história de arapongagem é uma pergunta que, talvez, só o tempo seja capaz de esclarecer.

Ribeiro Jr. também diz ter como provar "diálogo por diálogo" da conversa ocorrida no restaurante Fritz. Supõe-se, portanto, que tanto ele como Sousa tenham gravado tudo sem que um notasse o que o outro fazia. É certo que um dos dois está blefando, mas Ribeiro Jr. tem a seu favor o depoimento dos outros presentes à mesa, inclusive o sargento Idalberto, embora este não esteja nem um pouco disposto a aparecer em público. Em 2008, Dadá foi acusado de participar ilegalmente da Operação Satiagraha, ao lado do delegado Protógenes Queiroz, mas negou ter feito parte da ação.

Ribeiro Jr. alega ainda ter tido outro encontro com Sousa, 15 dias depois do almoço no Fritz, em uma confeitaria de Brasília, na presença do sargento Dadá. Na ocasião, conta o jornalista, o ex-delegado estava furioso por causa do vazamento da conversa com Lanzetta e o acusou de ter levado o assunto para a imprensa. "Ele achou que nós havíamos passado o cartão dele para a Veja", explica Ribeiro Jr. "Mas é certo que o cartão dele foi roubado dentro da campanha. Também roubaram um arquivo do meu livro, colocado num computador da casa, daí o pânico (dos tucanos) em relação ao 'dossiê'." Sousa nega ter participado desse segundo encontro.

Além disso, Ribeiro Jr. acredita que algum hacker conseguiu entrar em seu notebook enquanto ele esteve hospedado em um hotel de Brasília e retirado um arquivo que só ele tinha: uma reportagem encomendada pelo jornal O Estado de Minas, mas jamais publicada, sobre as investigações que resultariam no livro intitulado Os Porões da Privataria e que conta com alguns trechos publicados na internet. A reportagem não publicada seria o tal "dossiê". Diz o repórter: "Também roubaram relatórios dos custos- da casa onde fica o comitê de campanha de Dilma. Quando Veja ligou para o Lanzetta, já tinha tudo na mão".

Enquanto o staff de Serra aproveitou o episódio para tentar consubstanciar uma aura de vítima ao redor do candidato tucano, a história provocou algumas mudanças no comitê petista. Aparentemente, o ex-ministro Antonio Palocci e o grupo paulista reforçaram sua posição na estrutura. Já Pimentel, obrigado a ceder a vaga de candidato ao governo de Minas Gerais ao peemedebista Hélio Costa, tende a se afastar um pouco de Brasília, até para cuidar de sua candidatura ao Senado.

A oposição está disposta a manter o tema aceso no noticiário, embora até o momento os resultados práticos da cruzada sejam quase nulos. Uma comissão mista no Congresso aprovou na quarta-feira 9 o convite a Sousa e a Dadá para deporem. No dia anterior, em viagem a São José dos Campos (SP), Dilma Rousseff negou que Pimentel tenha perdido espaço na campanha e voltou a chamar de "leviandade" a acusação de que alguém de sua equipe de campanha tenha preparado um dossiê anti-Serra. A candidata estava acompanhada de Palocci.

(Foto: Monica Alves/ AE)

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-historia-do-dossie-contada-por-cartacapital#more


Lula desafia adversários a comparar governos

Autor(es): Agencia o Globo

O Globo - 11/06/2010


No Nordeste, presidente critica a imprensa e diz que "país da destruição e do desleixo acabou"


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
desafiou ontem seus adversários e a imprensa a escolherem qualquer área de seu governo para comparar com os anteriores.

— Podem escolher ciência e tecnologia, habitação, emprego, saneamento, combate à pobreza, educação.
Tudo o que quiserem e comparar os oito anos nossos com 20 anos dos outros governos — disse o presidente, ao discursar em Aracaju, onde foi entregar unidades habitacionais e um ônibus do Programa Caminho da Escola.

Durante o discurso, Lula aproveitou para criticar a imprensa, dizendo que os feitos de seu governo não aparecem: —
É este país que não aparece na imprensa, é este país que não aparece na televisão, é este país que muita gente tenta esconder. Mas é este país que está dando popularidade ao nosso governo. Não é o chamado “país do formador de opinião pública”.

Para uma plateia formada por moradores da região, e ao lado do governador Marcelo Déda e do prefeito Edvaldo Nogueira, Lula voltou a dizer que
em todos os estados e municípios, sejam da oposição ou não, o governo fez investimentos: — Vá a São Paulo e pergunte ao (Gilberto) Kassab (prefeito), que é do DEM, vá a São Paulo e pergunte para o Serra (José Serra, ex-governador), que é nosso adversário.

"Ser presidente é coisa passageira, quase sacerdócio"

Em pouco mais de 40 minutos de discurso, Lula contou que descobriu que “ser presidente é uma coisa passageira, quase um sacerdócio” e que ao deixar o cargo “vai parar de ser presidente”, mas continuará " tentando ajudar a melhorar".

Em Salvador, na Bahia, onde esteve na tarde de ontem, o presidente voltou a atacar seus antecessores: —
O país da destruição acabou, o país do desleixo acabou, o país da irresponsabilidade acabou — disse ele, durante a assinatura de convênios para obras de restauração no Pelourinho.

Lula também tomou partido do governador Jaques Wagner (PT) na polêmica sobre a situação do centro histórico, que motivou um artigo de Caetano Veloso no GLOBO: — Não vamos recuperar tocando de lá os pobres.

Lula passou praticamente a semana visitando o Nordeste.

Esteve em Fortaleza, Natal, Maceió, Aracaju e Salvador


[ Os glifos são meus]


As sanções contra o Irã

O Estado de S. Paulo - 11/06/2010

Há mais dúvidas sobre o que os Estados Unidos efetivamente esperam da quarta rodada de sanções contra o Irã, que fizeram aprovar anteontem no Conselho de Segurança (CS) da ONU, do que sobre a determinação iraniana de chegar ao limiar da produção da bomba atômica ? o que as punições visariam a impedir. Em defesa da adoção das medidas, os americanos e os seus aliados europeus usaram duas ordens de ideias, não apenas contraditórias, mas afinal inconvincentes, à luz do que se aprovou e de como se deu a votação no CS.

De um lado, o que a secretária de Estado Hillary Clinton chamou "as sanções mais significativas que o Irã já teve de enfrentar" tornariam exorbitante o custo político e econômico do programa nuclear da República Islâmica, obrigando o seu governo, ao fim e ao cabo, a negociá-lo a sério, pela primeira vez, com a comunidade internacional. De outro lado, a importância das sanções estaria "menos no seu conteúdo específico do que no isolamento do Irã pelo resto do mundo", na versão do secretário de Defesa Robert Gates.

A teoria do duplo trilho ? punir e negociar ? foi de fato contemplada na resolução do Conselho. O documento reproduz uma oferta concebida em 2008 pelo chamado grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha). Em troca da desistência de enriquecer urânio, o Irã teria reconhecido o seu direito à energia nuclear, recebendo ainda ajuda econômica e garantias de segurança. Mas a condição necessária para arrastar o Irã ao diálogo seriam as "sanções paralisantes" que atingissem o coração de sua economia.

Se dependesse dos EUA, a importação de petróleo iraniano e a venda de derivados ao país seriam embargadas até que Teerã se sentasse para conversar. No entanto, desde que se decidiram pelas sanções ? depois da recusa inicial do presidente Mahmoud Ahmadinejad de enviar urânio para enriquecimento no exterior ?, os americanos foram levados a perceber que as chances de aprovação de novas punições com o apoio da Rússia e da China eram inversamente proporcionais à sua dureza. Em tratativas intermináveis, os chineses diluíram o quanto puderam o projeto original.

As sanções ampliam o veto ao comércio de armas pesadas com o Irã, expandem o rol de empresas e autoridades iranianas na lista negra internacional ? em especial a Guarda Revolucionária, que controla metade da economia nacional e o programa nuclear ?, restringem as transações financeiras com o país e preveem a inspeção consentida de cargas destinadas ao Irã ou ali embarcadas. É quase unânime, porém, a avaliação de que isso tudo não tornará proibitiva a operação nuclear iraniana, muito menos abalará a posição desafiadora e o poder da teocracia de Teerã.

Já o objetivo de isolar o Irã não teria sido alcançado. Embora Washington tenha conseguido a adesão de Moscou e Pequim, em troca de concessões e recompensas, pela primeira vez um pacote anti-iraniano não foi aprovado por unanimidade ou apenas com abstenções. Brasil e Turquia votaram contra (e o Líbano se absteve). O dissenso reduziu a força simbólica das sanções. E os votos favoráveis da Rússia e China não alteram a intensidade de suas relações econômicas com o Irã. Os russos constroem ali um reator nuclear. Os chineses, principais parceiros comerciais da República Islâmica, procuram petróleo e constroem refinarias no país, cuja economia depende do setor energético em 80%.

Se assim é, por que as sanções? "Porque não sabemos o que mais fazer", responde o diretor do reputado Programa de Segurança Internacional da Universidade Harvard, Steven Miller. Porque os americanos precisam dissuadir Israel de bombardear as instalações nucleares iranianas, especulam outros. Porque o presidente Barack Obama precisava aplacar a oposição, acusam os críticos. Porque ? e esta parece ser a explicação mais plausível ? a resolução abre caminho para as muito mais severas sanções unilaterais que os EUA e países da União Europeia pretendem adotar.

Fica a pergunta: se as represálias não funcionarem, sobra o quê? Uma ação militar, diz o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas americanas, almirante Mike Mullen, seria a "última opção"