Um dos coordenadores da campanha de Dilma, petista justifica alianças e nega ligação com dossiê
Ex-militante de grupos contrários à ditadura militar na juventude ao lado da hoje presidenciável Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel ganhou espaço na campanha da petista em parte por esta ligação. Nas últimas semanas, porém, levou rasteiras de companheiros do grupo paulista liderado pelo coordenador de comunicação, Rui Falcão, e da própria cúpula do PT, que vetou sua candidatura ao governo de Minas para garantir o apoio do PMDB a Dilma. Pimentel diz que o PT se renovou, que o governo Lula trouxe diversos avanços, e que as alianças são o preço que se paga para governar e continuar no Planalto. Ele nega qualquer relação da campanha de Dilma com o suposto dossiê contra o presidenciável tucano, José Serra, que envolveu o jornalista Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicações, até então contratado pelo PT para as eleições. Trata o caso como “um não episódio”, irrelevante, e diz que continuará atuando como um dos coordenadores da campanha de Dilma. Ao final desta entrevista, feita durante visita à redação do GLOBO no Rio, entretanto, pareceu extenuado da ginástica para explicar os últimos episódios: “Vocês me chamaram para um pinguepongue, mas isso aqui foi uma final de tênis em Roland Garros”, brincou.
Maria Lima, Silvia Fonseca e Ascânio Seleme – O GLOBO
O GLOBO: A campanha já começou para valer. Esse episódio do dossiê contamina?
FERNANDO PIMENTEL: Não, a campanha começa dia 5 de julho.
Não acho que tenha contaminação.
Esse episódio é irrelevante, desimportante, e o que está sendo dito não aconteceu.
Até onde sei, é um não episódio.
É uma conversa de um jornalista com um araponga.
Esse episódio está sendo usado internamente pelo chamado grupo paulista para minar seu poder junto a Dilma?
PIMENTEL: Não. Essa suposta guerra interna existe mais fora do que dentro da campanha. Temos ótima convivência, as pessoas estão todas dedicadas ao projeto de eleger a ministra Dilma, e as pessoas que estão sendo mencionadas como meus opositores, ao contrário, são as pessoas com quem tenho mais afinidade. Tanto o Rui Falcão quanto o ex-ministro Palocci são meus amigos fraternos.
O que se diz é que o grupo mais ligado ao mensalão estaria enciumado com uma nova liderança no PT e estaria aproveitando o caso para queimá-lo junto à ex-ministra.
PIMENTEL: Eu desconheço.
Acho que o que está acontecendo, e não tem nada a ver com esse episódio, é um processo visível de renovação do PT. O que é salutar e compartilhado por todas as lideranças lúcidas e responsáveis do partido. O que chamo de renovação? Um partido que está se tornando o grande partido da democracia brasileira.
Não é mais o partido criado há 30 anos com o viés estreito do ponto de vista ideológico, porém necessário naquele momento.
Hoje temos uma democracia sólida. Temos que ser o partido da nova classe média, da classe C que está vindo para a cidadania agora, que representa o que alguns analistas chamam de lulismo, o que não acho que é assim porque não tem culto à personalidade, mas é um sentimento de participação político que precisa ter um canal partidário.
O PT tem de se preparar para ser esse canal.
Na eleição municipal passada, o senhor defendeu aliança com o governador Aécio em Minas, e o partido foi contra. Agora o senhor queria ser candidato ao governo de Minas, e o partido foi contra. O senhor estava errado nos dois casos?
PIMENTEL: Não, veja bem! O partido nacional não vetou nada (em 2008), possibilitou que fizéssemos a aliança com o PSB. O único veto foi à participação do governador Aécio, do PSDB, no nosso programa. Ainda assim ele participou informalmente.
Essa aliança informal com o PSDB contrariou o PT…
PIMENTEL: Uma parte do PT.
Esse episódio está superado.
Mostrou que tínhamos razão, tanto é que a cidade elegeu o candidato que a gente apoiou.
E esse episódio agora, em que o senhor teve que abrir mão da candidatura?
PIMENTEL: É outra coisa. Desde o início, o partido todo sabia que havia um acordo nacional com o PMDB. Foi feito ano passado e é o seguinte: o PMDB vai marchar conosco na eleição nacional, nos dar seu tempo de TV e o candidato a vice na chapa de Dilma. Em troca disso, flexibilizaríamos, como estamos flexibilizando, a nossa posição em todos os estados onde o PMDB tivesse candidatos competitivos, como o Hélio Costa em Minas.
Evidentemente que a militância do PT, embora entenda e aceite, lutou para que eu também, já que disputei as prévias e ganhei do Patrus (Ananias), fosse competitivo.
Cheguei ao ponto de, nas últimas pesquisas, estar empatado.
O que desempatou? O critério da aliança nacional.
Não é um preço alto?
PIMENTEL: É o preço de estarmos aliados como um partido grande como o PMDB.
E esse é o PT novo, identificado com a classe média? Apoiar Hélio Costa, abrir mão de apoiar Flávio Dino no Maranhão, do PCdoB, para apoiar Roseana Sarney?
PIMENTEL: Exatamente disso que eu estava falando. O PT novo é o PT que faz alianças e convive com a realidade política brasileira, buscando transformála, mas não ignorando e reagindo como se fosse um marciano chegando à Terra. Não somos mais um partido que coloca a ideologia como uma máscara, como óculos escuros para não enxergar a realidade política.
Não! Operamos com a realidade política do jeito que ela é, para melhorá-la, para transformá-la.
Foi o que o presidente Lula fez nesses últimos oito anos. Ou o Brasil não melhorou? 80% da população acham que melhorou.
Somos uma democracia sólida.
As instituições funcionam. Nunca víamos governadores presos.
Inegavelmente o governo Lula avançou muito nessa área. E não tiro o mérito dos outros.
A ex-deputada Sandra Starling, fundadora do PT, deixou o partido acusando o presidente Lula de ser um caudilho e dizendo que o PT mineiro tinha que reagir. Esses petistas históricos estão errados?
PIMENTEL: Essa é a opinião da minha amiga e companheira Sandra Starling. A Sandra está afastada da política e do partido há oito anos. Ela tem uma visão que respeito mas não concordo: em vez de se modernizar e buscar se aproximar da realidade concreta do Brasil para transformála, o PT deve voltar ao passado.
Ela se identifica muito com outro antigo companheiro nosso, pelo qual tenho grande cari nho, mas não tenho a menor afinidade política, que é o Plínio de Arruda Sampaio, que foi para o PSOL. Nesse processo de renovação, alguns companheiros vão ficar no passado.
No Maranhão o PT abriu mão da aliança com um aliado histórico, o PCdoB.
PIMENTEL: E há mal em fazer alianças com outros aliados? Eu vejo a configuração política necessária para mantermos no Brasil o projeto hoje liderado pelo presidente Lula e que futuramente será pela ministra Dilma.
Essa é a tônica da eleição. Creio que o PT majoritariamente quer continuar nesta eleição, e, para isso, temos de fazer as alianças que no passado não fizemos.
Roseana e a família Sarney representam um passado muito distante, de 30 anos, muito antes do PT. É uma aliança simbólica muito forte.
PIMENTEL: Vocês estão se queixando do Brasil real, do Brasil do jeito que ele é. O Fernando Henrique, quando foi presidente, teve que fazer aliança com o PFL. Era essa a conjuntura da época. Rendeu-se a isso e fez, e o Brasil avançou rumo à estabilidade econômica. Hoje estamos fazendo o Brasil avançar também, mantendo a estabilidade econômica, do ponto de vista do crescimento econômico, conquistas sociais ao custo de fazer uma aliança que vocês avaliam seja a volta ao passado. Esta é a realidade política do Brasil.
O senhor acha que os petistas vão votar no Hélio Costa?
PIMENTEL: Acho que o voto do PT mais fiel será na chapa do Hélio Costa para governador e no meu nome para senador. Por que os petistas vão se envolver? Porque é a chapa que representa a candidatura da ministra Dilma e do presidente Lula em Minas Gerais.
Patrus não quer ser o vice do Hélio Costa, já avisou que não é o salvador da pátria.
PIMENTEL: O meu compa nheiro e amigo Patrus Ananias está com uma opinião, que respeito, que é o pensamento pessoal dele.
Está dizendo assim: Eu prefiro não ser candidato a nada, quero voltar ao trabalho com os movimentos sociais, conviver com a família. E quando insistiram com o negócio de vice, ele disse: e além do mais eu não sou salvador da pátria.
O senhor vai fazer campanha ou coordenar a campanha da ministra Dilma?
PIMENTEL: As duas coisas. A campanha do Senado lá em Minas é um pouco a campanha da ministra Dilma. Nacionalmente vou ter menos tempo, mas hoje fico dois dias em Brasília. Acho que não tem muito prejuízo. Posso continuar fazendo isso. Temos dois companheiros com dedicação integral, que são o Dutra e o Palocci, que não são candidatos.
E com eles tenho afinidade enorme.
O senhor falou do Lulismo.
Patrus era o ministro responsável pelo principal programa do governo, o Bolsa Família, e não consegue ter a candidatura que desejava. A ministra foi uma escolha pessoal do Lula. O PT não está diminuindo diante da preponderância da vontade do presidente Lula?
PIMENTEL: Vamos separar. O PT tem hoje 25% da chamada preferência partidária, espontaneamente.
O PMDB, 7%, e o PSDB, 5%. Isso é uma coisa fantástica.
Como dizer que está enfraquecido? PT fica cada vez mais forte no pensamento dos que se interessam por política.
O PT é um partido muito forte.
É governo.
PIMENTEL: Não é porque é governo. Foi construindo isso ao longo de 30 anos e foi se tornando cada vez mais um partido próximo do Brasil real, ainda que tenhamos companheiros que ainda pensam com a cabeça do início do século XX.
Ou do início do PT.
PIMENTEL: Ou do início do PT, se você assim quiser. Mas o ministro do principal programa tem sim direito de ser candidato.
Ocorre que o Patrus perdeu a prévia para mim, então ele não pode ser candidato a governador. A deputado federal, ou estadual, sim, só que ele não quer.
O senhor diz que o PT é um partido muito forte, mas o fato é que, nos três principais colégios eleitorais, não tem hoje um candidato competitivo.
PIMENTEL: Esse é o outro lado da moeda de ter o principal posto do país, que é a Presidência da República. Como temos uma grande liderança política, o presidente Lula, um homem convictamente democrático, ele não usou os 8 anos para aparelhar os estados para que seu partido tivesse os candidatos competitivos e tirar da cena os outros partidos.
Qual a maior dificuldade que a ministra Dilma pode enfrentar na campanha?
PIMENTEL: Vou fazer uma blague mas vocês vão publicar. É uma brincadeira: a maior dificuldade será contar a avalanche de votos que ela vai ter (risos).
Acho que, na campanha, dificuldade é difícil, porque está tudo indo bem.
Será difícil ela ir a debates? Ela está cancelando…
PIMENTEL: Não. Não tem dificuldade.
Temem algum erro dela?
PIMENTEL: Não! Acho que a Dilma está cada dia melhor. Não tem mesmo experiência eleitoral.
Mas, para quem não tem experiência eleitoral, está se saindo muito bem. Pode ter cometido um deslize aqui, outro ali, eu nunca vi um maior. Está se aprimorando.
Não esperem nenhum erro brutal nem da Dilma nem da campanha que comprometa sua eleição.
Como esse do dossiê?
PIMENTEL: Mas isso nem existe.
Imagine isso a uma semana da eleição…
PIMENTEL: Mas isso não existe! Nada que vincule a précampanha de Dilma com esse episódio.
O delegado Onézimo, que veio a público dizer que a campanha estava comprando um dossiê…
PIMENTEL: Um delegado aposentado da PF conhecido como araponga tem um encontro com um jornalista que dá uma versão desse encontro.
Foi um erro do Lanzetta (o jornalista que trabalhava para o PT) ir a esse encontro?
PIMENTEL: O jornalista dá outra versão corroborada pelos outros dois ou três presentes.
Mas é grave uma pessoa da campanha ir lá conversar com um araponga, não?
PIMENTEL: Eu não vejo o que a campanha tem a ver com isso.
O jornalista tem uma empresa de comunicação.
Mas ele trabalha junto com a coordenação da campanha da Dilma.
PIMENTEL: E daí? Nós somos responsáveis pela atitudes que o contratado toma?
Mas ele não foi lá como jornalista.
Ele foi como contratado da campanha.
PIMENTEL: Essa afirmação sua eu devo desmentir categoricamente: o jornalista Luiz Lanzetta jamais foi autorizado a procurar ninguém por essa campanha. Até porque nenhum de nós tinha conhecimento que ele ia ter contato com araponga ou com quem seja. Se fez, ele errou, não podia ter feito. Mas acredito no que ele está dizendo: que não o fez. Ele procurou esse sujeito a convite do próprio Onézimo.
Num eventual governo Dilma ela teria pulso para evitar o toma-lá-da-cá do PMDB e outros aliados?
PIMENTEL: Pelo que vejo na imprensa, dizem que ela é extremamente dura e rígida.
Acho que não vamos ter risco de que essa aliança se transforme num governo moralmente frouxo.
O PT vai ter mais influência num eventual governo Dilma do que teve no governo Lula?
PIMENTEL: Não me parece que vai ter tanta diferença em relação ao que é hoje. Não é por causa das personalidades.
A Dilma tem relação cada vez melhor com o partido e tem uma formulação própria dela também.
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