Luiz Antônio Alves
Correspondente da Agência Brasil na Argentina
Buenos Aires - O assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia citou hoje (10) declarações do presidente Barack Obama, segundo o qual a força moral dos Estados Unidos é um importante componente de sua presença internacional, juntamente com o poderio militar e o econômico do país. Para Marco Aurélio, desde ontem (9), os Estados Unidos perderam essa força, com o peso do país no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) influenciando na aplicação de sanções ao Irã.
Em visita à capital argentina, onde fez palestra a convite da Fundação Jean Jauès, Marco Aurélio disse que o Brasil não está "bravo" com os Estados Unidos por sua forte atuação no conselho, mas que houve uma divergência.
"No passado, quando valia a política do 'sim, senhor', achava-se que tudo tinha que ser resolvido em comum acordo com os Estados Unidos. E agora eles fizeram o que estavam acostumados a fazer." Garcia acredita que os EUA vão pagar um preço por isso. "Não é o Brasil que saiu ganhador moral dessa briga. Os Estados Unidos é que são os perdedores morais."
Com as sanções, perdeu-se uma grande oportunidade de negociação, afirmou Garcia. "Mais do que isso, deu-se um mau exemplo de como se enfrenta o problema." Para ele, as restrições ao Irã podem ser ineficazes e solidificar as forças políticas no país, uma vez que pressões externas tendem a ampliar o apelo à nacionalidade. Ele descarta, porém, consequências nas relações do Brasil com as potências do Conselho de Segurança da ONU por causa de tais divergências.
Segundo ele, o Brasil tem relações muito boas com alguns países e alianças estratégicas com outros. "Não concordamos com as sanções ao Irã, mas isso demonstra o que são as relações internacionais hoje. Não há mais alinhamento incondicional. Queremos debater. No caso do Irã, queríamos o debate, porque senão pareceria uma posição irresponsável da Turquia e do Brasil fazer um enorme sacrifício, deslocar o presidente [Lula] até o país, empenhar nosso prestígio internacional, fazer uma mobilização que teve grande visibilidade internacional para, em seguida, deixar de defender o acordo com o Irã."
De acordo com Garcia, o acordo sobre o programa nuclear iraniano teve um aspecto importante: "Nós criamos uma coisa que em política internacional é fundamental, que é constituir confiança com um país que estava desacreditado. Se alguém acha que para o Irã foi fácil tomar a decisão que tomou [assinar o acordo com o Brasil e a Turquia], não foi. Foi muito difícil", lembrou o assessor presidencial. Segundo ele, foram dois dias de muitas reuniões e discussões com os líderes iranianos. "Era visível que eles tinham problemas internos que não não estavam conseguindo aplainar."
O Brasil não participou do acordo com o Irã por um acesso de megalomania, disse ele. "Foi porque existe um componente universalista em nossa política externa que queremos levar à prática. Se não fizermos isso, a política externa é apenas um exercício retórico. Política internacional é isso: tem de ter credibilidade e estar apoiada em iniciativas concretas".
Ele classificou de "retórica" a declaração do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de que jogará "no lixo" a decisão da ONU de impor sanções ao país. "Acho que a expressão disso é a seguinte: se o objetivo das sanções era frear o programa nuclear iraniano - para fins pacíficos, bélicos ou quaisquer outros - vai dar exatamente o contrário. Anotem: exatamente o contrário."
Garcia acrescentou que a política externa brasileira continua a mesma, porque não se resume ao Irã. "Temos uma agenda global amplíssima. Temos a reunião do G20, onde o presidente Lula vai vocalizar uma série de posições sobre a crise internacional e os caminhos para sair dela. Tem muita coisa pela frente."
Sobre a situação em Honduras, ele disse que o Brasil continua apoiando o ex-presidente Manuel Zelaya, deposto no ano passado. "Nós dissemos claramente o seguinte: se o presidente Porfirio Lobo reintegrar Zelaya plenamente na vida política e anistiá-lo, não teremos nenhum problema para que Honduras volte a integrar a Organização dos Estados Americanos (OEA)".
Edição: Nádia Franco
Correspondente da Agência Brasil na Argentina
Buenos Aires - O assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia citou hoje (10) declarações do presidente Barack Obama, segundo o qual a força moral dos Estados Unidos é um importante componente de sua presença internacional, juntamente com o poderio militar e o econômico do país. Para Marco Aurélio, desde ontem (9), os Estados Unidos perderam essa força, com o peso do país no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) influenciando na aplicação de sanções ao Irã.
Em visita à capital argentina, onde fez palestra a convite da Fundação Jean Jauès, Marco Aurélio disse que o Brasil não está "bravo" com os Estados Unidos por sua forte atuação no conselho, mas que houve uma divergência.
"No passado, quando valia a política do 'sim, senhor', achava-se que tudo tinha que ser resolvido em comum acordo com os Estados Unidos. E agora eles fizeram o que estavam acostumados a fazer." Garcia acredita que os EUA vão pagar um preço por isso. "Não é o Brasil que saiu ganhador moral dessa briga. Os Estados Unidos é que são os perdedores morais."
Com as sanções, perdeu-se uma grande oportunidade de negociação, afirmou Garcia. "Mais do que isso, deu-se um mau exemplo de como se enfrenta o problema." Para ele, as restrições ao Irã podem ser ineficazes e solidificar as forças políticas no país, uma vez que pressões externas tendem a ampliar o apelo à nacionalidade. Ele descarta, porém, consequências nas relações do Brasil com as potências do Conselho de Segurança da ONU por causa de tais divergências.
Segundo ele, o Brasil tem relações muito boas com alguns países e alianças estratégicas com outros. "Não concordamos com as sanções ao Irã, mas isso demonstra o que são as relações internacionais hoje. Não há mais alinhamento incondicional. Queremos debater. No caso do Irã, queríamos o debate, porque senão pareceria uma posição irresponsável da Turquia e do Brasil fazer um enorme sacrifício, deslocar o presidente [Lula] até o país, empenhar nosso prestígio internacional, fazer uma mobilização que teve grande visibilidade internacional para, em seguida, deixar de defender o acordo com o Irã."
De acordo com Garcia, o acordo sobre o programa nuclear iraniano teve um aspecto importante: "Nós criamos uma coisa que em política internacional é fundamental, que é constituir confiança com um país que estava desacreditado. Se alguém acha que para o Irã foi fácil tomar a decisão que tomou [assinar o acordo com o Brasil e a Turquia], não foi. Foi muito difícil", lembrou o assessor presidencial. Segundo ele, foram dois dias de muitas reuniões e discussões com os líderes iranianos. "Era visível que eles tinham problemas internos que não não estavam conseguindo aplainar."
O Brasil não participou do acordo com o Irã por um acesso de megalomania, disse ele. "Foi porque existe um componente universalista em nossa política externa que queremos levar à prática. Se não fizermos isso, a política externa é apenas um exercício retórico. Política internacional é isso: tem de ter credibilidade e estar apoiada em iniciativas concretas".
Ele classificou de "retórica" a declaração do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de que jogará "no lixo" a decisão da ONU de impor sanções ao país. "Acho que a expressão disso é a seguinte: se o objetivo das sanções era frear o programa nuclear iraniano - para fins pacíficos, bélicos ou quaisquer outros - vai dar exatamente o contrário. Anotem: exatamente o contrário."
Garcia acrescentou que a política externa brasileira continua a mesma, porque não se resume ao Irã. "Temos uma agenda global amplíssima. Temos a reunião do G20, onde o presidente Lula vai vocalizar uma série de posições sobre a crise internacional e os caminhos para sair dela. Tem muita coisa pela frente."
Sobre a situação em Honduras, ele disse que o Brasil continua apoiando o ex-presidente Manuel Zelaya, deposto no ano passado. "Nós dissemos claramente o seguinte: se o presidente Porfirio Lobo reintegrar Zelaya plenamente na vida política e anistiá-lo, não teremos nenhum problema para que Honduras volte a integrar a Organização dos Estados Americanos (OEA)".
Edição: Nádia Franco
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