Lula e o povo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou o ritmo de viagens pelo Brasil no último mês de governo. As despedidas ao estilo Silvio Caldas têm sido criticadas.Para alguns, Lula estaria quebrando a liturgia do cargo, comportando-se como um caudilho que não consegue suportar a perda das mordomias presidenciais.Na opinião de outros, ele seria emotivo demais para um cargo que exigiria maior compostura. Fala-se até em desrespeito institucional.
São críticas injustas. Mais uma vez, o presidente é subestimado. Atribuem a ele intenções menores, como se o contato com a população fosse uma manipulação e não um sentimento real.
Ora, Lula é um presidente com uma trajetória pessoal e política diferente dos que governaram antes. É o primeiro metalúrgico eleito para comandar o país. Não esconde que é emotivo, chorão. Fala que governa com o coração. Nunca quis se comportar como um intelectual ou um lorde na Presidência.
Nos dias 13 e 14 de dezembro, em viagem ao Ceará, Paraíba e Pernambuco, Lula fez discursos e gestos civilizadores do ponto de vista político.
Em Missão Velha (CE), falou para uma multidão que aguardava sua chegada numa estação de trem. Ele havia andado no vagão de passageiros VIPs da ferrovia Transnordestina. Encontrou homens e mulheres sorrindo e chorando ao ver um presidente com o qual se identificavam.
No característico estilo informal, deixou o discurso escrito de lado e improvisou. Disse que os nordestinos tinham o direito de ambicionar ser mais do que serventes de pedreiro em São Paulo. Subiu o tom de voz para afirmar que podiam sonhar em ser médicos, arquitetos, advogados. Retratava a sua própria história. Desceu do palanque e foi abraçar, beijar e tirar foto com quem quisesse.
Na visita a São José de Piranhas (PB), andou dentro de um túnel que está no começo da construção. Quando ficar pronta, em 2012, a obra servirá de leito à transposição das águas do rio São Francisco. Terá 15 quilômetros.
Informado de que um grupo aparecera fora do roteiro, ele, mesmo atrasado, foi falar com cerca de 100 pessoas _a maioria funcionários da obra e seus familiares. Um adolescente veio com o pai e a mãe de João Pessoa (horas de carro em estrada ruim) para conhecer o presidente. Os dois se abraçaram e choraram.