Retirado do Blog O Descurvo
31 Anos de PT
O Partido dos Trabalhadores completa hoje 31 anos. No ano do seu 30º aniversário, o PT venceu a terceira eleição presidencial consecutiva, fez a maior bancada na Câmara, garantiu a segunda posição no Senado, elegeu um número expressivo de deputados estaduais - e seus aliados governam a maior parte dos estados - além de ter terminado o ano, segundo nos informa o TSE, com o segundo maior número de filiados, quase 1,4 milhão, perdendo apenas para o PMDB.
Não, 2010, não marcou nenhuma vitoriosa avassaladora do Partido, mas lhe manteve na liderança da esquerda partidária com confortável margem de segurança, além do fato de que a ampla aliança com a qual governa o país não apenas persistiu como também saiu fortalecida do pleito.
Os êxitos do Governo Lula em seu segundo mandato não apenas foram o carro chefe que assegurou a vitória de Dilma Rousseff como, também, estancaram parte da grave crise interna vivida nos primeiros anos do partido no Governo Federal - ao passo que também mascararam tantos outros problemas existentes.
O PT entra em sua quarta década de existência sem ter perdido o seu ethos de vanguarda de esquerda democrática, uma experiência única no mundo, que não se confunde com o socialismo oriental - e sua ortodoxia por vezes autoritária - nem com o socialismo ocidental - no qual, entretanto, não deixa de ter os pés fincados, mesmo que como alternativa à social-democracia (ainda que no Governo Lula, o que se viu foi um típico com governo social-democrata com mais um espírito inovador incomum para uma social-democracia).
Isso não quer dizer que seus anos no Poder - bem como as experiências em grandes governos municipais e estaduais - não tenham transformado inúmeros aspectos da sua vida; o Estado brasileiro mudou para melhor com o PT no poder, mas a recíproca também é verdadeira: O Estado também mudou o PT para pior por dentro. A máquina partidária petista cresceu absurdamente e, ao mesmo tempo em que combatia uma tentativa de modernização conservadora do país - uma grande contemporização, como se viu com FHC ou mesmo dentro do PMDB pós-ditadura -, ele também aumentava as conexões com o sistema econômico e político em relação ao qual exercia essa função contra-hegemônica.
Por outro lado, as agremiações mais à esquerda, sejam as históricas ou as nascidas de cisões do próprio PT, não conseguem achar o seu lugar em meio ao debate nacional, circunscritas a um eleitorado pequeno, uma boa dose de boas intenções, algumas boas ideias e uns bons tropeções - referentes, em geral, à própria democracia interna, coisa que criticavam no próprio PT.
O modelo petista, em sua originalidade, pôs em xeque as tentativas de reprodução da centro-esquerda europeia - um esquerdismo moderado de classe média que levava acadêmicos a considerarem a existência de operários, mas que nunca levaria operários ao poder - do mesmo modo que frustrou as alternativas ortodoxas (anteriores ou posteriores à sua existência), o que empurrou os primeiros para a direita - por não lhes deixar espaço à esquerda nem eles quererem abrir mão do seu projeto de poder - e relegou os outros à insignificância eleitoral - o que explica muito da crise pela qual passam partidos como o próprio PSDB ou mesmo PSOL e PCB - para não dizer os casos de PSB e PDT que operam como linhas auxiliares do PT de hoje.
Se por dentro o partido está mais engessado do que antes - em nome de razões de Estado às vezes insensatas -, por outro lado, a persistência de confrontações duras demonstra que os anos Lula não foram capazes de pôr fim às crises existenciais do Partido - e tampouco foi capaz de criar uma práxis interna capaz de lidar com as diferenças de modo construtivo -; o jogo é duro e as decisões gerais são costuras complexas visando manter o equilíbrio interno, ao mesmo tempo em que buscam responder às demandas externas (normalmente maiores, mas menos complexas do que as questões internas). Frente à esquerda tradicionalista e à direita - seja a mais ou a menos moderada -, o PT nada de braçadas como pólo inventivo, por mais senões que isso possa implicar: Com o perdão da paráfrase, hoje faz aniversário o pior partido brasileiro, com exceção de todos os outros e que é, por sinal, o grande adversário de si mesmo.
P.S.: Atualmente, o grande desafio petista é, sem dúvida, não ser engolido pelas mudanças que produziu - como já colocamos aqui - além de encontrar permanentemente o novo - como Lula, apesar dos seus tropeços, conseguiu - como o encerramento do seu segundo mandato prova. Por ora, seu equilíbrio interno não aponta para grandes mudanças no horizonte, mas a ebulição é permanente.
Por Hugo Albuquerque
Um comentário:
Postei em meu blog um conselho de Mao que seria ótimo para o ex-presidente. Se puder me faça uma visita.
http://pensamentosduneto.blogspot.com/
Um abraço!
Postar um comentário