segunda-feira, 21 de março de 2011

Professores "novatos" de SP desistem de dar aulas porque não suportam as condições de trabalho

A Folha de São Paulo fez uma matéria falando da desistência dos professores novatos das escolas públicas do estado de São Paulo (veja abaixo). Entretanto, as condições de trabalho de um professor da rede pública de ensino de São Paulo não diferem muito do restante do País. Aqui, no Rio Grande do Norte , por exemplo, um professor tem salário inicial que não chega a 900,00 R$; salas superlotadas (no mínimo 40 alunos por turma - Ensino Médio); 24 horas em sala de aula + 6 Horas extra-classe ( para reuniões pedagógicas, corrigir atividades e provas, fazer planos de aulas, pesquisar, organizar cadernetas, etc.); além do desinteresse dos alunos, da falta de disciplina e  respeito para com o professor. Ou seja, é dose para elefante. Sendo que o resultado, para quem não vislumbra  trocar de profissão,  é baixa estima e depressão.


Retirado do Blog do Luis Nassif 


As desistências dos professores de SP

Enviado por luisnassif, seg, 21/03/2011 - 12:49

Detalhe: embora as razões para a desistência sejam expressivas, para analisar a relevância da matéria é preciso avaliar o percentual de desistência em relação ao total de concursados.

Da Folha

Professor "novato" desiste de aulas na rede estadual

Por dia, dois docentes recém-concursados abandonam escolas em São Paulo

Principal reclamação é sobre falta de estrutura na rede; governo afirma que desistências estão dentro do esperado

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Formado na USP, Edson Rodrigues da Silva, 31, foi aprovado ano passado no concurso público da rede estadual para ensinar matemática. Passou quatro meses no curso preparatório obrigatório do Estado para começar a lecionar neste ano no ABC paulista. Ao final do primeiro dia de aula, desistiu.

"Vi que não teria condições de ensinar. Só uma aluna prestou atenção, vários falavam ao celular. E tive de ajudar uma professora a trocar dois pneus do carro, furados pelos estudantes. Se continuasse, iria entrar em depressão. Não vale passar por isso para ganhar R$ 1.000 por 20 horas na semana."

Silva diz que continuará apenas na rede privada. Como ele, outros efetivados neste ano pelo governo já desistiram das aulas, passados apenas 39 dias do início das aulas, sendo 25 letivos.

Até sexta-feira, 60 já haviam finalizado o processo de exoneração, a pedido, média de mais de dois por dia letivo. Volume não informado pela Secretaria da Educação está com processo em curso.

A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) diz ser normal o número de desistências, considerando a quantidade de efetivações (9.300). Educadores, porém, discordam.

Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Marcia Malavasi, "o cenário é triste; especialmente na periferia, os professores encontraram escolas sem estrutura, profissionais mal pagos, amedrontados e desrespeitados."

DESMOTIVAÇÃO

As desistências têm diferentes motivações. Entre as principais citadas por exonerados ouvidos pela Folha estão falta de condições de trabalho (salas lotadas, por exemplo), desinteresse de alunos e baixos salários.

"Muitos alunos não apresentam condições mínimas para acompanhar o ensino médio e têm até uma postura agressiva com o professor", disse Juliana Romero de Mendonça, 25, docente de química. "A realidade da escola é diferente da mostrada no curso", afirmou Gilson Lopes Silva, 30, de filosofia.

O concurso selecionou docentes de todas as matérias do final dos ensinos fundamental e médio, séries com muitos temporários e mais problemas de qualidade.

Para Maria Izabel Noronha, presidente do sindicato do magistério, além de condições precárias da rede, "a formação nas universidades não é satisfatória, pois elas trabalham com uma escola irreal, de alunos quietinhos". Ela exige que o Estado dê mais tempo aos docentes para a formação em serviço.

Estado diz que saída de docentes é normal

Professores aprovados podem ter usado exame para aumentar pontuação em outros concursos, afirma secretaria

Para governo, carreira está atrativa e oferece bônus e reajuste com base no mérito; salário inicial é de R$ 1.834

DE SÃO PAULO

A Secretaria da Educação informou que considera normal o volume de docentes novatos que desistiu da rede.
A pasta afirmou que devem sair do sistema 10% dos recém-efetivados (cerca de 900 professores), mas não informou em qual prazo podem ocorrer as exonerações.

Segundo a gestão Geraldo Alckmin (PSDB), nem as condições de trabalho oferecidas nem os salários da rede são as causas das desistências.

A secretaria aponta como explicações a situação pessoal de cada professor, como quem arrumou outro emprego ou só queria o certificado de aprovação, que pode ajudar em concursos futuros.

Para o governo, a carreira está atrativa, por conta do bônus por desempenho (que pode chegar a 2,4 salários) e do reajuste com base no mérito (ano passado, 20% dos professores com as melhores notas numa prova ganharam 25% de reajuste). O salário inicial é de R$ 1.834 (jornada de 40 horas semanais).

A professora recém-efetivada Ana Paula dos Santos, 28, elogiou as condições da rede. "Posso fazer aulas diferentes com datashow ou na sala de informática. Se o professor montar uma boa aula, os alunos vão se interessar", disse ela, que leciona biologia em colégio estadual da zona norte de São Paulo.

A secretaria disse ainda que alunos que estudariam com docentes desistentes não ficarão sem aula, pois há reposição com temporários.

E esses professores provisórios serão substituídos no ano que vem, quando devem entrar nas escolas estaduais 25 mil novos concursados, também aprovados no concurso do ano passado.

Desde 2004, a rede estadual não contava com um concurso tão amplo para efetivar professores do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio. (FT)

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