Está virando moda culpar os professores pelos maus resultados na educação.
Já tive a oportunidade de responder aqui à pérola verbalizada pela  hoje secretária de educação do município do Rio de Janeiro, quando ela  afirmou que “quando um alunos é reprovado, é sinal que o professor falhou”.
Mas os devaneios continuam.
Há pouco foi a vez do vereador Burro afirmar que professor não serve pra nada.
E, constantemente, um  economista que pensa que entende de educação, mas que na verdade  entende de “como não gastar dinheiro com a educação, diga-se, com os  professores”, persegue os professores como se estes fossem os culpados dos pífios índices que o Brasil alcança.
Ora, é um erro colocar somente na mão do professor o aprender do aluno.
O aprendizado vai muito além e envolve uma série de coisas.
Uma coisa é o professor com poucos alunos, com muita estrutura, com  tempo disponível para planejar e estudar suas aulas, com alunos que têm  atendidas suas condições mínimas de cidadania.
Outra coisa é o que temos.
Se os “donos” do dinheiro, os fantásticos fazedores de leis, os  secretários que se dizem educadores não atentarem para isso vamos ficar  mais algumas décadas martelando a madeira sem prego ou dando murros em  ponta de faca, sem tentar mexer no que realmente é necessário para que as crianças possam melhorar seu rendimento escolar.
[Se é que já não se atentaram para isso e fazem de propósito, se é que vocês me entendem…]
O que quero dizer é que, muito além dos professores – os quais, ao  contrário do que versa o imaginário popular construído por esses  sacripantas, em sua imensa maioria fazem seu trabalho da melhor maneira  que lhes é possível fazer – há inúmeras outras variáveis que influenciam  nos baixos índices de Ideb, reprovações ou qualquer outro aspecto que  queiram.
Dentre elas, por exemplo, o local onde elas moram. Vejam o artigo Como comparar performances?, que fiz baseado em uma pesquisa que atestou isso – a ciência corroborando o saber popular e de experiência.
Mas não é só isso.
A família, independente de como ela é, faz enorme diferença se ela ajuda o filho ou não em seus estudos.
Pode perguntar em qualquer escola: os melhores alunos, em geral, são  aqueles os quais a família está sempre presente – nas reuniões, fora das  reuniões, querendo saber, procurando os professores – e está  interessada nos estudos de seu filho.
E isso não é coincidência.
Nós, professores, temos pouco poder neste sentido. O que podemos  fazer, fazemos, conversando, dando conselhos, chamando os responsáveis  sempre que necessário, parabenizando aqueles que fazem seu trabalho.
Muitos outros fatores influenciam o aprendizado, quase todos eles em  poder dos políticos e seus indicados [classe do vereador Dario Burro], e  que eles não oferecem decentemente às crianças: pré-natal, saúde,  alimentação, moradia decente, segurança, liberdade…
São os elementos que aponto à secretária na Carta aberta, citada anteriormente.
Querer colocar a culpa da má educação somente nos professores –  colocando as famílias somente como vítimas e o phoder público como  aquele que tenta, tenta e tenta, mas não é correspondido pelos  trabalhadores, é maquiavélico.
É um trabalho em conjunto em que os professores são aqueles que estão  na ponta, no front de batalha. Mas não são os culpados de o país perder  a guerra.
Seria como culpar o médico pela falência da saúde pública, antro de  corrupção, de desvio de dinheiro, de hospitais sucateados, etc. [apesar  de sabermos da existência de maus profissionais entre os da saúde].
Ou querer culpar o gari pela sujeira das ruas.
Ora, a Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro, é varrida 6 vezes por dia!
E, se você passar por lá, a qualquer hora, verá um monte de lixo no chão.
A culpa é dos garis? Claro que não!
Mas, na visão dos secretários de educação e dos economistas  especialistas em educação, a culpa deve ser dos professores, que não  educaram a população…
Abraços,
 Declev Reynier Dib-Ferreira
Fonte: Diário do Professor 
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