sábado, 20 de agosto de 2011

Culpar os professores é fácil… assim como culpar o gari pela sujeira das ruas ou os médicos pela falência da saúde pública

por Declev Dib-Ferreira

Está virando moda culpar os professores pelos maus resultados na educação.

Já tive a oportunidade de responder aqui à pérola verbalizada pela hoje secretária de educação do município do Rio de Janeiro, quando ela afirmou que “quando um alunos é reprovado, é sinal que o professor falhou”.

Mas os devaneios continuam.




Ora, é um erro colocar somente na mão do professor o aprender do aluno.

O aprendizado vai muito além e envolve uma série de coisas.

Uma coisa é o professor com poucos alunos, com muita estrutura, com tempo disponível para planejar e estudar suas aulas, com alunos que têm atendidas suas condições mínimas de cidadania.

Outra coisa é o que temos.

Se os “donos” do dinheiro, os fantásticos fazedores de leis, os secretários que se dizem educadores não atentarem para isso vamos ficar mais algumas décadas martelando a madeira sem prego ou dando murros em ponta de faca, sem tentar mexer no que realmente é necessário para que as crianças possam melhorar seu rendimento escolar.

[Se é que já não se atentaram para isso e fazem de propósito, se é que vocês me entendem…]

O que quero dizer é que, muito além dos professores – os quais, ao contrário do que versa o imaginário popular construído por esses sacripantas, em sua imensa maioria fazem seu trabalho da melhor maneira que lhes é possível fazer – há inúmeras outras variáveis que influenciam nos baixos índices de Ideb, reprovações ou qualquer outro aspecto que queiram.

Dentre elas, por exemplo, o local onde elas moram. Vejam o artigo Como comparar performances?, que fiz baseado em uma pesquisa que atestou isso – a ciência corroborando o saber popular e de experiência.

Mas não é só isso.

A família, independente de como ela é, faz enorme diferença se ela ajuda o filho ou não em seus estudos.

Pode perguntar em qualquer escola: os melhores alunos, em geral, são aqueles os quais a família está sempre presente – nas reuniões, fora das reuniões, querendo saber, procurando os professores – e está interessada nos estudos de seu filho.

E isso não é coincidência.

Nós, professores, temos pouco poder neste sentido. O que podemos fazer, fazemos, conversando, dando conselhos, chamando os responsáveis sempre que necessário, parabenizando aqueles que fazem seu trabalho.

Muitos outros fatores influenciam o aprendizado, quase todos eles em poder dos políticos e seus indicados [classe do vereador Dario Burro], e que eles não oferecem decentemente às crianças: pré-natal, saúde, alimentação, moradia decente, segurança, liberdade…

São os elementos que aponto à secretária na Carta aberta, citada anteriormente.

Querer colocar a culpa da má educação somente nos professores – colocando as famílias somente como vítimas e o phoder público como aquele que tenta, tenta e tenta, mas não é correspondido pelos trabalhadores, é maquiavélico.

É um trabalho em conjunto em que os professores são aqueles que estão na ponta, no front de batalha. Mas não são os culpados de o país perder a guerra.

Seria como culpar o médico pela falência da saúde pública, antro de corrupção, de desvio de dinheiro, de hospitais sucateados, etc. [apesar de sabermos da existência de maus profissionais entre os da saúde].

Ou querer culpar o gari pela sujeira das ruas.

Ora, a Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro, é varrida 6 vezes por dia!

E, se você passar por lá, a qualquer hora, verá um monte de lixo no chão.
 
A culpa é dos garis? Claro que não!

Mas, na visão dos secretários de educação e dos economistas especialistas em educação, a culpa deve ser dos professores, que não educaram a população…

Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira

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