sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A galinha ruiva do petróleo

Reproduzido do site Projeto Nacional

Por: Fernando Brito



A colunista Miriam Leitão, hoje, abre o jogo em relação à Petrobras.

Em resumo, diz ela em sua coluna, com auxílio de “fontes” escolhidas, que as ações da Petrobras estão caindo porque: 

1. a empresa não está reajustando os preços da gasolina, para ajudar a segurar a inflação;

2. a Petrobras pagou caro à União pelos barris de petróleo usados na capitalização da empresa;


3. Efeito da mudança de regime de concessão para o de partilha, na exploração do pré-sal e

4. a obrigatoriedade de contratação de 65% de conteúdo nacional para a produção e exploração de petróleo.


Ponto a ponto, olhemos estas questões.

Quando o petróleo baixou – e baixou quase à metade do preço, com a crise mundial no final de 2008 – a empresa não baixou os preços para forçar uma baixa da inflação. Você pode ver aí neste gráfico, publicado em 2009 pelo UOL, registrando que o preço do petróleo havia caído a um terço do anterior e não tinha havido queda . Como antes havia triplicado e também não teve aumento interno.

Portanto, o que existe é uma política compensatória, que tem horas boas e más para a Petrobras. Mas que garante a tão cantada “estabilidade econômica”, no médio e longo prazos.

Qual é a política diferente que se poderia seguir? A livre flutuação do preço, que é o que temos no etanol, com os resultados que qualquer brasileiro conhece.

Se é isso que D. Miriam defende, que o faça sem meias palavras e veja o que dizem seus leitores.

O segundo ponto é o preço pago pela Petrobras pelos cinco bilhões de barris cedidos pela União durante a capitalização. O preço foi fixado em US$ 8,51 por barril, ao qual devem-se acrescer o custo de exploração e produção – estimado ano passado pela Fundação Getúlio Vargas em US$ 14 o barril.

Este, portanto, é o custo bruto do petróleo das áreas cedidas. Como a parcela da União no modelo de partilha dependerá do preço em que o petróleo estiver cotado, mesmo o preço do barril a improbabilíssimos US$ 45 torna lucrativa sua exploração.

E o preço do barril hoje anda na média entre os diversos tipos, de US$ 90 por barril. Se o Governo disser que cede reserva de petróleo a US$ 8,51 o barril, as multinacionais fazem fila na porta para comprar.

A terceira razão é, traduzindo com simplicidade, entregar o pré-sal às multinacionais. Que, aliás, podem participar da exploração com a regra da partilha, com até 70% em sociedade com a Petrobras, desde que a exploração fique sob controle da empresa brasileira.

A gente reproduz a distribuição mundial dos modelos de concessão e de partilha e repare que a partilha é dominante em todo o planeta, sem que nenhuma multinacional fuja por causa disso.



A última razão, a questão do conteúdo nacional, é o “modo Agnelli” de pensar: compramos pronto, lá fora. O Brasil é bom pra produzir soja e açúcar, bom para exportar minério bruto, e não navios, sondas, plataformas, equipamentos e tecnologia, não é?

Esqueçam as dezenas de empresas que vieram se instalar aqui e as milhares de outras que estão nascendo e crescendo por conta disso, esqueçam os empregos que elas geram e gerarão, esqueçam o renascimento da indústria naval…

Toda a lenga-lenga destes “especialistas” de que se socorre a colunista de O Globo para explicar o preço baixo das ações da Petrobras em bolsa não tem nada a ver com a verdadeira razão do preço das ações da Petrobras estar baixo.

É que embora a empresa continue lucrando muito (lucro líquido em 2010 de R$ 35,2 bilhões ) está investindo o dobro disso por ano na ampliação de suas atividades. É obvio que esse investimento se refletirá em lucros, como reconhece – claro que nos dois últimos parágrafos – a própria coluna, mas no médio prazo.

E os “investidores”, aqui, são do tipo “fast food”.

Eu, modestamente, recomendaria para entender o que está se passando com o mercado e a Petrobras, a historinha infantil “A galinha ruiva”, que relembro abaixo, pedindo atenção para o final:

“Um dia uma galinha ruiva encontrou um grão de trigo.

- Quem me ajuda a plantar este trigo? – perguntou aos seus amigos.
- Eu não – disse o cão.
- Eu não – disse o gato.
- Eu não – disse o porquinho.
- Eu não – disse o peru.
- Então eu planto sozinha – disse a galinha. – Cocoricó!

E foi isso mesmo que ela fez. Logo o trigo começou a brotar e as folhinhas, bem verdinhas, a despontar. O sol brilhou, a chuva caiu e o trigo cresceu e cresceu, até ficar bem alto e maduro.
 
- Quem me ajuda a colher o trigo? – perguntou a galinha aos seus amigos.
- Eu não – disse o cão.
- Eu não – disse o gato.
- Eu não – disse o porquinho.
- Eu não – disse o peru.
- Então eu colho sozinha – disse a galinha. – Cocoricó!

E foi isso mesmo que ela fez.

- Quem me ajuda a debulhar o trigo? – perguntou a galinha aos seus amigos.
- Eu não – disse o cão.
- Eu não – disse o gato.
- Eu não – disse o porquinho.
- Eu não – disse o peru.
- Então eu debulho sozinha – disse a galinha. – Cocoricó!

E foi isso mesmo que ela fez.

- Quem me ajuda a levar o trigo ao moinho? – perguntou a galinha aos seus amigos.
- Eu não – disse o cão.
- Eu não – disse o gato.
- Eu não – disse o porquinho.
- Eu não – disse o peru.
- Então eu levo sozinha – disse a galinha. – Cocoricó!

E foi isso mesmo que ela fez. Quando, mais tarde, voltou com a farinha, perguntou:

- Quem me ajuda a assar essa farinha?
- Eu não – disse o cão.
- Eu não – disse o gato.
- Eu não – disse o porquinho.
- Eu não – disse o peru.
- Então eu asso sozinha – disse a galinha. – Cocoricó!

E foi isso mesmo que ela fez. A galinha ruiva assou a farinha e com ela fez um lindo pão.
 
- Quem quer comer esse pão? – perguntou a galinha.
- Eu quero! – disse o cão.
- Eu quero! – disse o gato.
- Eu quero! – disse o porquinho
- Eu quero! – disse o peru.
- Isso é que não! Sou eu quem vai comer esse pão! – disse a galinha. – Cocoricó!

E foi isso mesmo que ela fez.”

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