O preço da capitulação mental
Por Brizola Neto
O TSE acaba de tomar duas decisões. A primeira de, contrariando o voto do relator, multar o instituto Sensus por corrigir um erro no registro de uma pesquisa – a anterior, onde Dilma ainda aparecia ligeiramente atrás de Serra, criminosamente atacada pelo PSDB, que chegou a divulgar distribuição mentirosa das entrevistas e, depois, disse que tinha se confundido com pesquisas e dado informações erradas à imprensa. A outra, a de multar o Presidente Lula por, em um evento do qual participou, ter dito que não podia dizer o nome de quem apoiava, mas que todos o sabiam.
A eleição foi, definitivamente, judicializada. Suas Excelências – e sei que me exponho falando isso – estão exercendo o seu dever com um rigorismo formal que, infelizmente, não têm diante de outras forças, que influenciam de maneira muito mais perversa e camuflada o processo eleitoral.
Se a mídia não pode ser compelida a ser equânime e equilibrada em sua cobertura além de um certo ponto – e com isso concordo, para que não ressuscitemos o fantasma da censura – também não o podem ser, além do razoável, os demais agentes públicos e privados.
O TSE vem de absolver o PSDB do uso de um site em que detrata, inclusive graficamente, o Presidente da República.. O Presidente, porém, deve ficar quieto, sob pena de multa. A alegação de que o site do PSDB não pedia votos para Serra se desmancha diante das ligações daquele com outros sites onde o faz.
Mas parte deste problema está na postura do PT, lamento dizer.
Seus dirigentes estão cheios de punhos de renda. Hoje ainda li declarações do presidente José Eduardo Dutra que deram toda margem a serem interpretadas, como foram, de que a eleição seguirá “empatada” até julho? De onde o presidente tirou esta afirmação? Em dois institutos de pesquisa, Dilma não só já passou a frente como continua em trajetória de alta.Em condições normais, com o crescimento da informação pública de que é ela a candidata de Lula – é só olhar os detalhes das pesquisas – seu crescimento se acentuará.
Mas, como o PT – salvo honrosas exceções – não briga, não luta, não combate, para cada 20 ou 30 ações judiciais tucanas há uma em favor da pré-candidata Dilma Roussef.
O PSDB usou, em seu programa eleitoral de dezembro, 85% do tempo promovendo José Serra e Aécio Neves. O PT não os acionou. O Datafolha distorce e modifica em suas pesquisas, de forma evidente, a amostra que ele próprio registrou no TSE e nada acontece. O nosso comentarista Rafael Lima Silva, faz pouco, comentou que assistiu a inserções de propaganda do DEM com a presença de Serra (o que é expressamente vedado pela lei 9.096, em seu Art. 45, &1°, inc.I).
Poderia listar dúzias de situações. Até mesmo o descumprimento da lei 12.034, de setembro de 2009, que obriga a que do tempo dos programas partidários haja, ao menos, 10% dedicado à participação feminina (alterando o art. 45 da Lei 9.096 e determinando que compete aos programas partidários “promover e difundir a participação política feminina, dedicando às mulheres o tempo que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 10% (dez por cento).”
Mas, não. Salvo alguns bons (graças a Deus, nem tão poucos) companheiros, que têm sangue nas guelras, há os que miam.Há os que dão a batalha como ganha e pensam apenas no lugar que lhes caberá na vitória na qual não expõem o peito.
Acham que Lula, e só o Lula, irá dar-lhes a vitória.
É verdade que temos um grande general, que está se arriscando pessoalmente. Vocês imaginam que um homem que não tivesse grande coragem pessoal se exponha, como o faz Lula, seja no processo eleitoral, seja no desempenho de suas funções presidenciais, como fez, agora, contra tudo e contra todos, inclusive contra a maior potência mundial, no caso do Irã.
Qualquer marqueteiro de meia-tigela teria dito: presidente, o senhor tem quase 80% de popularidade, esta história de Irã não vai lhe dar nem um por cento a mais, mas pode faze-lo perder muito, muito mais”.pensem, e vejam se não é verdade. Mas Lula cumpriu seu dever, expôs-se e saiu engrandecido, como o Brasil e, principalmente, o seu povo saiu mais informado e lúcido sobre questões que um país que era um “gigante-anão” no mundo jamais teve coragem de abordar.
Lula tem a nós, que somos soldados de um combate por nosso povo. Dele, não quero nada, senão que seja o que é, o símbolo de um povo que é capaz de tomar o futuro em suas mãos.
Mas temos um “meio campo” preguiçoso, aburguesado, acomodado.
Se estes não combaterem, tudo ficará a cargo do general e dos soldados. Se ele não fustigar, não agir, não oferecer resposta a cada ação do inimigo, tudo nos será mais pesado. Eles acreditam em contos de fada, idílicos. Nós, que nada temos do Estado, senão o poder que ele encarna de fazer-nos uma Nação, sabemos que a diferença entre vitória e derrota se conta em crianças sem futuro, em homens e mulheres desesperançados, em riquezas que se vão para nunca mais, em não sermos nós mesmos.
Mas não nos será impossível, nem nos amedrontará. Vimos a face da esperança, e ela se gravou em nossas almas e existências.
Jogamos aqui muito mais que nossas vidas, jogamos aqui o nosso destino como povo e como país.
Deus queira que possamos fazer esta luta com serenidade apaixonada. Mas se a tivermos de fazer, por falta de meios, com a fúria da paixão, aquela que fez Cristo brandir o chicote contra os vendilhões do tempo, a faremos, que não se enganem.
Não somos liberais, muito menos neoliberais. Somos abandeirados, temos uma causa e um dever.
E ele será cumprido.
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