sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Escolas do Rio Grande do Norte estão em péssimas condições de funcionamento

Do Tribuna do Norte


Atheneu: alunos abandonam escola


Carlos Herinque Goes - repórter

Dos 1.800 alunos que iniciaram o ano letivo no Colégio Estadual Atheneu Norte-Riograndense, 400 abandonaram a escola. O problema é ainda mais grave nas turmas de pré-vestibular do turno noturno, onde 60% dos alunos matriculados no início do ano, deixaram os estudos. Os motivos dessa evasão são problemas de estrutura do prédio, grade curricular ultrapassada e pouco atrativa; além da insegurança e greves. Essa é a análise da direção da escola estadual, que é a mais tradicional do Estado. E o problema da evasão não está restrito ao Atheneu. Na Escola Estadual Winston Churchill - que já fechou o turno noturno desde o ano passado - 68 estudantes que iniciaram o ano letivo não estão mais frequentando a escola.

Adriano Abreu
 
Dos 1.800 alunos que iniciaram o ano no Atheneu, 22,2 por cento deixaram a escola ao longo dos meses
 
O vice-diretor do Atheneu, Bartolomeu Silva, analisa que a evasão estudantil se trata de um fenômeno comum às escolas estaduais, especialmente, quando se trata de alunos dos períodos da tarde e noite. Na manhã, o quantitativo costuma se manter. Os episódios de violência, a precariedade na estrutura da escola e a falta de professores são citadas por ele como fontes do desestimulo de muitos estudantes. Um exemplo mencionado por ele é o das duas turmas de 1º ano vespertino que desde março não possuem professor de Física. O estado dos laboratórios de Química e Física também desanimam os estudantes.

O professor de Física Francisco Dantas, que já foi diretor da escola por duas gestões, vai além e responsabiliza a Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seec) pela atual situação da escola. Ele defende que educação não se trata somente de professor com dinheiro no bolso, fazendo menção ao acordo da categoria com o Governo sobre o pagamento do Plano de Cargo, Carreira e Salários, cuja falta de entendimento resultou numa greve de 52 dias. "É preciso que professores, alunos e Secretaria [Estadual de Educação] cumpram seus deveres", destaca ele.

Em março último, a TRIBUNA DO NORTE publicou matéria sobre a falta de estrutura física da escola. Na época, cupins estavam destruindo os documentos guardados nos arquivos. Em visita da reportagem na manhã de ontem, o problema parecia ter sido substituído por outro, as infiltrações que tomam contam de vários pontos do Arquivo Matutino e sede do Grêmio Estudantil.

A arquivista Lucineide Silva, 50, dos quais 12 desempenhando a função de arquivista na escola se diz triste e preocupada com as más condições da sala em que trabalha. Uma infiltração que persiste desde o mês de julho e o constante gotejamento já danificou milhares de documentos. Alguns, inclusive, que datam de 1845, data de inauguração do centro de ensino. Além do prejuízo à memória documentada do Estado, os riscos de desabamento também amedrontam a servidora.

Durante visita de engenheiros enviados pela Secretaria de Educação, no mês de junho, as chuvas foram apontadas num parecer preliminar como a causa da infiltração, versão que tem sido descartada ao longos dos meses, uma vez que a água permanece caindo. "Os engenheiros enviados pela secretaria [Estadual de Educação] estiveram aqui e um deles perguntou se eu tenho seguro de vida", lembrou ela, mencionando uma sinalização velada para a possibilidade de desabamento de parte do teto. "É muito triste ver tanto documento importante se estragando".

A sala do Grêmio Escolar, local de onde surgem ideias e as mobilizações de cidadania em prol das melhorias de ensino também está marcada pelas infiltrações. Uma das corredeiras desce exatamente em cima de uma caixa de energia, anunciando o risco de curto circuito e um posterior incêndio. O estudante do 1º ano, Fabrício Paz, 16, vice-presidente da entidade estudantil afirma que tentam da maneira deles recuperar o prestígio e as boas condições de estudo que o Atheneu teve nos tempos áureos, época em que abrigou em seus bancos escolares figuras como Aluízio Alves, Garibaldi Alves Filho, Wilma de Faria - três ex-governadores - e teve como um dos seus ilustres docentes o historiador potiguar Câmara Cascudo.

No Churchill, alunos desistem de vestibular
 

 
Adriano Abreu

Na Escola Estadual Winston Churchill, dos 440 alunos matriculados nas turmas de pré-vestibular, apenas 22 irão concorrer a uma vaga na UFRNN

O cenário é diferente, mas os problemas são os mesmos. A diretora do Winston Churchill, Maria Eliane Silva pontua que a falta de acolhimento das escolas por ausência de uma estrutura física adequada é determinante na hora que um estudante opta por abandonar o ano letivo ou pedir transferência para outra escola. O mormaço deste período e o insuficiente número de ventiladores, por exemplo, constitui uma esfera adversa para o processo de ensino-aprendizado. "A gente [professores] precisa participar desse processo de atualização da estrutura curricular. Somos professores do século 20 ensinando aluno do século 21, mas com uma estrutura curricular do século 19", analisa a diretora.

A greve de 52 dias que atingiu o ano letivo de 2011 e vai prolongar o período até 28 de janeiro de 2012, também é citado pela diretora como um estímulo ao abandono da escola. Ela explica que 20 dos alunos ainda com matrícula ativa são residentes da Casa do Estudante, cujas portas fecham ao final do ano letivo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). "Muitos desses alunos vão embora com certeza antes de terminar o ano letivo", relaciona ela um dos problemas enfrentados. Outro é o fato de 30% a 40% dos estudantes utilizarem o final de dezembro e os meses que antecedem o retorno às aulas para trabalhar. "Temos uma população estudantil aqui heterogênea. E muitos deles precisam ganhar seu dinheiro. Com essa expansão do ano letivo, teremos mais 30% ou 40% de evasão".

A estudante do 1º ano médio Jessyca Pollyanne, 15, lamenta pelas cenas presenciadas diariamente. Uma quadra descoberta, laboratórios de Química, Física e Biologia fechados, assim como um auditório sem a menor condição de abrigar reuniões, palestras ou apresentações culturais. "Minha sala está há três meses sem ventilador. Nossa escola é antiga e acho que deveriam valorizá-la", opinou a jovem.

INSEGURANÇA

Maria Eliane conta que em 2010 havia 83 alunos pulverizados em turmas de até, no máximo, cinco alunos. Em contraponto, 23 servidores - entre professores e pessoal de apoio - estavam lotados para aquele turno. A insegurança vinda de fora, má iluminação e os episódios de pequenos furtos colaboraram na decisão. Entretanto, a percepção de que servidores estavam usando a escola como cabide de emprego foi levado em consideração. "Tudo isso acabava contribuindo para a baixa produtividade dos alunos", avalia. O ingresso no mercado de trabalho era mais um elemento na composição deste quadro. "A maioria das empresas pegam esses jovens para trabalharem no período das 14h às 22h, quando são adultos. E se forem menores, das 14h às 18h. Isso levou a evasão na noite e um inchaço nas turmas da manhã", complementou ela.

Renovação curricular

A titular da pasta de Educação, Bethânia Ramalho, admitiu que existem furos na rede da educação e que se faz necessária uma renovação na grade curricular, especialmente, naquela direcionada aos jovens e adultos que cursam no período da noite. "Imagine um estudante que passa o dia todo trabalhando e o conteúdo apresentado não diz respeito à realidade dele", exemplificou. A falta de continuidade nas políticas públicas voltadas à educação são apontadas pela secretaria como um dos motivos para a falta de atrativo nas salas de aula e manutenção dos estudantes em salas.

Ao ser questionada sobre a realidade das duas escolas citadas nesta matéria, Bethânia confirma saber das condições estruturais e garantiu que,"por determinação da governadora Rosalba

Ciarlini, as duas foram colocadas numa lista de prioridades para reparos". No entanto, não apresentou uma data para início dos trabalhos. O que foi confirmado pelas direções das unidades escolares mencionadas foi a visita de reconhecimento de engenheiros e arquitetos.
 
Fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia/atheneu-alunos-abandonam-escola/203123 

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