domingo, 20 de setembro de 2009

João Paulo Cunha faz análise de pesquisa

Do Blog Vi o Mundo

Considerações sobre a pesquisa CNT-Sensus, de 04 de setembro de 2009, e as eleições 2010

por João Paulo Cunha


1. Apresentação

Pesquisa, quando bem feita, capta o modo de agir e pensar, o sentimento e as expectativas de um público específico, num determinado tempo histórico. Trata-se, portanto, de considerar que é a foto de um momento. Uma análise mais aprofundada das pesquisas deve necessariamente levar em conta uma seqüência histórica, de modo a se poderem estabelecer comparações substanciosas, extraindo dados objetivos e subjetivos dos resultados apresentados.

Em 08 de setembro, o instituto Sensus em parceria com a CNT, apresentou sua 98ª rodada de pesquisa de opinião pública nacional, realizada de 31 de agosto a 04 de setembro, com margem de erro de 3%. Oposição e setores da grande mídia apressaram-se em usar os números para afirmar que a candidatura de Dilma estaria em queda nas intenções de voto.

Para a oposição sem projeto e os arautos do conservadorismo, vale tudo, mesmo que efêmero, para tentar desgastar a imagem do presidente, do PT e de sua candidata. Para provar a fugacidade da afirmação oposicionista, recorro à série histórica das pesquisas CNT-Sensus. Portanto, além de considerar os números de Setembro em relação a Maio de 09, trabalho dados das pesquisas de Março e Janeiro de 2009, e amplio o olhar para o quadro de até um ano atrás, com as pesquisas de Dezembro e Setembro de 2008.

2. Dilma em alta, Serra em baixa


É fato que, em relação à pesquisa de maio, Dilma recua 4.5% ao atingir 19% na intenção de voto estimulada e recua 0.6% na espontânea ficando com 4.8%. Esta queda explica apenas o que ocorreu de junho a agosto. Pode se atribuir esta leve queda a uma agenda negativa e em grande parte fabricada, com crise no Senado, instalação da CPI da Petrobrás, gripe suína e Lina Vieira.

Mesmo com este rol de ataques e mentiras da oposição, Dilma mantém-se em patamar representativo de votos, para quem nunca disputou uma eleição presidencial e ainda nem é oficialmente candidata. Se considerarmos também que a margem de erro da pesquisa é de 3%, vê-se que não ocorreu mudança significativa nas intenções de voto.

Também é fato que a avaliação do governo e do desempenho de Lula cai na mesma proporção. A avaliação do governo atinge 65.4% de positivo, um recuo de 4.4% em relação a maio, e 7.2% de negativo, 1.4% a mais que maio. A aprovação ao desempenho de Lula está em 76.8%, um recuo de 4.7% e a desaprovação é de 18.7%, 3% a mais em relação a maio.

Entretanto, se ao invés de se olhar apenas para o último trimestre, recorrer-se à série histórica das pesquisas CNT-Sensus, ver-se-á que há um ano, em setembro de 2008, Dilma tinha 8.4% de intenção de votos estimulada. Agora, em setembro de 2009, ela está com 19.%, portanto, numa posição mais que dobrada de suas intenções de voto (veja fig. 1).

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Vê-se também que em setembro de 2008, na mesma intenção estimulada, Serra tinha 38.1% e agora aparece com 39.5%, ficando praticamente na mesma posição.

Na disputa em segundo turno, Dilma cresceu em um ano de 15.7% para 25%. Já Serra repete o roteiro e patina com 49.9%, em setembro de 09, quando tinha 51.4% em setembro de 2008 (veja fig. 2). Desta forma, Dilma ganhou, em um ano, tanto pela pesquisa estimulada como pelo confronto de 2º turno, algo em torno de treze milhões de votos.

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No detalhe da pesquisa estimulada (fig. 1), vê-se que Serra chegou a ter, em dezembro de 2008, 46.5% das intenções de voto. Hoje, nove meses depois, ele está com 39,5%, uma redução de sete pontos, equivalente a 20% de suas intenções de voto - quase 10 milhões de eleitores a menos. Como se vê, é a candidatura de Serra que enfrenta maiores dificuldades, quando analisamos a disputa com um olhar mais detalhado.

Os números mostram a evidência de que existe uma movimentação na sociedade a favor de Dilma. O crescimento de sua candidatura tende agora a ser mais lento, pois são exigidas novas condições para crescer que somente aparecerão à medida que for se aproximando a eleição do ano que vem. De toda a sorte, a orientação para crescimento e fortalecimento da candidatura é bem clara.

A possível queda, no último trimestre, da candidatura de Dilma pode ser explicada por uma conjuntura desfavorável e já superada. A reversão já está em curso e a retomada da curva de crescimento progressivo é altamente provável. Concorre a favor, a manutenção em níveis muito elevados da aprovação do governo e a altíssima aprovação do desempenho de Lula, sem falar nos avanços do PAC, no debate e votação do pré-sal e, especialmente, da retomada do crescimento econômico, pautas favoráveis à candidatura petista.

Como favorável também à candidatura de Dilma, de acordo com os dados da pesquisa de setembro, é o sentimento da população, captado de forma subjetiva pelo “Índice do cidadão”, a partir da análise sobre a avaliação e a expectativa do cidadão em relação ao país (veja fig. 3).

A avaliação é uma composição das variáveis, renda, emprego, saúde, educação e segurança pública observadas nos últimos seis meses. A expectativa é composta pelas mesmas variáveis para os próximos seis meses. Os resultados são positivos, além de apontarem uma leve melhora. A avaliação é de 47,79 e a expectativa é de 71,95 numa escala de zero a cem. Ou seja: a expectativa da grande maioria é de que a situação no Brasil melhore nos próximos meses.

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Se juntarmos a estes dados as informações de que 59.4% dos eleitores afirmam que o Brasil vai sair fortalecido da crise econômica, 48,8% consideram que o governo lidou adequadamente com a situação e 52% acham que o Brasil está saindo da crise, temos um quadro onde a população sente um contexto econômico positivo para o final de 2009 e 2010. Expectativas reafirmadas pelo crescimento de 1.9% do PIB constatado no segundo trimestre.

3. Governo e presidente bem aprovados


Na série histórica da CNT Sensus, a avaliação do governo e o desempenho de Lula têm sua maior inflexão favorável no ano de 2008. Neste ano a avaliação positiva do governo ultrapassa a casa dos 50% e fecha o ano acima de 70%, chegando ao recorde de 72.5% em janeiro de 2009 (veja fig. 4). Depois deste recorde cai para 62.4% em março, sobe para 69.8% em maio e baixa no início de setembro para 65.4%.

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Simultaneamente, a aprovação ao desempenho de Lula supera em 2008, pela primeira vez, a casa dos 65% e fecha o ano acima dos 80%, chegando ao recorde de 84.% também em janeiro de 09. Depois cai para 76.2% em março, sobe para 81.5% em maio e baixa no início de setembro para 76.8% (fig.5), movimento análogo ao que ocorreu com a avaliação do governo.

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A queda, em relação a maio, em torno dos 4.5% para avaliação do governo e do desempenho de Lula, também poderia ser explicada pela já superada agenda negativa dos últimos três meses. A retomada do crescimento econômico e o lançamento do pré-sal marcam o início de um novo ciclo favorável onde é possível prever que o governo federal e o Presidente Lula fechem 2009 em alta.

Além do mais, 65.4% de aprovação ao governo e 76.8% de aprovação ao presidente Lula, são números generosos para os padrões políticos do Brasil. Basta comparar com o desempenho de FHC, também na série histórica da mesma CNT-Sensus. Vejam-se os números: o governo do Presidente FHC de jan/1999 a ago/2001 alcança seu melhor desempenho em março/2001 com 33,3% de positivo e 26,6% de negativo (veja figura 6).

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O governo do Presidente Lula tem hoje 65,4% de positivo e 7,2% de negativo. O desempenho do Presidente Lula atinge nessa última pesquisa 76,8% de aprovação e 18,7% de desaprovação. Enquanto o Presidente FHC de Mar/2001 a out/2002, atinge sua melhor fase em abr/2001 com uma aprovação de 46,1% e uma desaprovação de 46,5% (fig. 7).

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Vale destacar outro dado da pesquisa que a maioria da grande mídia não deu destaque. Diz respeito à transferência de voto de Lula. 20.8% dos eleitores dizem que votam unicamente no candidato apoiado por Lula, 31.4% podem votar, 24.6% só conhecendo o candidato e 20.2% não votaria. Tem-se então que 52.2% são potenciais eleitores da candidatura Dilma, sem contar os que vão tomar posição só a partir de conhecer. Note-se que há um ano este número era de 44.1%. Logo, tem crescido o apoio a uma candidatura com apoio de Lula.

A enorme força de Lula é facilmente percebida na pesquisa de set/09, a partir do fato de seu nome receber 21.2% de intenções de voto espontâneo (veja fig. 8). Repito: mesmo sendo mais do que público que ele não disputará o terceiro mandato. Esta intenção de voto espontânea em Lula baixará, à medida que a população ficar sabendo que ele não será candidato e que sua candidata é Dilma Roussef. Neste contexto, será muito provável que Dilma agregue a grande maioria deste um quinto do eleitorado, que hoje espontaneamente ainda prefere Lula.

Destaque-se ainda, o fato de Serra ter apenas 7.7% de votos espontâneos. Um número pequeno para quem já disputou a presidência, foi prefeito da maior cidade do país e governa o estado mais rico e populoso. Sem falar que ele já atingiu 10.6% em dezembro de 2008. Dilma está tecnicamente empatada, com 4.8% de votos espontâneos e sua tendência é crescer quanto mais se aproximarem as eleições.

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4. Candidatura Marina e nova fase da disputa

A candidatura de Marina Silva a presidente, a novidade na disputa, atinge 4.8% na intenção estimulada. Seu potencial não parece ser suficiente para romper a polarização entre Serra e Dilma, PT x PSDB. Portanto, mesmo com um crescimento possível de Marina, especialmente na hipótese mais provável de Heloísa Helena não disputar a presidência, mantém-se a perspectiva de que as eleições de 2010 assumam um caráter plebiscitário.

Será o confronto dos resultados para o Brasil dos oito anos do governo Lula contra os oitos do governo FHC Que visão de estado e projeto são melhores para o presente e futuro do país.

Apesar de limitada, a candidatura de Marina produziu uma importante conseqüência, que foi estimular Ciro Gomes a manter seu projeto de disputar a presidência. Sua entrada no jogo marca uma nova fase na disputa eleitoral. Os reflexos da candidatura do PV devem ser bem avaliados. Afinal é uma mulher, de esquerda não radical e com um discurso ambientalista, em alta com parte da sociedade. Uma candidata do setor popular que poderá contar com a simpatia de parte da classe média. Apesar disso, creio que tende a causar mais consequencias políticas do que eleitorais.

Ciro Gomes não teve seu potencial medido no cenário contra Serra, Dilma e Marina o que prejudica qualquer comentário a cerca de suas possibilidades, apesar de já sabermos de suas potencialidades e limitações. Nesta pesquisa, em cenário sem Dilma, Ciro atinge 8,7% contra Serra e 12% contra Aécio. Hoje, o cenário mais provável para 2010, que precisa ser testado nas próximas pesquisas tem como candidatos: Dilma, Serra, Ciro e Marina.

5. Cruzamento das variáveis

É relevante aprofundar a análise da pesquisa observando os dados a partir do cruzamento das variáveis: Região, zona residencial, porte do município, sexo, idade, escolaridade e renda.

Pela CNT- Sensus, no início de setembro de 2009, o presidente Lula tem a maior aprovação de seu desempenho, no nordeste com 88.6%, índice 10.2% superior há setembro de 2008. O Centro Oeste/Norte vem em segundo lugar com aprovação de 82.7% (80% em set08). No sul é onde tem a menor avaliação com 64.9% de aprovação (76.7% em set/08) e 28.7% de desaprovação. No Sudeste tem 71% de aprovação (76.7% em set/08) e 24.1 de desaprovação.

A aprovação a Lula é espalhada por todo o país. Há um sentimento nacional de que seu governo é positivo. Se o nordeste é o destaque com grandes índices de aprovação, o presidente consegue manter índices muito altos até no sul e no sudeste do país, onde historicamente enfrenta maiores dificuldades. É o grande cabo eleitoral das eleições de 2010, ao lado da aprovação do governo federal e do bom andamento da economia nacional.

Em relação à renda e escolaridade, Lula é aprovado em seu desempenho por 84.5% dos que ganham até 1 SM e por 81.8% de quem apenas cursou o primário. Já as maiores desaprovações estão entre os de nível superior (10% dos eleitores) com 34.8% e os que ganham acima de 20 SM (2% dos eleitores) com 36.4%. Aqui a face popular de Lula é explícita.

Os dados sobre Lula repercutem nas intenções de voto estimulado de Dilma. É no nordeste que recebe as maiores intenções de voto com 23.8%, quase o triplo dos 8.3% que tinha em set/08. O pior desempenho está no sudeste com 15% apesar de ser quase o dobro dos 8.1% de set/08. No norte e centro oeste tem 21.15% e no sul 18,9%. Mais do que o dobro de set/08, quando tinha 9.6% no CO/NO e 8.4% no sul. Neste momento, se o pior desempenho de Lula é no sul, o de Dilma está no sudeste.

O grande apoio dos menos escolarizados a Lula ainda não virou em toda a potencialidade para a campanha, isto pode explicar porque em relação à escolaridade, Dilma ter o menor desempenho nos de nível primário, com 17.4%, subindo para 19.2% no ginasial, 20.0% no colegial e 20.5% no superior.

Serra tem o melhor desempenho no sul com 48.3% e o pior no sudeste, com 36.7%. No norte e CO tem 41.2% e no nordeste tem 38.2%. Estes números mostram pouca evolução em relação a setembro de 2008, quando tinha no sul 44%, no norte e CO 38.9%, no nordeste 38.7% e no sudeste 35.4%.

Finalmente, nesta última pesquisa CNT Sensus, chama a atenção o fato do sudeste concentrar 34.7% dos eleitores que, na pesquisa estimulada, dizem não saber ou querer votar nulo ou branco. Neste grupo, o menor índice está no CO/NO com 17.6%. Já o NE tem 23.4% e o Sul 21.3%.

6. Considerações finais

É conhecida a história em que J.Carville, assessor de Bill Clinton na eleição de 1992, ao ser indagado sobre quais assuntos teriam destaque nos debates da campanha afirmar: “É a economia, estúpido!”. Ele se referia ao assunto que era prioritário para todos os cidadãos dos EUA. A história recente das eleições gerais nas grandes democracias comprova que a economia tem sido o tema prioritário para definição do voto da maioria dos eleitores.

O Brasil não foge a regra. Em 1994, com a caótica economia do país, Lula despontava em todas as pesquisas como favorito nas eleições presidenciais. Então o ex-presidente Itamar articula o lançamento do Real e na seqüência de FHC que veio a ganhar as eleições pilotando o plano real. Já em 2002 não teve mágica que livrasse os tucanos da gestão desastrada da economia do país e Lula ponteou do começo ao fim da disputa, conquistando seu primeiro mandato, contra um Serra que escondia a gestão FHC.

Existe, assim, uma correlação quase direta entre o desempenho da economia e a avaliação dos eleitores sobre o governo de plantão. Por isso, o governo federal e Lula atingem hoje recordes de aprovação. Aqui vale destacar que parte substancial dos programas do governo federal se consolidará em 2010, apresentando resultados favoráveis, que serão ainda mais otimizados com a retomada do crescimento econômico do país.

Com base no atual contexto político e econômico do Brasil e nos dados das pesquisas CNT-Sensus, pode-se prever que Dilma Roussef será eleita presidente em 2010. Este resultado, evidentemente, não será conquistado de forma tranqüila. Exigirá muita competência e trabalho da base aliada do governo Lula, com destaque para o PT.

Tal prognóstico favorável depende também do acerto em nossa articulação política. Com destaque para a composição dos palanques estaduais e da aliança eleitoral, elaboração do programa de governo e organização de nossa política de comunicação e marketing eleitoral. Além é claro, do gerenciamento profissional do cotidiano da campanha em busca da vitória para continuar mudando o Brasil para melhor.

11 de setembro de 2009

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