segunda-feira, 14 de junho de 2010

Petrobras faz no país 75% de suas compras

Petrobras made in Brazil

Autor(es): Agencia o Globo/Ramona Ordoñez

O Globo - 14/06/2010

O índice de nacionalização de encomendas da Petrobras subiu de 57% para 75%, um salto de US$ 18 bilhões, em seis anos. Para os críticos, a política do governo é excessivamente nacionalista e pode gerar reserva de mercado, como aconteceu com a informática no passado.

O governo americano quer que a BP crie uma conta para pagar os pedidos de indenização com o vazamento de óleo.

Estatal comprou 75% de bens no país em 2009, US$18 bi a mais que em 2003.


Oito milhões de parafusos, 824 mil válvulas e 85,4 mil toneladas de aço, passando por navios petroleiros, são apenas parte das necessidades da Petrobras para tocar seus projetos até 2014, que devem aumentar substancialmente com a inclusão dos investimentos nos campos do pré-sal na Bacia de Santos. E a participação da indústria nacional nessas compras só tem crescido nos últimos anos. Em 2009, do total de US$31,2 bilhões investidos pela Petrobras em projetos no país, US$23,5 bilhões foram encomendados à indústria local. Esse volume representou 75% do total de compras da estatal no Brasil, bem acima dos 57% de conteúdo nacional de 2003, e superando a meta do governo federal de 65% em média. Mas há quem veja risco de que esse alto índice de nacionalização gere reserva de mercado, como aconteceu com a informática nos anos 1980.

O coordenador do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) - programa de apoio à capacitação da indústria nacional, desenvolvimento tecnológico e de formação de pessoal - José Renato Ferreira de Almeida disse que o aumento do conteúdo nacional, de 57% em 2003 para 75% no ano passado, representou compras adicionais no país de US$18 bilhões ao longo desse período e a geração de 755 mil empregos:

- O esforço da indústria foi grande, considerando o salto dos investimentos da companhia de US$5,6 bilhões no país em 2003 para US$31,2 bilhões no ano passado.

Com o início dos projetos de produção no pré-sal, o volume de encomendas da Petrobras dará salto ainda maior nos próximos anos. Almeida acredita que o desafio da indústria nacional será manter o índice de encomendas nos atuais 75%.

Analista: risco de reserva de mercado

O Prominp fez um mapeamento de todas as demandas das operadoras de petróleo no país, que tem a Petrobras como a de maior peso, com base no Plano de Negócios da Petrobras de 2009-2013 (a estatal deve anunciar o novo plano de 2010-2014 até o fim deste mês). O levantamento, que é acompanhado trimestralmente, chega ao detalhe das matérias-primas e dos componentes, como os oito milhões de parafusos, as 824 mil válvulas, ou as 85,4 mil toneladas de aço.

Almeida explicou que a partir desse levantamento é possível identificar gargalos, necessidade de ampliações de capacidade instalada ou de capacitação tecnológica. O trabalho é feito pelo Prominp, com Petrobras e entidades como Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), além da participação de indústrias e fornecedores.

O coordenador do Prominp garante que esse elevado índice de nacionalização não representou um preço maior nas compras feitas no país:

- O desafio é justamente saber qual o nível que a indústria local consegue atender de forma competitiva.

O especialista Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), disse que, apesar de ser favorável à política de incentivo à indústria local, acha que a nacionalização é muito exagerada e que deveria ter prazo determinado:

- Vejo um certo exagero. O governo deveria mostrar que é temporário. Essa política atual é excessivamente nacionalista, o que pode gerar uma reserva de mercado como foi na informática no passado.

O advogado especializado em petróleo e energia Heller Redo Barroso comparou a política do governo brasileiro à desenvolvida pela Noruega nos anos 1970:

- Permite a capacitação gradual da indústria. Tem sempre algum custo inicial da curva de aprendizado, mas o objetivo é buscar sempre a competitividade.

Barroso disse que tem sido muito procurado por empresas estrangeiras interessadas em se instalar no Brasil, sozinhas ou associadas a brasileiras.

A Rolls-Royce, uma das líderes mundiais no fornecimento de sistemas de energia e serviços para uso em terra, no mar e no ar, poderá ampliar sua atuação no Brasil com a fabricação de mais componentes das turbinas para geração de energia. Segundo dados do Prominp, a Petrobras vai precisar comprar 378 turbinas para as plataformas nos próximos anos.

Rolls-Royce pode fabricar mais aqui

O diretor de Vendas para a América do Sul da Rolls-Royce, Gilberto Bueno, explicou que o conjunto turbo gerador é fabricado separadamente em várias unidades. A turbina, por exemplo, tem um dos componentes produzidos no Canadá. O executivo afirmou que a empresa tem capacidade para atender plenamente à demanda futura da Petrobras, mas, se for necessário, poderá aumentar a fabricação de componentes das turbinas no Brasil que, hoje, tem índice de nacionalização entre 10% e 15% apenas.

- Temos uma unidade de assistência técnica em Macaé que poderá ser ampliada. A política de conteúdo nacional da Petrobras é boa, senão, não haveria expansão da indústria no país - afirmou o executivo da Rolls-Royce, lembrando que, há alguns anos, a companhia tinha no Brasil apenas três funcionários e, agora, são mais de cem.

O coordenador do Prominp informou que está sendo feito profundo levantamento do mercado. Segundo Almeida, o estudo está sendo dirigido pelo Prominp com Petrobras, BNDES e UFRJ.

Vinícius Samu de Figueiredo, gerente do Departamento de Gás e Petróleo do BNDES, explicou que o banco já conta com uma série de linhas de financiamento para todo o setor:

- Se o trabalho concluir que algum setor específico necessita de mais recursos, podemos criar um produto para o seu atendimento.

O BNDES já aprovou financiamentos de R$1,9 bilhão este ano para projetos no setor. Em avaliação, há mais R$9,9 bilhões, e outros R$5,4 bilhões em sondagens preliminares.


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