sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Secretaria Betânia Ramalho diz que melhora no Enem vai demorar no RN

Betânia Ramalho, secretária estadual de Educação
Betânia Ramalho, secretária estadual de EducaçãoFoto: aldair dantas



Do Tribuna do Norte


"Melhora no Enem vai demorar no RN"

Roberto Lucena - repórter



A inexistência de um projeto para a educação aliado aos baixos investimentos ao longo dos últimos anos e a ingerência dos diretores são alguns dos fatores apontados pela secretária estadual de Educação, Betânia Ramalho, para explicar o mau desempenho das escolas públicas do Rio Grande do 

Norte no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "A escola pública ainda não conseguiu definir seu projeto de educação e não há uma continuidade nos investimentos nesse setor. Tudo isso reflete no resultado da prova. Vai demorar um pouco para que os números do Enem melhorem no nosso estado", afirmou Betânia durante entrevista coletiva concedida ontem à tarde, na sede da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC).

No ranking divulgado segunda-feira passada, a escola estadual potiguar melhor classificada aparece na 2.399ª colocação. A secretaria alega que a informação não pode ser analisada sem levar em conta algumas variáveis. "É a mesma prova para todo o país. Não podemos analisar friamente. O investimento feito na região Sul do país, por exemplo, é muito maior do que é feito no Nordeste. Quanto mais investimentos na educação, melhor será o desempenho no exame. Infelizmente o MEC [Ministério da Educação] quer igualar todos, mas sabemos que a realidade socioeconômica é diferenciada em cada região", explicou.

Apesar dos números desfavoráveis, a secretária acredita que o RN "vem crescendo no Enem". A gestora leva em consideração que, em 2007, a participação de alunos no exame foi de 58.860 inscritos. No ano passado, esse quantitativo subiu para 92.454.

Betânia Ramalho acredita que os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apresentam a "radiografia" mais fiel da realidade do ensino brasileiro, porém, ressalta que o Enem é importante pois força os gestores a saírem da zona de conforto em busca de soluções para o problema. "O Enem reforça a estrutura do ensino médio e faz com que as escolas reflitam sobre o que se está fazendo de errado para não se obter resultados melhores", pondera.

Até o fim do ano, a SEEC dispõe de um orçamento na ordem de R$ 60 milhões para custeio e investimento. A secretária não sabe de quanto será o repasse no próximo ano, mas observa que não é possível apresentar resultados plausíveis em apenas nove meses de administração. "Encontrei um órgão completamente desequilibrado. Estamos trabalhando para sermos especialistas em educação e passar essas experiência para todos os gestores das escolas", coloca.

A falta de uma boa gestão dentro das unidades de ensino é um dos entraves, segundo Betânia, para se avançar na melhoria da qualidade de ensino e, por consequência, melhorar o resultado no Enem. "Não adianta termos investimentos se não há uma gerência adequada. O gestor faz a diferença", diz. Nesse sentido, a professora afirma que uma de suas prioridades é colocar em prática a Lei de Responsabilidade Administrativa, que está em tramitação no Senado Federal. "Com essa lei, o gestor pode ser cobrado e responderá pelos seus erros. A melhoria passa por uma gestão responsável. Os melhores gestores, inclusive, podem ser premiados".

Outro desafio para gestores e professores é a diversificação do currículo acadêmico. Segundo a titular da SEEC, os alunos estão desmotivados, entre outros fatores, pela falta de atrativos curriculares. "O Brasil ainda peca por não fornecer um currículo diversificado. Não temos uma escola atrativa. É preciso reestruturar o método de ensino introduzindo novas tecnologias, por exemplo".

Bate-papo: Betânia Ramalho » secretária de Educação do RN

Por que temos uma disparidade tão grande entre as notas das escolas privadas e públicas?

A escola pública ainda é muito pobre. Não temos também o foco que as escolas privadas. Além disso, é importante ressaltar que o aluno da rede pública, via de regra, vêm de uma estrutura familiar que não tem a cultura de cobrar o filho pelo aprendizado.

Mas como explicar a posição do IFRN , que ficou entre as dez melhores?

Os IFs têm investimentos do Governo Federal, a gestão é diferenciada. O IFRN, por exemplo, conseguiu chegar ao topo de qualidade porque tem investimento, estrutura organizada e política focada. A gestão é fundamental.

Quais problemas são decorrentes da má gestão nas escolas?

Olhe, para você ter uma ideia, temos na secretaria um número impressionante de pedidos de consertos pequenos nos prédios. Isso não é demanda para a secretaria. O diretor poderia resolver sem problemas.

Mudar somente a estrutura das escolas fará com que os números do Enem melhorem?

Não. A escola precisa se preocupar com a formação do aluno tendo em vista o que se pede na prova do Enem. A sociedade também precisa cobrar mais dos gestores.

A senhora acha que o resultado do Enem não representa a realidade?

A prova permite analisar o que se tem feito pela educação no país, Mas o aluno da Amazonas não é o mesmo do Rio Grande do Sul. Os investimentos socioeconômicos são bem diferentes.

Presidenta do Inep critica listas do Enem, leia aqui: Tribuna do Norte


Nota do Blog: A Secretária de Educação tenta mudar o foco da discussão culpando os gestores das escolas estaduais. Na verdade, a sociedade sabe que esses resultados são conseqüências da falta de compromisso e prioridade dos governos para com o ensino público de qualidade. Vale lembrar que no governo passado tivemos oito secretários de educação e que neste governo ocorreu uma das maiores greves dos trabalhadores em educação do Estado. Além disso, a falta de uma boa infra-estrutura das escolas e as salas de aulas superlotadas (o mínimo exigido pela Secretaria de Educação de alunos por sala de aula no ensino médio é de 40 alunos) compromete a qualidade do ensino. Sem falar no desrespeito para com os professores que não têm seus direitos garantidos (obrigados a fazer greves) e que ainda passam por situações de pura humilhação, como no caso da proibição de comer a merenda – o tal cuscuz alegado.
 
Vale destacar que os diretores das escolas públicas estaduais do RN são eleitos pela comunidade escolar, ou seja, não são indicações políticas de cabos eleitorais do chefe do executivo. Portanto, não se sentem obrigados a agirem como um capitão do mato do governo dentro da escola.

Nenhum comentário: