domingo, 9 de março de 2014

Nos jornais, a pressão das elétricas por dinheiro.



por Fernando Brito

Ontem, eu já cansei a paciência dos leitores com este tema, mas é preciso insistir, porque as pressões das empresas (privadas e estatais estaduais) por reajuste tarifário são e vão se tornar mais intensas, com o argumento aterrorizante de que os reservatórios das hidroelétricas ficarão secos e que é preciso “racionalizar” o consumo de energia.

Claro que essa racionalização se traduziria em benefícios fiscais ou puro subsídio para o setor. Como se sabo ano passado.e, parte das geradoras, sobretudo as de governos estaduais tucanos, como os de São Paulo e Minas, não aceitaram o plano de redução tarifária feito por Dilma Rousseff .

E jornais, como faz o Globo hoje, entram neste mecanismo de pressão justamente no primeiro momento do ano em que as condições hidrológicas se aproximam do normal e aliviam a situação crítica de parte do sistema de armazenamento das hidrelétricas.

Pela primeira vez desde o início do ano, o volume armazenado no Sudeste aumentou – subiu 0,2% ontem, chegando a 34,9% ontem, contra 34,68 da véspera – e, mais importante, a afluência de água se aproxima da vazão prevista pelo ONS para o mês, que é de 67% da média histórica. Ontem estava em 55%, com tendência a chegar, no final de semana, acima de 60%. Em fevereiro, a vazão afluente fechou o mês com apenas 38% da média.

O mais importante, porém, é que a queda de temperatura já provocou o corte de ”5% a 10% da carga” e isso permitiu que a geração hidráulica no Sudeste – ajudada pelo manejo de energia gerada no Sul, onde as chuvas vieram mais cedo – baixasse de uma média de 23,7 MWmédios por dia para cerca de 21MWmédios na última sexta-feira, índice que preferi usar pelo fato de termos tido o carnaval na semana, o que jogaria a média muito para baixo, em torno de 19 mil MWmédios.

A necessidade de produção de energia, em todo o Brasil, que há um mês andava na casa de 50 mil MW médios, caiu a 44 mil MWmed na última sexta-feira, novamente deixando de lado os dias de carnaval, quando andou em torno de 40 mil MWmed.

A verdade é que tínhamos chegado ao final do ano com uma situação que, se não tivesse havido o descomunal e incomum bloqueio de alta pressão que secou o sudeste por 45 dias, já estaríamos numa situação que permitiria o desligamento progressivo das usinas térmicas. Este foi o preço da estiagem no setor elétrico. O resto é gula financeira e política de urubu, como faz hoje a Miriam Leitão, dizendo que o setor elétrico não funciona porque as pessoas têm medo de falar com a Presidenta dos problemas.

Isso é verdade, mas só numa coisa: Dilma entende especialmente deste riscado, depois de anos como Secretária e depois Ministra de Minas e Energia. Não adianta vir de conversa mole para cima dela, que vai sair espanado.

Porque, como deixa claro Miriam Leitão, mesmo já não jogando suas fichas no “vai ter apagão”, o assunto é dinheiro…

Ninguém tapa o sol com a peneira, é obvio que o regime de chuvas este ano foi desastroso, mas daí a dizer que haverá “apagão” é, com os dados que se tem até agora, puro terrorismo pluvial.

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