terça-feira, 11 de março de 2014

PMDB responde com ameaça

Dilma acena com entendimento, Temer elogia, e PMDB responde com ameaça

Enquanto no Chile presidenta dizia que partido só lhe dá 'alegrias', em Brasília líder demonstrava força com documento da bancada em tom de ameaça. Com 'situação insegura', governo adia votações


por Eduardo Maretti, da RBA publicado 


São Paulo – A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados aprovou na tarde de hoje (11) moção de solidariedade ao líder do partido na Casa, Eduardo Cunha (RJ). Os parlamentares já haviam sinalizado ontem que adotariam a medida, como reação à estratégia da presidenta Dilma Rousseff de isolar Cunha, que comanda um setor do partido descontente com o governo e articulou o bloco de legendas formado por PMDB, PP, Pros, PR, PTB e PSC, todos da base aliada. “Os ataques ao nosso líder são ataques ao PMDB”, diz o documento, emitido em meio à crise aberta por Cunha, que chegou a declarar que é hora de repensar a relação de seu partido com o PT.

A moção de apoio a Cunha foi aprovada mesmo após a declaração de Dilma tentando colocar panos quentes na crise que abala a relação do governo com o Câmara. "O PMDB só me dá alegrias", disse a presidenta hoje durante sua visita ao Chile, onde Michelle Bachelet assumiu o comando do Executivo do país pela segunda vez.

A fala de Dilma foi elogiada pelo mais ilustre representante do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, com quem ela se reuniu no último domingo em busca de soluções para a crise. "A presidenta foi clara em dizer que o PMDB só dá alegrias. E só dá alegrias mesmo para o governo, apoia o governo, ajuda o governo. A presidenta foi muito explícita na frase que formalizou", afirmou, após reunião com o próprio Eduardo Cunha (RJ) e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Ontem, Dilma havia se reunido com lideranças do PMDB, com quem conversou sobre as eleições. Ela teria acenado para a possibilidade de o PT descartar candidaturas próprias aos governo de Maranhão, Goiás, Alagoas, Paraíba, Tocantins e Rondônia, onde não concorreria com o partido de Temer.

A crise tem dificultado a votação de projetos importantes para o governo, com destaque para o Marco Civil da Internet, relatado pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), ao qual Cunha e seus liderados se opõem. Hoje, o governo informou que não vai colocar a proposta para apreciação do plenário esta semana, como previa, para evitar a imposição de uma derrota. Eduardo Cunha disse que o partido votará contra o projeto do marco civil da internet e pela instalação de uma comissão externa da Câmara para investigar denúncias de suposto pagamento de propina por uma empresa holandesa a funcionários da Petrobras, segundo a Agência Câmara.

“A bancada está insatisfeita com a condução da aliança, mas isso não significa rompimento com o governo ou com o PT”, afirmou o líder do PMDB. “É um movimento para demonstrar a insatisfação da bancada com o comportamento do PT e para discutir a qualidade da aliança.”

O PMDB listou cinco pontos que considera essenciais e dos quais garante que não vai abrir mão: apoio irrestrito a Eduardo Cunha contra o que chama de “ataques despropositados do PT que atingiram frontalmente o PMDB"; a afirmação do líder como interlocutor único da bancada na Câmara; reafirmar a decisão do partido de não indicar nomes para ministérios; conduzir a atuação no Legislativo com independência; e defender a convocação de uma convenção para decidir a continuidade ou não de uma aliança com o PT.

O líder do PT na Casa, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), confirmou que o problema não foi resolvido na manhã de hoje, durante a reunião de líderes da base, da qual Cunha não participou. “A situação da base continua insegura”, disse. “A meta principal do PT é votar o Marco Civil da Internet, mas parece que não será possível esta semana, já que alguns partidos da base não querem votá-lo, não por ser contra a proposta, mas por conta da conjuntura política.”

Na Comissão de Constituição e Justiça, o PT trabalhou nesta terça-feira para obstruir a votação e evitar a imposição de uma derrota. Um dos receios é de que se trabalhasse para aprovar a convocação de ministros, uma forma de ameaçar o governo.

'Setor radicalizado'

Para o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), as iniciativas da presidenta ao conversar com o PMDB têm o objetivo de salvar a aliança. Segundo ele, um grupo “radicalizado” do partido “está aproveitando” um descontentamento para forçar o rompimento. “A presidente Dilma está conversando, e o sentido é tentar manter essa aliança. A realidade é que existe um setor radicalizado, basicamente comandado pelo líder do PMDB que está tentando se aproveitar de uma insatisfação da base peemedebista para romper essa aliança”, constata o deputado.

Zarattini aponta três motivos para o descontentamento: as alianças estaduais em torno das eleições, que envolvem interesses muito diferentes entre si; a participação do PMDB no atual governo, já prevendo o que pode acontecer no próximo mandato de Dilma. “E o terceiro ponto é a insatisfação geral com questões de emendas, liberação de emendas, que são muito importantes em ano eleitoral. A emenda é importante para o deputado chegar em suas bases e dizer que de fato está trabalhando pela base”, diz Zarattini.

Apesar da crise, o deputado petista não concorda com a tese de que seu partido deva romper com a sigla de Temer. “Discordo totalmente. Acho que temos que fazer aliança com o PMDB, fazer uma negociação com o PMDB por inteiro, compreendendo as dificuldades que eles têm internamente, problemas que têm nos estados. Temos 27 estados. Se tivéssemos condições de fazer a mesma aliança em todos os estados... Mas isso é muito difícil, são realidades às vezes muito diferentes. Cada lugar tem uma característica, temos que tentar compor essa diversidade toda”, prega o petista.

Henrique Alves

Já o presidente da Câmara dos Deputados afirmou que a relação do PMDB com o PT e Dilma é boa. Ele citou a fala da presidenta no Chile, mas com ressalva. "É só alegria, mas é lógico que, em um governo deste tamanho, com dois partidos tão grandes, haja problemas entre os partidos, mas a relação com ela é boa", declarou. Alves acrescentou com uma ameaça velada. "Isso [isolar Cunha] não passa na cabeça do PMDB”, disse, sobre as intenções do governo e do PT de isolar o líder peemedebista.

Com agências

Pinçado do Rede Brasil Atual

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