quarta-feira, 21 de abril de 2010

Os bastidores do quase-golpe

por Marco Aurélio Mello, em seu blog


Da série ficção, a preferida dos internautas.

Começou com um telefonema de um ator consagrado para o diretor do núcleo.

Ele estava irado com a peça promocional que foi ao ar na noite de Domingo.

Era um institucional de trinta segundos em que ele dizia apenas duas palavras.

Mas a montagem induzia o telespectador a acreditar que se tratava, não de uma campanha de aniversário da maior emissora de televisão do país, mas um mosaico grosseiro cujo slogan “a gente faz sempre mais” é uma clara alusão ao do candidato José Serra.

E para corroborar com a leviandade, ainda vinha o número quarenta e cinco assinado na peça, ao lado do logotipo.

Ao todo, foram quarenta celebridades entre as turmas das produções, humor, shows, esporte e jornalismo.

Achei até curioso a manifestação ter partido de um ator e não de um de nós.

Afinal, vendemos a eles apenas nossa força de trabalho, não nossas consciências.

Será?

Nem sei mais…

O ator foi duro e franco com o executivo da empresa.

Se alguma providência não fosse tomada, ele ia aos jornais dizer que foi vítima de manipulação.

Era tudo o que a emissora não queria ouvir nessa altura do campeonato.

Ainda que seu candidato pudesse ser o mesmo que o da emissora, ele jamais se sujeitaria a trabalhar naquelas condições.

E antes de desligar, avisou: Eu não estou sozinho.

O diretor pediu paciência, disse que ia encontrar uma saída.

Pensou em quem confiar num momento desses de conflito: talvez um executivo que tivesse bom transito com o jornalismo.

Afinal, foi coisa dos herdeiros da Corte do Cosme Velho, incentivados pelo Guardião da Doutrina da Fé, pensou.

Assim que amanheceu propôs o encontro ao executivo que considerou ser hábil o bastante para apagar o fogo.

Nisso a internet já fervilhava.

Pressões vinham de todos os lados, a opinião pública, os patrocinadores, os políticos, os amigos.

É preciso convencer a direção de que foi um tiro no pé.

Mas como fazer isso?

Juntando argumentos.

E lá foram os dois tentar convencer os acionistas de que aquilo fora um erro.

Os artistas respeitam os interesses comerciais e políticos da emissora, mas consideram que não cabe a eles exercer esse papel institucionalmente.

O artista é o vendedor de sonhos e ilusões para todos, não só para um determinado grupo político.

Afora os artistas, tem os jornalistas que emprestam sua credibilidade à emissora.

Ações assim podem arranhar para sempre esse vínculo com o telespectador.

E assim foram as tratativas durante toda a tarde.

Ok, mas qual seria a solução?

Pensaram em várias.

Ao final do encontro triunfou aquela que diz assim: “O texto do filme em comemoração aos 45 anos da Rede Globo foi criado – comprovadamente – em novembro do ano passado, quando não existiam nem candidaturas muito menos slogans. Qualquer profissional de comunicação sabe que uma campanha como esta demanda tempo para ser elaborada. Mas a Rede Globo não pretende dar pretexto para ser acusada de ser tendenciosa e está suspendendo a veiculação do filme.”

Esta noite não vai ser boa, nem para o Guardião, nem para a Central de Comunicação, e muito menos para o patrão. Nós aqui fora sabemos de tudo! O Povo não é bobo. Fiquem espertos.


Fonte: http://maureliomello.blogspot.com/2010/04/os-bastidores-do-quase-golpe.html

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