domingo, 10 de outubro de 2010

O aborto e os direitos civis: a hora da virada

por Luiz Carlos Azenha

Nordeste garante vantagem de Dilma sobre Serra no segundo turno, diz a manchete da Folha deste domingo.

Os analistas do jornal procuram associar o voto à candidata governista aos grotões — o que os números da pesquisa do próprio jornal desmentem.

O fato é que o tucano, para se eleger, se associou aos extremistas da direita. Deu a eles púlpito, palco, protagonismo político.

Uma situação desconfortável para a própria Folha, que tratou de dizer, em editorial, que o aborto é um problema de saúde pública e que deve ser descriminalizado.


A Folha trouxe para as suas páginas a Soninha, que já fez aborto, e o senador eleito Itamar Franco. Uma tentativa de arejar uma candidatura calcada no extremismo religioso.

Sempre achei que a questão do aborto poderia ser positiva para a candidatura de Dilma Rousseff.

Isso porque a classe média urbana brasileira não é obscurantista e sabe muito bem — porque frequenta as clínicas — que a classe média e os ricos tem acesso ao aborto no Brasil. Os pobres… se viram.

E a classe média urbana tem medo de que Serra, eleito, permitirá que fanáticos religiosos comecem a bloquear as clínicas, atacar médicos e pacientes e buscar os arquivos das clínicas e hospitais onde estão os nomes de centenas de milhares de brasileiras que fizeram aborto de forma clandestina. Para colocá-las na cadeia.

Foi exatamente assim que aconteceu nos Estados Unidos, onde o aborto é legal. Sete médicos foram mortos, dezenas de clínicas bombardeadas e pacientes que fizeram aborto tiveram seus nomes disseminados com o objetivo de provocar execração pública.

Felizmente, as feministas brasileiras perceberam que era hora de reagir, como fez aqui a dra. Fátima Oliveira.

Felizmente o movimento gay percebeu que era hora de reagir, como fez aqui o Toni Reis.

Sim, porque o pastor Silas Malafaia, que espalhou outdoors pelo Rio de Janeiro, fez isso como forma de apoiar a chapa José Serra/Índio da Costa.

Malafaia recebeu apoio do vice de Serra — e a revista Veja, em defesa de seu candidato, tratou de dar um apagão nas declarações do vice, suprimindo um post que tratava do assunto.

Malafaia faz campanha em defesa de Serra suprimindo alguns fatos.

O candidato, quando era ministro da Saúde, normatizou o aborto na rede pública de saúde, o SUS (aplausos para ele por ter feito isso!).

O candidato, na sabatina da Folha, defendeu a união civil entre homossexuais e a adoção de crianças por casais homossexuais (aplausos para ele por ter feito isso!).

Fica claro, no entanto, o oportunismo de ambos — Malafaia e Serra.

É uma aliança de conveniência para os extremistas e oportunismo eleitoral de José Serra, o santo.

Hoje, a candidata Dilma já contratacou dizendo que tem a gravação da mulher de Serra, Monica, dizendo que ela, Dilma, “quer matar criancinhas”.

O eleitor do povão não é bobo, como quer nos fazer crer a Folha. Nem inferior, como Maria Rita Kelh deixou claro no artigo que custou a ela a demissão do Estadão.

A classe média urbana, que rejeita o fundamentalismo religioso que sequestrou a campanha de Serra, também não é boba. Não vai entregar os direitos civis assim de mão beijada para o oportunismo eleitoral.

Serra não é apenas o passado, é o atraso. Nem Soninha, nem Itamar serão capazes de esconder isso.

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