Da Reuters
Por Isabel Versiani e Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil está gerenciando efetivamente o risco de superaquecimento econômico, mas precisa pôr em prática reformas estruturais para garantir o crescimento sustentável, disse nesta quinta-feira o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn.
O recente corte de gastos e a elevação da Selic na véspera são passos na direção certa para controlar a inflação e evitar superaquecimento, afirmou Strauss-Kahn em uma coletiva de imprensa após encontro com autoridades econômicas.
O diretor encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff. Os dois chegaram inclusive a conversar em francês.
No início da semana, o governo detalhou o plano para um corte de cerca de 50 bilhões de reais no Orçamento para 2011. Na véspera, o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que integra o Banco Central, elevou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros.
Dados divulgados nesta sessão pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a economia cresceu 7,5 por cento em 2010, a maior taxa em 24 anos.
"As medidas que foram anunciadas do lado fiscal em nossa visão vieram exatamente na direção certa. O que tem sido feito com a política monetária também está na direção correta", disse Strauss-Kahn a jornalistas em Brasília.
"Nós esperamos que o crescimento vá desacelerar, o que é mais de acordo com um crescimento de longo prazo. O objetivo não é ter o maior crescimento possível um ano, depois ter problemas no ano seguinte, mas sim ter crescimento sustentável ao longo do tempo", afirmou Strauss-Kahn a jornalistas, após encontro com o ministro da Fazenda Guido Mantega.
Ao comentar a valorização do real, o diretor do FMI afirmou que ele "pode estar parcialmente relacionado" à política de "quantitative easing" dos Estados Unidos, mas que há outras razões para o Brasil estar atraindo capital.
Olhando mais à frente, o diretor do FMI disse que política cuidadosamente calibrada será necessária.
"No curto prazo, será importante definir um mix apropriado de política para conter pressões inflacionárias e garantir um crescimento econômico sustentável no médio prazo."
O Brasil também precisa de uma revisão em seu sistema tributário, reduzir a rigidez orçamentária e melhor seu ambiente para negócios, acrescentou o diretor.
Strauss-Kahn alertou que os elevados preços do petróleo por um período prolongado poderiam impor riscos à recuperação econômica global.
O crescimento está desigual, com os Estados Unidos e a Europa ficando para trás diante da robusta expansão nos mercados emergentes, disse o diretor. A recuperação, particularmente nos Estados Unidos ainda é incerta, disse Strauss-Kahn sem dar detalhes.
Como consequência da crise econômica global, será necessária mais coordenação de política econômica entre os países, disse o diretor. Ele disse ainda que as novas regras de governança que passaram a valer nesta quinta-feira aumentarão a participação dos mercados emergentes no FMI e representaram um passo nessa direção.
O chefe do FMI também visitou o Panamá e o Uruguai, como parte de sua vinda à América Latina.
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