Entro em sala e tenho os alunos sentados [muitos em pé], um quadro-branco à frente e um livro em minhas mãos.
Só.
Eles não trazem, normalmente, os livros. Se trazem, não são todos. Neste caso, nenhum.
Vejo-me em sala entre o quadro e os alunos, com um livro na mão e o total desinteresse dos discentes em saber qualquer coisa daquele livro, de fazer qualquer coisa que se refira a minha disciplina, qualquer atividade que venha propor, qualquer exercício, qualquer atividade que tenha que os fazer pensar.
Pensar?
Fazê-los refletir sobre determinado assunto – os batimentos cardíacos e a respiração, por exemplo, como estou tratando neste momento – é tarefa inglória.
Eu tento, faço perguntas, peço para medirem os batimentos, medirem a respiração, faço uma tabela, um gráfico, faço perguntas… eles conversam.
Conversam sobre os amigos, os namorados, a comida, sobre uns e outros, sobre o futebol… Ficam o tempo todo se xingando e sacaneando mutuamente.
O tempo vai passando e a aula não rende, porque não fazem o proposto, não escrevem sobre o exercício, não pensam sobre o ocorrido, não discutem sobre a prática, não pensam sobre as perguntas.
Com exceção de dois ou três, que tentam responder e fazer o proposto, o resto conversa.
Invariavelmente, pego o livro e faço um resumo de uma parte do texto no quadro, para que copiem.
Invariavelmente, eles sentam e começam a copiar, muitas vezes em silêncio, outras conversando.
Acabam as aulas, e tenho a certeza de que dois ou três aprenderam alguma coisa, muito menos do que deveria ou do que eu queria.
Os outros copiaram algo sem o menor sentido, outros ainda nem isso fazem.
A culpa deve ser minha.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Sem ter pra quem dar aulas [aula de verdade]
Reproduzido do Diário do Professor
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