domingo, 8 de junho de 2014


Dilma tenta conter protestos com fórmula inédita: atendendo-os

Autor: Miguel do Rosário, no Tijolaço



Taí uma coisa que a mídia e oposição sequer imaginaram fazer para esvaziar os protestos de rua que vem ocorrendo em São Paulo. Atendê-los.

Antes de tomar a decisão, a imprensa já trata de pintá-la como eleitoreira, oportunista, etc. Quiçá os governos fossem mais eleitoreiros assim! Antes de reproduzir a matéria abaixo, publicada na Folha, queria dar um link para um reportagem, publicada há algumas semanas, na mesma Folha.

A matéria fala de um governo que está dando moradia definitiva, em grande escala para sem-teto das grandes cidades.

Em qual país acontece isso? Pense num país bem comunista, bolivariano e com governo autoritário.

Sim, ele mesmo, os Estados Unidos. Governo federal, prefeituras e Ongs procuram sem-teto para lhes dar moradias definitivas, em geral imóveis cujo aluguel será pago pelo próprio governo.

Os europeus já cuidam de seus sem-teto há décadas. Os EUA estão descobrindo hoje que é mais econômico fazê-lo do que não fazer nada.

Dilma dá ainda outra lição importante. O governo não é contra manifestações. Mas estas, para darem certo, precisam ter pautas definidas, e os movimentos que as lideram precisam estar abertos ao diálogo.

E os movimentos precisam se preparar para uma etapa importante em suas vidas: serem atendidos. Sim, porque no momento em que são atendidos, inicia-se uma outra fase. Pra começar, a imprensa conservadora se tornará ainda mais furiosa, e chamará o cumprimento das demandas do movimento de “cooptação”.

Quiçá todos os governos “cooptassem” os movimentos sociais atendendo suas demandas! Os movimentos que pedem democratização da mídia adorariam ser “cooptados” com uma decisão do governo de… democratizar a mídia.

Abaixo, a matéria da Folha, de hoje, sobre a decisão de Dilma de incluir os sem-teto, de forma massiva, no programa Minha Casa, Minha Vida.

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NATUZA NERY
VALDO CRUZ
NA FOLHA, DE BRASÍLIA

Para tentar neutralizar protestos e os consequentes danos à imagem do governo, a presidente Dilma Rousseff ordenou que sua equipe encontre uma forma de incluir os sem-teto no programa Minha Casa, Minha Vida.

Segundo a Folha apurou, a demanda fez com que ela adiasse o lançamento da terceira geração do programa para elaborar uma proposta que contemple os movimentos.

O foco do governo está, especialmente, no MTST (Movimentos dos Trabalhadores Sem-Teto), grupo social mais atuante nos últimos meses.

A reforma no Minha Casa é justamente uma das razões para os protestos que os sem-teto têm feito recentemente.

Na quarta (4), o líder Guilherme Boulos reuniu 12 mil pessoas em ato diante do estádio Itaquerão (zona leste).

Entre as exigências do grupo está a desapropriação de área ocupada por 4.000 famílias, chamada de Copa do Povo, perto da arena, palco de abertura da Copa. O governo estuda comprar o terreno.

Após a oferta de diálogo do governo, o MTST topou uma trégua durante o amistoso da seleção na sexta (6).

A ideia é incluir os sem-teto dentro de um dos braços da ação governamental, chamado de “entidades”, modalidade na qual o Executivo libera recursos, e a própria organização executa as obras.

Os sem-teto, hoje, não estão excluídos do Minha Casa. Podem, individualmente, candidatar-se a uma casa do programa. A intenção do governo, porém, é atrair coletivamente o MTST para a iniciativa como entidade, negociando uma verba considerada suficiente pelo movimento para atender seus integrantes no curto e médio prazos.

A presidente ordenou que os ministérios das Cidades, do Planejamento e a Secretaria-Geral negociassem com os sem-teto para criar uma solução capaz de atender reivindicações e evitar protestos.

Para o governo, o MTST é o movimento com maior poder de mobilização na Copa. Representa, assim, a maior dor de cabeça neste momento.

Uma das principais marcas de Dilma, o Minha Casa será vitrine petista na eleição. Isso explica a disposição de anunciar uma terceira rodada do programa antes da largada oficial da campanha, uma forma de tentar reduzir o pessimismo da população de baixa renda, eleitorado hoje menos fiel do que no passado.

Em evento no Planalto, a presidente disse que o número de novas habitações ficará entre 3 milhões e 4 milhões de casas. O piso já configura a maior meta do programa. Na primeira rodada, o governo anunciou 1 milhão de casas; na segunda, 2,75 milhões.

O setor da construção pressiona a gestão a criar uma faixa adicional no Minha Casa para atrair os mais pobres, com renda inferior a R$ 1.600.

A Folha apurou que, por exigência de Dilma, técnicos do governo tentam montar um modelo de moradia com qualidade e tamanho superiores aos das fases anteriores.

A presidente tem achado as casas muito pequenas. Para ela, habitações iguais e enfileiradas dão aspecto de “favela”, principalmente porque os moradores constroem divisórias sem padrão.

Até hoje, 1,7 milhão de casas foi entregue. Entre elas, 50 mil para entidades e 120 mil para trabalhadores rurais.

O programa tem três faixas. A primeira tem subsídio do governo quase integral e atende famílias com renda até R$ 1.600. O beneficiário paga uma prestação de 5% de sua renda, o que dá, no máximo, R$ 80 por mês.

É nessa faixa que se enquadram as entidades, como o MTST.

A segunda atende famílias com renda até R$ 3.275. É feita com um mix de subsídio e financiamento. A terceira é para famílias com renda entre R$ 3.275 e R$ 5.000, financiada com recursos do FGTS.

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