quinta-feira, 12 de junho de 2014

Renan e a mídia: uma história de amor


O que os grupos de mídia, Renan Calheiros, Henrique Alves, Álvaro Dias e Pedro Taques têm em comum? Tudo. Representam a face da mesma moeda: um modelo político velho, superado e que resiste em dar espaço ao novo.

Junte-se ao grupo o atual formato do Executivo, e se terá todos os protagonistas de uma estrutura de poder que já se esgotou. Nela, as demandas da sociedade – de grupos sociais mas, principalmente, de grupos econômicos – ainda passam por sua intermediação.

É por isso mesmo que, inimigos cordiais, todos se irmanaram no combate à Política Nacional de Participação Social – o decreto que Dilma Rousseff assinou a contragosto, pressionada pela necessidade de dar uma resposta às manifestações de junho de 2013.

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Mais sábio e mais safo dos políticos, em 2009, em uma entrevista memorável o então presidente do Senado José Sarney já prognosticava os novos tempos.

Historicamente, mídia e políticos disputaram a primazia de quem falava pela opinião pública. Dos anos 90 para cá surgiram as organizações sociais que passaram a falar com muito mais autoridade que os políticos em relação aos temas que defendiam. Agora, será a vez das redes sociais ocuparem o espaço da mídia, disse Sarney em 2009.

É esse sentimento, de perda de protagonismo, que coloca do mesmo lado velhos inimigos cordiais.

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Tome-se o exemplo da Conferência Nacional da Mídia. O encontro juntou ativistas digitais, representantes das teles, da ANJ (Associação Nacional dos Jornais), da Abert (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão).

Todos tiveram que jogar às claras e negociar com as demais partes envolvidas.

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Qual seria a forma tradicional de atuação das teles? Uma delas seria articular o lobby junto aos grupos de mídia. Outra, a de montar lobby no Legislativo através do PMDB de Eduardo Cunha. Uma terceira, acertar o lobby no Executivo através do Ministro Paulo Bernardo. Aliás, o que têm feito com competência.

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Outro exemplo do confronto entre o novo e o velho:

A Conferência de Educação reuniu ONGs do setor privado, sindicatos da categoria e conseguiu, depois de muita discussão, um consenso inédito no setor: o professor tem que ser bem remunerado e ter as melhores condições de trabalho; atendidos os dois pressupostos, têm que ser avaliado e cobrado.

É a garantia de continuidade na política educacional, independentemente do governo de plantão – como já ocorre com a saúde. Não definem leis, mas consolidam consensos, recomendações, legitimam demandas.

A Conferência definiu a Meta 4, tornando obrigatória a aceitação de crianças com deficiência pela rede regular de ensino. O que a velha política fez? Dilma pressionou pessoalmente senadores para flexibilizar a meta atendendo a pedido de Gleize Hoffmann, candidata ao governo do Paraná.

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Hoje em dia, existem diversos conselhos empresariais reunidos no âmbito da ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial) subaproveitados, enquanto do Executivo pululam decretos sobre a indústria, mal elaborados justamente pela ausência de interlocução com o setor privado.

É esse o modelo que se quer preservar?

Varguismo, bolivarianismo e outros ismos são meros álibis. O que move essa resistência é o medo da transparência.

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