Para entender o jornalismo da Folha.
O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) tem duas formas de atuação: diretamente ou através de bancos intermediários. Trata diretamente dos grandes projetos de financiamento, especialmente grandes obras de infra-estrutura que não interessam aos bancos – devido ao porte, ao risco de carteira.
Depois, através do sistema bancário, faz repasses especialmente para pequenas e médias empresas.
No domingo, a Folha traz uma matéria sensacionalista contra o banco. A manchete dizia que 57% dos recursos do banco eram repassados para apenas doze empresas.
BNDES repassa 57% dos recursos a 12 empresas
No box, o repórter Ricardo Balthazar explicava como chegou aos números. O título da matéria era "Lista de operações divulgada pelo banco é de difícil consulta".
Todas as operações diretas estão disponíveis no site do banco. O repórter juntou, somou... mas deixou de fora as operações indiretas, feitas com recursos do BNDES.
A manchete virou o editorial "Hora da verdade", veja só. E, depois, repercussão pela Mirian Leitão e plo Rolf Kuntz.
Ontem o presidente do banco, Luciano Coutinho, deu entrevista explicando que a Folha simplesmente ignorou a parcela dos recursos do banco repassados para a rede comercial – e que vão para pequenas e médias empresas.
No Painel do Leitor de hoje, o assessor da presidência do banco, Fábio Kerche, traz as explicações:
BNDES
A Folha errou ao publicar a manchete "BNDES repassa 57% dos recursos a 12 empresas" (Primeira Página, 8/8). O mesmo teor da reportagem também foi reproduzido no editorial "Hora da verdade" (ontem). O texto fez um recorte parcial dos dados disponibilizados pela instituição em seu portal, sem considerar em seu cálculo as operações indiretas automáticas, responsáveis por parte considerável das contratações e desembolsos do banco, especialmente para micro, pequenas e médias empresas.
Considerando estas operações de menor porte, que representam 23,5% dos desembolsos do Banco entre janeiro de 2008 e junho de 2010, o peso dos 12 maiores clientes no conjunto das operações do BNDES atinge 30,1%. Além disso, a tendência recente não é de concentração, mas de uma maior abrangência e democratização do crédito do BNDES.
FÁBIO KERCHE, assessor da presidência do BNDES (Rio de Janeiro, RJ)
O jornal admitiu a barriga? Nem de longe.
O repórter Baltazar (que poderia ter solicitado não assinar a matéria) escreve outra dizendo que o BNDES "tenta desfazer a impressão". E o que diz a respeito do argumento central (a de que a reportagem "esqueceu" de incluir os repasses bancários)?
A Folha analisou todas as operações cujos beneficiários são identificados pelo banco e calculou o grau de concentração dos repasses sem considerar outras transações feitas pelo BNDES, sobre as quais ele não divulga informações detalhadas.
Fantástico! Qualquer foca sabe que os repasses são feitos de forma pulverizada a clientes. Mas como o repórter não teve acesso aos milhares de clientes atendidos por essas linhas, tirou-os da conta. Não precisaria saber nome de clientes: basta constatar que esses empréstimos são pulverizados, informação que é de conhecimento geral.
A matéria é sobre concentração de financiamento. Sabe-se que os repasses são desconcentrados. Então a Folha não os inclui na conta, porque não consegue identificar os clientes pulverizados.
Incluindo esses recursos, a tal concentração de 57% cai para 28,7%.
Qualquer leitor bem informado percebe a má fé do jornal meramente lendo a edição do dia. Não se trata de opinião, mas de manipulação de informação.
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