Dilma na cova dos leões”, sobre a presença da presidenta (lá, auto-apresentada como “presidente”) na festa de 90 anos da Folha de S.Paulo. A maioria concordou comigo, pelo menos na minha caixa de mensagem e na minha coluna eletrônica na CartaCapital. Quem foi contra, ou por convicção, ou por militância pura e simples, usou basicamente o argumento de que a presidenta deu um “tapa de luva de pelica” na mídia oposicionista como parte de uma estratégia política muito sofisticada. Balela. Em minha opinião, e de muitos outros, ela foi ingênua, equivocada e, basicamente, mal assessorada. Tem muito tempo, contudo, para corrigir rumos.
A velha mídia brasileira é de direita e reacionária, tanto politicamente como nos modos. Não aceitou o operário semi-letrado Lula, obrigado a se retirar de um encontro na sede da Folha de S.Paulo, durante a campanha eleitoral de 2002, por assim ter sido chamado, em outros termos, pelo atual dono (na época, filho do dono) do jornal. Negou-se as ser humilhado por não saber falar inglês. A mesma Folha não aceita sua sucessora, poliglota, mas mulher e de esquerda, a quem já tratou de vadia, vagabunda e terrorista, com direito à publicação, na primeira página, de uma falsa ficha policial forjada por grupos de militares, viúvas da ditadura, na internet.
No começo do primeiro governo Lula, quando a velha mídia ainda sonhava com o “Proer da imprensa”, ou seja, com uma política de generosa distribuição de verbas do BNDES para estancar a sangria financeira de diversos grupos de comunicação, como FHC fez com os bancos privados, tudo era lindo e maravilhoso. Mas, aí, a grana não veio e, para piorar, a Polícia Federal do Dr. Paulo Lacerda, que chegou a ganhar uma capa da Veja com ares de esquadrão Power Ranger, começou a fuçar os crimes de colarinho branco, invadir a Daslu e prender o banqueiro Daniel Dantas. A partir de 2005, então, Lula passou a ser o governo do “mensalão” e, daí em diante, foi fustigado diariamente, de forma vil e, não raramente, mentirosa, de tal maneira que a boa e necessária crítica ao governo se perdeu na ignomínia das redações. O Dr. Lacerda, de arauto de uma polícia republicana exemplar, por exemplo, passou a dono de conta clandestina em paraíso fiscal (notícia falsa passada à Veja por Daniel Dantas) e grampeador do ministro Gilmar Mendes (notícia falsa passada à Veja, imagina-se por quem).
É nesse covil que Dilma se meteu, mas seus admiradores (nem todos, felizmente) teimaram em interpretar como um tapa de luva de pelica. Só se foi nos olhos do eleitor.
Voltei ao assunto, na verdade, porque entre as reações ao artigo, a mais engraçada foi, justamente, na Folha de S.Paulo, em um artigo obscuro de um articulista de quem eu nunca tinha ouvido falar. Ele se chama Antonio Athayde e é consultor da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Foi, também, executivo sênior (?) da Rede Globo, da Rede Bandeirantes e do SBT, Além de ter trabalhado para o Grupo Abril, que edita a revista Veja. Ou seja, o cara não é fraco não.
Soube do artigo, intitulado “Como tornar a irrelevância relevante”, por meio de Conceição Oliveira, do excelente blog “Maria Frô”, ao citar um post do meu amigo e cidadão sempre vigilante Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, que não é jornalista, mas faz inveja a muitos colegas de profissão. Eu, inclusive, por ser defensor do diploma, costumo escondê-lo das visitas sempre que posso.
No artigo em questão, Athayde monta uma rápida e sinuosa tese sobre o Google News, o serviço de notícias do Google, por ele considerado uma espécie de conspiração robótica a serviço da irrelevância. No caso, os milhares de sites, blogs e jornalistas independentes que não fazem parte da ANJ nem podem pagar pela consultoria de um executivo sênior (?). Por isso, o Google News, esse serviço irrelevante de uma empresa que vale 125 bilhões de dólares, teria sido montado, pela lógica de Athayde, para evitar a disseminação das notícias realmente relevantes, ou seja, as que são veiculadas pela velha mídia, da qual o articulista foi um orgulhoso executivo sênior (?) e a qual, hoje, representa na ANJ, órgão oficial da oposição, segundo a própria presidente da entidade, Judith Brito – aliás, executiva (sênior?) da Folha de S.Paulo.
(Parênteses necessários: esse negócio de “executivo sênior” é a mesma coisa que “repórter especial”, ou seja, uma forma de demonstrar que, embora você seja só repórter mesmo, ganha mais que os outros, na maioria das vezes, porque é mais velho ou porque presta mais serviços, digamos, relevantes)
De volta ao artigo de Athayde. Lá pelas tantas, para justificar a tese, cita alguns exemplos de irrelevância por ele detectados, entre os quais, as notícias sobre os 90 anos da Folha de S.Paulo. Em primeiro lugar, no Google News, aparece o quê? Isso mesmo, o meu post intitulado “Dilma na cova dos leões”, o único, entre os citados por Athayde ao longo do texto, que vem sem crédito – nem do autor, nem do blog, nem da revista onde eu trabalho.
Assim escreveu o ex-executivo sênior (?) Antonio Atahyde:
Quero saber a situação da Líbia; são 15:30 do dia 23/2, e digito “SITUAÇÃO LÍBIA” no Google News. O resultado: “Conselho de Direitos Humanos da ONU aborda situação da Líbia (Angola Press – há sete horas)”. Interesso-me pela Itália: digito “PROCESSO BERLUSCONI” e meu resultado é “A “batalha final” contra Berlsuconi (PlanetaOsasco.com – há 13 horas”).
E sobre os 90 anos da Folha?
“Dilma na cova dos leões; aniversário do jornal “Folha” (PlanetaOsasco.com – há 3 horas)”.
Depois, o articulista conclui:
Os indianos que definem a “relevância” de notícias não sabem o que realmente interessa a um habitante da cidade de São Paulo, que gosta de ler a Folha e “O Estado de S. Paulo”.
Só por curiosidade, dei um Google para saber de que indianos Antonio Atahyde estava falando. Certamente não era dos criadores do Google. Um deles, Sergey Brin, é russo de nascimento, mas emigrou para os Estados Unidos aos seis anos de idade. O outro, Larry Page, é americano, de Michigan. Vai ver os robôs é que são indianos, sei lá, não tive paciência para me aprofundar nessa pesquisa.
No fim as contas, só tenho um pedido a Antonio Athayde, em meu nome, em nome do “Brasília, eu vi” e em nome da CartaCapital: para, no mínimo, termos o mesmo tratamento dispensado ao “PlanetaOsasco.com” e à “Angola Press”, pô!
Foram muitas as reações ao meu post anterior, “A velha mídia brasileira é de direita e reacionária, tanto politicamente como nos modos. Não aceitou o operário semi-letrado Lula, obrigado a se retirar de um encontro na sede da Folha de S.Paulo, durante a campanha eleitoral de 2002, por assim ter sido chamado, em outros termos, pelo atual dono (na época, filho do dono) do jornal. Negou-se as ser humilhado por não saber falar inglês. A mesma Folha não aceita sua sucessora, poliglota, mas mulher e de esquerda, a quem já tratou de vadia, vagabunda e terrorista, com direito à publicação, na primeira página, de uma falsa ficha policial forjada por grupos de militares, viúvas da ditadura, na internet.
No começo do primeiro governo Lula, quando a velha mídia ainda sonhava com o “Proer da imprensa”, ou seja, com uma política de generosa distribuição de verbas do BNDES para estancar a sangria financeira de diversos grupos de comunicação, como FHC fez com os bancos privados, tudo era lindo e maravilhoso. Mas, aí, a grana não veio e, para piorar, a Polícia Federal do Dr. Paulo Lacerda, que chegou a ganhar uma capa da Veja com ares de esquadrão Power Ranger, começou a fuçar os crimes de colarinho branco, invadir a Daslu e prender o banqueiro Daniel Dantas. A partir de 2005, então, Lula passou a ser o governo do “mensalão” e, daí em diante, foi fustigado diariamente, de forma vil e, não raramente, mentirosa, de tal maneira que a boa e necessária crítica ao governo se perdeu na ignomínia das redações. O Dr. Lacerda, de arauto de uma polícia republicana exemplar, por exemplo, passou a dono de conta clandestina em paraíso fiscal (notícia falsa passada à Veja por Daniel Dantas) e grampeador do ministro Gilmar Mendes (notícia falsa passada à Veja, imagina-se por quem).
É nesse covil que Dilma se meteu, mas seus admiradores (nem todos, felizmente) teimaram em interpretar como um tapa de luva de pelica. Só se foi nos olhos do eleitor.
Voltei ao assunto, na verdade, porque entre as reações ao artigo, a mais engraçada foi, justamente, na Folha de S.Paulo, em um artigo obscuro de um articulista de quem eu nunca tinha ouvido falar. Ele se chama Antonio Athayde e é consultor da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Foi, também, executivo sênior (?) da Rede Globo, da Rede Bandeirantes e do SBT, Além de ter trabalhado para o Grupo Abril, que edita a revista Veja. Ou seja, o cara não é fraco não.
Soube do artigo, intitulado “Como tornar a irrelevância relevante”, por meio de Conceição Oliveira, do excelente blog “Maria Frô”, ao citar um post do meu amigo e cidadão sempre vigilante Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, que não é jornalista, mas faz inveja a muitos colegas de profissão. Eu, inclusive, por ser defensor do diploma, costumo escondê-lo das visitas sempre que posso.
No artigo em questão, Athayde monta uma rápida e sinuosa tese sobre o Google News, o serviço de notícias do Google, por ele considerado uma espécie de conspiração robótica a serviço da irrelevância. No caso, os milhares de sites, blogs e jornalistas independentes que não fazem parte da ANJ nem podem pagar pela consultoria de um executivo sênior (?). Por isso, o Google News, esse serviço irrelevante de uma empresa que vale 125 bilhões de dólares, teria sido montado, pela lógica de Athayde, para evitar a disseminação das notícias realmente relevantes, ou seja, as que são veiculadas pela velha mídia, da qual o articulista foi um orgulhoso executivo sênior (?) e a qual, hoje, representa na ANJ, órgão oficial da oposição, segundo a própria presidente da entidade, Judith Brito – aliás, executiva (sênior?) da Folha de S.Paulo.
(Parênteses necessários: esse negócio de “executivo sênior” é a mesma coisa que “repórter especial”, ou seja, uma forma de demonstrar que, embora você seja só repórter mesmo, ganha mais que os outros, na maioria das vezes, porque é mais velho ou porque presta mais serviços, digamos, relevantes)
De volta ao artigo de Athayde. Lá pelas tantas, para justificar a tese, cita alguns exemplos de irrelevância por ele detectados, entre os quais, as notícias sobre os 90 anos da Folha de S.Paulo. Em primeiro lugar, no Google News, aparece o quê? Isso mesmo, o meu post intitulado “Dilma na cova dos leões”, o único, entre os citados por Athayde ao longo do texto, que vem sem crédito – nem do autor, nem do blog, nem da revista onde eu trabalho.
Assim escreveu o ex-executivo sênior (?) Antonio Atahyde:
Quero saber a situação da Líbia; são 15:30 do dia 23/2, e digito “SITUAÇÃO LÍBIA” no Google News. O resultado: “Conselho de Direitos Humanos da ONU aborda situação da Líbia (Angola Press – há sete horas)”. Interesso-me pela Itália: digito “PROCESSO BERLUSCONI” e meu resultado é “A “batalha final” contra Berlsuconi (PlanetaOsasco.com – há 13 horas”).
E sobre os 90 anos da Folha?
“Dilma na cova dos leões; aniversário do jornal “Folha” (PlanetaOsasco.com – há 3 horas)”.
Depois, o articulista conclui:
Os indianos que definem a “relevância” de notícias não sabem o que realmente interessa a um habitante da cidade de São Paulo, que gosta de ler a Folha e “O Estado de S. Paulo”.
Só por curiosidade, dei um Google para saber de que indianos Antonio Atahyde estava falando. Certamente não era dos criadores do Google. Um deles, Sergey Brin, é russo de nascimento, mas emigrou para os Estados Unidos aos seis anos de idade. O outro, Larry Page, é americano, de Michigan. Vai ver os robôs é que são indianos, sei lá, não tive paciência para me aprofundar nessa pesquisa.
No fim as contas, só tenho um pedido a Antonio Athayde, em meu nome, em nome do “Brasília, eu vi” e em nome da CartaCapital: para, no mínimo, termos o mesmo tratamento dispensado ao “PlanetaOsasco.com” e à “Angola Press”, pô!
22/02/2011
Dilma na cova dos leões
Posted by Leandro Fortes under Mídia Portal UOL, lê-se, não sem certo espanto: “Estou aqui representando a Presidência da República. Estou aqui como presidente da República”. Das duas uma: ou Dilma abriu mão, em um discurso oficial, de sua batalha pessoal para ser chamada de “presidenta”, ou, mais grave, a transcrição de seu discurso foi alterada para se enquadrar aos ditames do anfitrião, que a chama ostensivamente de “presidente”, muito mais por birra do que por purismo gramatical.
Caso tenha, de fato, por conta própria, aberto mão do título de “presidenta” que, até então, lhe parecia tão caro, este terá sido, contudo, o menor dos pecados de Dilma Rousseff no regabofe de 90 anos da Folha.
Explica-se: é a mesma Folha que estampou uma ficha falsa da atual presidenta em sua primeira página, dando início a uma campanha oficial que pretendia estigmatizá-la, às vésperas da campanha eleitoral de 2010, como terrorista, assaltante de banco e assassina. A ela e a seus companheiros de luta, alguns mortos no combate à ditadura.
Ditadura, aliás, chamada de “ditabranda”, pela mesma Folha.
Esta mesma Folha que, ainda na campanha de 2010, escalou um colunista para, imbuído de sutileza cavalar, chamá-la, e à atual senadora Marta Suplicy, de vadia e vagabunda.
Essa mesma Folha, ora homenageada com a presença de Dilma Rousseff.
Digo o menor dos pecados porque o maior, o mais grave, o inaceitável, não foi o de submeter a Presidência da República a um duvidoso rito de diplomacia de uma malfadada estratégia de realpolitik. O pecado capital de Dilma foi ter, quase que de maneira singela, corroborado com a falsa retórica da velha mídia sobre liberdade de imprensa e de expressão. Em noite de gala da rua Barão de Limeira, a presidenta usou como seu o discurso distorcido sobre dois temas distintos transformados, deliberadamente, em um só para, justamente, não ser uma coisa nem outra. Uma manipulação conceitual bolada como estratégia de defesa e ataque prévios à possível disposição do governo em rever as leis e normas que transformaram o Brasil num país dominado por barões de mídia dispostos, quando necessário, a apelar para o golpismo editorial puro e simples.
A liberdade de expressão que garantiu o surgimento de uma blogosfera crítica e atuante durante a guerra eleitoral de 2010 nada tem a ver com aquela outra, defendida pela Associação Nacional dos Jornais, comandada por uma executiva da Folha de S.Paulo. São posições, na verdade, antagônicas. A Dilma, é bom lembrar, a Folha jamais pediu desculpas (nem a seus próprios leitores, diga-se de passagem) por ter ostentado uma ficha falsa fabricada por sites de extrema-direita e vendida, nas bancas, como produto oficial do DOPS. Jamais.
Ao comparecer ao aniversário da Folha, a quem, imagina-se, deve ter processado por conta da ficha falsa, Dilma se fez acompanhar de um séquito no qual se incluiu o ministro da Justiça. Fez, assim, uma concessão que está no cerne das muitas desgraças recentes da história política brasileira, baseada na arte de beijar a mão do algoz na esperança, tão vã como previsível, de que esta não irá outra vez se levantar contra ela. Ledo engano. Estão a preparar-lhe uma outra surra, desta feita, e sempre por ironia, com o chicote da liberdade de imprensa, de expressão, cada vez mais a tomar do patriotismo o status de último refúgio dos canalhas.
Dilma foi torturada em um cárcere da ditadura, esta mesma, dita branda, que usufruiu de veículos da Folha para transporte e remoção de prisioneiros políticos – acusação feita pela jornalista Beatriz Kushnir no livro “Cães de guarda” (Editora Boitempo), nunca refutada pelos donos do jornal.
A presidenta conhece a verdadeira natureza dos agressores. Deveria saber, portanto, da proverbial inutilidade de se colocar civilizadamente entre eles.
Na íntegra do discurso de Dilma Rousseff proferido na cerimônia de aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, disponibilizado na internet pela página do Caso tenha, de fato, por conta própria, aberto mão do título de “presidenta” que, até então, lhe parecia tão caro, este terá sido, contudo, o menor dos pecados de Dilma Rousseff no regabofe de 90 anos da Folha.
Explica-se: é a mesma Folha que estampou uma ficha falsa da atual presidenta em sua primeira página, dando início a uma campanha oficial que pretendia estigmatizá-la, às vésperas da campanha eleitoral de 2010, como terrorista, assaltante de banco e assassina. A ela e a seus companheiros de luta, alguns mortos no combate à ditadura.
Ditadura, aliás, chamada de “ditabranda”, pela mesma Folha.
Esta mesma Folha que, ainda na campanha de 2010, escalou um colunista para, imbuído de sutileza cavalar, chamá-la, e à atual senadora Marta Suplicy, de vadia e vagabunda.
Essa mesma Folha, ora homenageada com a presença de Dilma Rousseff.
Digo o menor dos pecados porque o maior, o mais grave, o inaceitável, não foi o de submeter a Presidência da República a um duvidoso rito de diplomacia de uma malfadada estratégia de realpolitik. O pecado capital de Dilma foi ter, quase que de maneira singela, corroborado com a falsa retórica da velha mídia sobre liberdade de imprensa e de expressão. Em noite de gala da rua Barão de Limeira, a presidenta usou como seu o discurso distorcido sobre dois temas distintos transformados, deliberadamente, em um só para, justamente, não ser uma coisa nem outra. Uma manipulação conceitual bolada como estratégia de defesa e ataque prévios à possível disposição do governo em rever as leis e normas que transformaram o Brasil num país dominado por barões de mídia dispostos, quando necessário, a apelar para o golpismo editorial puro e simples.
A liberdade de expressão que garantiu o surgimento de uma blogosfera crítica e atuante durante a guerra eleitoral de 2010 nada tem a ver com aquela outra, defendida pela Associação Nacional dos Jornais, comandada por uma executiva da Folha de S.Paulo. São posições, na verdade, antagônicas. A Dilma, é bom lembrar, a Folha jamais pediu desculpas (nem a seus próprios leitores, diga-se de passagem) por ter ostentado uma ficha falsa fabricada por sites de extrema-direita e vendida, nas bancas, como produto oficial do DOPS. Jamais.
Ao comparecer ao aniversário da Folha, a quem, imagina-se, deve ter processado por conta da ficha falsa, Dilma se fez acompanhar de um séquito no qual se incluiu o ministro da Justiça. Fez, assim, uma concessão que está no cerne das muitas desgraças recentes da história política brasileira, baseada na arte de beijar a mão do algoz na esperança, tão vã como previsível, de que esta não irá outra vez se levantar contra ela. Ledo engano. Estão a preparar-lhe uma outra surra, desta feita, e sempre por ironia, com o chicote da liberdade de imprensa, de expressão, cada vez mais a tomar do patriotismo o status de último refúgio dos canalhas.
Dilma foi torturada em um cárcere da ditadura, esta mesma, dita branda, que usufruiu de veículos da Folha para transporte e remoção de prisioneiros políticos – acusação feita pela jornalista Beatriz Kushnir no livro “Cães de guarda” (Editora Boitempo), nunca refutada pelos donos do jornal.
A presidenta conhece a verdadeira natureza dos agressores. Deveria saber, portanto, da proverbial inutilidade de se colocar civilizadamente entre eles.
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