por Rodrigo Vianna
O serrismo iniciou a operação para salvar Antônio Ferreira Pinto – o secretário de Segurança que foi filmado conversando com um repórter da “Folha” em shopping de São Paulo (quatro dias depois, o repórter publicou matéria com denúncias contra um assessor da secretaria, que integraria grupo rival de Ferreira Pinto na pasta; segundo a matéria, Tulio Khan ”vendia” informaçõe sigilosas através de uma consultoria privada – tudo com “aprovação informal” da secretaria).
O primeiro sinal da “operação de salvamento do Pinto” (com todo respeito) veio na quinta-feira, com um texto no blog de um daqueles jornalistas da “Veja”. A linha da defesa era: o secretário é um “homem bom” (copyright – Professor Hariovaldo) e foi vítima de uma operação de espionagem armada pela “banda podre” da polícia. Depois, o tal blogueiro desfiou números dos bons serviços prestados por Ferreira Pinto ao bravo povo bandeirante.
Hoje, a “Folha de S. Paulo” adotou a mesma linha. Chamada na capa questionando o shopping (que cedeu as imagens), e artigo de Fernando Barros e Silva, sob o título: ”A quem interessa espionar o titular da Segurança?”. A cobertura, digamos, “jornalística” do episódio a “Folha” deslocou para o caderno “Cotidiano” – longe das páginas de “Política”. Hum…
Acho que a “Folha” faz bem em perguntar “a quem interessa espionar o secretário de Segurança”. Evidentemente, alguém estava na cola do secretário, viu o encontro dele com o repórter, e acionou a equipe de segurança do shopping para obter as imagens. O subtexto da “reportagem” da “Folha” e do artigo do Fernando Barros e Silva é: Ferreira Pinto está sendo perseguido pela “banda podre” da polícia.
Ok. Pode até ser. E isso seria grave mesmo.
O estranho é a “Folha” não fazer outras perguntas. Então, humildemente, faço-as aqui.
1) Por que o secretário foi conversar com repórter no shopping, em vez de recebê-lo em seu gabinete? O secretário não queria que ninguém na secretaria testemunhasse o encontro? (isso mostra o grau de divisão que há na secretaria, e entre os tucanos de São Paulo de forma geral…).
2) Se o secretário Ferreira Pinto foi o responsável, como sugerem as imagens no shopping, por vazar para o jornalista Mario Cesar Carvalho informações sobre as atividades, digamos, pouco republicanas do assessor Tulio Khan, por que o próprio secretário não demitiu antes Tulio Khan? (isso compromete um pouco a imagem de “homem bom” que Ferreira Pinto tenta vender para justificar sua permanência no cargo)
3) Se um ministro de Lula (ou um secretário de Marta, quando prefeita de São Paulo) fosse flagrado com envelope debaixo do braço, e depois reunido com um blogueiro sujo fora do horário de expediente, a “Folha” estaria cobrando explicações do shopping, ou estaria partindo pra cima do governo? (isso mostra, como se fossem necessárias ainda provas adicionais, a diferença de tratamento da velha mídia para tucanos e petistas).
Além das perguntas singelas acima, acho importante relembrar alguns pontos:
- esse episódio é parte da guerra fratricida travada entre os tucanos, como escrevi aqui;
- essa guerra começou muito antes, documentos do wikileaks mostram como os serristas se referiam a Alckmin durante a disputa pela candidatura presidencial em 2006, com você pode ler aqui;
- em novembro de 2010, quando Alckmin montava o secretariado, a “Folha” (sempre ela) trouxe reportagem do mesmo Mario Cesar Carvalho defendendo a tese de que tirar Ferreira Pinto da Secretaria de Segurança seria uma rendição à “banda podre” da polícia (a reportagem, por “coincidência”, interessava a Serra – que pretendia manter o afilhado Ferreira Pinto na pasta; ou seja: a Folha teria feito lobby para manter um secretário serrista no governo de Alckmin); a “Folha” está afundada até o pescoço nessa história, e fará de tudo para virar o jogo, tentando transformar episódio em “grave violação dos preceitos constitucionais”.
- a imagem do secretário com o repórter não foi divulgada em nenhuma TV, não saiu no rádio nem no jornal – foi publicada “apenas” em blogs; portanto, a “Folha” gasta umas três páginas (com chamada de capa) para responder a meia dúzia de blogs sujos (o que mostra como o jogo da comunicação no Brasil tornou-se mais complexo).
Por fim, a pergunta mais importante: por que Serra (e o jornalismo serrista) estariam tão preocupados em manter Ferreira Pinto no cargo? Certamente, não é porque ele é um “homem bom” a serviço da liga da Justiça bandeirante!
A resposta está na política… A Secretaria de Segurança de São Paulo é mais importante que muito ministério em Brasília. Mexe com dezenas de nomeações de delegados e policiais. E por ela passam invesigações importantes. Dois exemplos singelos: o caso que envolve o cunhado de Geraldo Alckmin, e a investigação sobre Paulo Preto. Os dois casos são conduzidos pelo Ministério Público. Mas a polícia civil é (sempre) o braço operacional nas investigações.
Interessa a Serra ter o comando de uma secretaria que pode, digamos, direcionar investigações que mexem com a composição de forças do tucanismo em São Paulo.
O caso Ferreira Pinto é tão grave que pode levar parte da base aliada de Alckmin a pedir uma CPI na Assembléia Legislativa. Pelo menos quatro deputados estaduais da base já manifestaram interesse em pedir investigação sobre Fereira Pinto. O que move os parlamentares não é interesse público. Pinto tem-se mostrado duro (com todo respeito) no trato com parlamentares: nega-se a atender pleitos políticos para nomeações de delegados e teria destratado dois parlamentares em audiências recentes.
Alckmin gostaria de rifar logo Ferreira Pinto. Mas se o fizer agora, o jornalismo serrista vai espalhar que ele “cedeu à banda podre”. Mas a decisão de trocar o secretário, garantem fontes na Assembléia Legislativa de São Paulo, já estaria tomada.
Vão voar mais penas de tucanos por aí. A “Folha” e o blogueiro da “Veja” podem ajudar a recolhê-las… Boa sorte a eles.
Retirado do Escrevinhador
Nenhum comentário:
Postar um comentário