Mesmo que Israel e a Autoridade Palestina consigam escalar uma montanha de ceticismo e selar um acordo de paz dentro de 12 meses, para 40 por cento dos palestinos nada mudará, pois eles vivem na Faixa de Gaza, o famoso "bode na sala" das negociações.
O grupo islâmico Hamas, que governa esse território litorâneo, diz que nunca dará aquilo que Israel mais deseja num acordo de paz: o reconhecimento da sua existência e um lugar legítimo no Oriente Médio.
A negociação com Israel será feita pela facção Fatah, que governa a Cisjordânia e é vista pelo Hamas como um grupo de conciliadores e traidores. O Hamas não participará das negociações previstas para os próximos meses.
Há 20 anos, textos-base das negociações preveem o "estabelecimento de um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza". Mas, ao menos num primeiro momento, se mantida a atual situação, isso será uma ficção. Na prática, os 1,7 milhão de palestinos de Gaza continuarão separados dos seus 2,5 milhões de compatriotas da Cisjordânia. Um trecho de território israelense separa as duas regiões.
Mas ninguém quer matar as esperanças no nascedouro, então essa infeliz realidade é ignorada nos preparativos para o reinício do processo de paz, no dia 1o, em Washington.
Ao manifestar, em carta à chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, a sua disposição em participar do diálogo, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, não fez menção a Gaza. Escreveu apenas que "um Estado com fronteiras provisórias não é uma opção para o povo palestino."
Questionado numa recente entrevista à TV israelense sobre como resolver essa equação, Abbas declarou: "Vamos resolver o problema de Gaza e do Hamas". Só não disse como. Na semana passada, ele afirmou a jornalistas que "se alcançarmos um acordo de paz amanhã, não poderemos implementá-lo sem acabar com essa divisão."
Em 2007, o Hamas e a Fatah estiveram às portas de uma guerra civil. O Hamas acabou expulsando de Gaza as forças da Fatah, facção que conta com apoio ocidental. Desde então, a Faixa de Gaza vive sob isolamento político e comercial.
Mas a questão de Gaza não é o único bode na sala de negociações. Israel também se divide sobre a conveniência de aceitar um Estado palestino.
Um eventual acordo de paz envolveria concessões israelenses às quais vários setores políticos, inclusive dentro do governo,fariam oposição, num sistema que o analista George Friedman, da consultoria Strafor, considera "cáustico e agitado", com tendência à paralisia.
Para Friedman, praticamente qualquer uma das seis facções participantes da coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu poderia inviabilizar o acordo. "Não houve um líder israelense desde Menachem Begin (Nobel da Paz de 1978) que tenha podido negociar com confiança na sua posição", afirmou.
Fonte: Reuters
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