Por Rodrigo Vianna
Blogueiros e comentaristas passaram o último mês discutindo qual seria e quando chegaria a tal “bala de prata” lançada pela candidatura de Serra, no gesto desesperado de levar a eleição para o segundo turno.
Não percebemos, mas ela talvez já tenha vindo. Não era uma só, eram várias as balas de prata que passaram zunindo em muitas direções. Fizeram algum efeito: travaram o crescimento de Dilma, e deram algum alento a Marina. Serra manteve-se praticamente estagnado, com cerca de 25% dos votos.
Podemos listar aqui as balas de prata que já foram lançadas, e seguem a fazer eco na sociedade brasileira:
- o terrorismo da palavra nas igrejas; é um discurso difuso, para o qual a campanha de Dilma parece não ter-se preparado; segue a fazer estragos, com ecos na internet, levando eleitores evangélicos e católicos conservadores – especialmente na classe média de grandes cidades - a abraçar a candidatura de Marina;
- a campanha difamatória na internet; conduzida diretamente pelos tucanos (no caso dos videos recém-lançados no youtube), ou por uma militância conservadora difusa (que há meses abastece a rede com e-mails absurdos e maldosos), essa campanha serve mais para dar argumentos a quem já era contra Dilma e o PT;
- o terrorismo midiático; essa é a bala de prata mais manjada, e a mais fácil de responder, até pelo aprendizado que ficou de eleições passadas; ainda assim, provoca algum estrago; calculo que nesse setor ainda há os últimos ricochetes a aparecer na semana derradeira antes de 3 de outubro; a última aposta (depois dos casos da Receita e de Erenice) é a história do “autoritarismo petista”, numa tentativa de fazer parte dos eleitores apostarem num segundo turno.
Parece-me que o efeito dessas balas vai-se sentindo aos poucos: elas atingem de forma diferente as várias camadas da população. A maior parte do público acompanha a eleição com distanciamento, e leva 3 a 4 dias para se inteirar de boatos que atingem os mais engajados em poucas horas.
O serrismo a essa altura depende dessa somatória de balas de prata para sangrar (ainda que timidamente) a candidatura de Dilma. E aposta todas as fichas em reforçar a imagem de Marina. Já disse aqui algumas vezes que, para Serra, basta tirar votos de Dilma, ainda que eles não se transfiram para o tucano.
No tracking de sábado, no VOX/IG/BAND, Dilma manteve os 50% (recuou 3 pontos ao longo da semana). Serra caiu para 23% e Marina cresceu para 11%. Mais um indício de que as balas de prata já vieram, e provocaram algum efeito. No entanto, o efeito parece não ser suficiente para mudar o quadro a ponto de forçar segundo turno. Serra precisaria subir para perto de 30%, e Marina para algo em torno de 15%.
Não há, a não ser pelo DataFolha (suspeito?), sinais de que esse movimento se confirmará.
A favor da tese de que a eleição já estaria liquidada, há ainda o quadro eleitoral nos Estados - cada vez mais favorável ao lulismo:
- Tarso (PT) avança no Sul (e o petista Paim parece ter recuperado força para ganhar uma vaga no Senado);
- no Rio, Cabral deve arrasar Gabeira, e Cesar Maia corre risco de ficar em quarto lugar na disputa pelo Senado;
- em Pernambuco e no Amazonas, Maciel (DEM) e Artur Virgilio (PSDB) caminham para derrotas historicas na disputa pelo Senado;
- até no Paraná, o quadro parece complicado para os tucanos, a ponto de Beto Richa (PSDB) travar na Justiça a divulgaçãoo de novas pesquisas que devem trazer Osmar Das (PDT) cada vez mais forte na disputa pelo governo do Estado; para o Senado, devem ser eleitos Requião (PMDB) e Gleisi (PT).
Ou seja, o bombardeio midiático e conservador na internet concentrou-se em Dilma, e descuidou-se das disputas estaduais – o que pode facilitar a vida do lulismo.
Restaria uma incógnita: São Paulo.
Aqui, mais indícios de coisas estranhas nas pesquisas. E, de novo, o DataFolha em campo.
O instituto da Folha traz Alckmin praticamente imbativel, com 51%, e Mercadante com 23%. O Vox Populi acaba de trazer números díspares: Alckmin 40% e Mercadante com 28%. Pelo Vox, poderíamos caminhar para segundo turno em São Paulo: o que seria mais um indicativo de que as balas de prata arranharam Dilma, mas não contiveram o lulismo – o que pode levar a uma derrota ainda mais arrasadora de PSDB/DEM.
Por último, um dado importante: o PT entrou com ação para suspender a lei que exige dois documentos na votação, um indicativo de que o partido espera dificuldades para seu eleitorado – mais concentrado nas camadas populares – por conta dessa exigência. Já ouvi gente calculando que Dilma pode perder 1 de cada 10 votos por conta dos dois documentos.
Façamos uma conta. Se, apesar do bombardeio que ainda virá na última semana, a candidata petista chegar com algo em torno de 49% ou 50% dos votos totais no dia 3, poderia em tese ver sua votação recuar para 45% dos votos totais por conta das dificuldades provocadas pela exigência de dois documentos. Serra, tudo indica, não deve passar dos 28%, e Marina pode chegar a 14% se a onda verde pegar. Temos anda 1% para os outros candidatos. Teríamos, portanto, nos votos totais: Dilma 45% X outros candidatos 42%.
Minha aposta é que Dilma, se confirmar vitória no primeiro turno, deve obtê-la por uma margem pequena: algo em torno de 52% ou 53% dos votos válidos.
Se a onda verde crescer (hoje ainda é marolinha, mas será empurrada pela mídia), e o terrorismo midiático reaparecer na véspera da eleição, não acho impossível haver segundo turno – ainda que por margem muito estreita.
O quadro deve ser acompanhado com muita cautela até o dia 3.
A vitória de Dilma no primeiro turno é hoje a hipótese mais provável, mas não está garantida.
Retirado do Escrevinhador
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