domingo, 26 de setembro de 2010

Aumento real de salários bate recorde

Algumas categorias, como a dos metalúrgicos e a dos petroleiros, obtiveram maiores ganhos reais, acima da inflação, das últimas décadas

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

No ano em que a economia deve crescer mais de 7%, em um ambiente de inflação ao redor de 4,5%, trabalhadores das categorias mais organizadas no País se preparam para embolsar os ganhos reais de salários mais polpudos das últimas décadas. Os metalúrgicos de montadoras do ABC paulista saíram na frente, mas acompanhados de perto por outras categorias.


Uma delas é a dos petroleiros do sistema Petrobrás. Assim como os metalúrgicos do ABC, que conquistaram, na semana passada, o maior aumento real da história da categoria – de 6,26%, mais reposição da inflação de 4,29%, num total de 10,81% -, a campanha salarial dos petroleiros também resultou em ganhos históricos para a categoria, de até 4,65% acima da inflação.

Nos 15 anos em que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) acompanha os resultados de acordos e convenções coletivas no País, 2010 deverá apresentar a maior quantidade de aumentos reais acima de 5%. Na semana passada, eles já somavam17, o equivalente a 5,7% do painel de 299 negociações analisadas este ano.

Até agora, o melhor ano foi 1996, quando 6,9% das negociações resultaram em ganhos reais acima de 5%. “Como o ano ainda não acabou, e o segundo semestre concentra a data-base das categorias mais organizadas do País, eu não teria dúvida em afirmar que vai ganhar de 1996″, diz o economista Sérgio Mendonça, do Dieese.

Petroleiros. Na sexta-feira, a maioria dos sindicatos de petroleiros, que somam 75 mil trabalhadores em todo o País, já tinha aprovado acordo com a Petrobrás prevendo índices de aumento real entre 3,7% e 4,6%. Grosso modo, os trabalhadores que ganham menos terão os índices maiores de aumento.

“É o maior aumento real de salário que a gente já teve”, comemora o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes.

Com data-base idêntica à dos metalúrgicos (1.º de setembro), a campanha dos petroleiros trouxe outra novidade este ano. “Eu negocio há uns dez anos e não me recordo de nenhum em que tenhamos assinado acordo antes do mês de outubro”, conta Moraes.

Não foi preciso sequer recorrer à greve geral, como em anos anteriores. Bastaram algumas mobilizações e uma paralisação de advertência de oito horas para arrancar a proposta da estatal. “As condições econômicas do País são excepcionais, e a Petrobrás acompanha o Brasil”, diz o sindicalista. “Prova disso é o imenso sucesso da capitalização da empresa na bolsa.”

Montadoras. Só no ABC, o reajuste de 10,81% engordou os salários de 32 mil metalúrgicos de montadoras. Além do salário maior, eles vão receber ainda um abono de R$ 2,2 mil no mês que vem. Com mais dinheiro no bolso, muitos fazem planos.

Na família do operador de máquinas Carlos Roberto Moreira, de 51 anos, os planos se multiplicam. A família é quase toda de metalúrgicos empregados na Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo.

A filha mais velha, Carla Cristina, de 28 anos, é inspetora de qualidade, e o filho do meio, Carlos Roberto Júnior, de 26, é montador. O marido de Carla, Wagner Santana Toledo, é operador de máquinas em uma indústria de autopeças e teve o salário reajustado em 9%. Só ficam de fora a dona de casa e a filha mais nova, que cursa o primeiro ano de direito, além de duas netinhas.

“Vou trocar de carro”, diz Carlos Roberto, o pai. Ele tem um Corsa 2007, mas sonha com uma Meriva zero-quilômetro, “grande o suficiente para levar boa parte da família”. Carla quer investir na carreira e pretende fazer curso superior em tecnologia e qualidade, enquanto Júnior junta dinheiro para dar entrada na compra de um apartamento e casar. Por isso, ele vai poupar.

Retirado do Blog Leituras Favre

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