domingo, 7 de novembro de 2010

Dilma Roussef em pessoa

 Retirado de o Dia Online

Com vocês, Dilma Rousseff em pessoa

Livre da pressão da campanha, presidenta eleita deu sinais de que estava mais relaxada logo nas primeiras entrevistas. A mineirice veio com força total e a sucessora de Lula já deu sinais do seu estilo de se expressar

POR SHEILA MACHADO

Rio - A Dilma Rousseff que os brasileiros viram na última semana em pouco se parece com a Dilma da campanha presidencial. Mais relaxada, sorridente, com o contra-ataque desarmado e exibindo um sotaque mineiro indefectível, a futura presidenta surpreendeu.


No primeiro discurso depois de eleita, ainda na noite de domingo, Dilma manteve o sotaque neutro. Mas já na segunda e na terça-feira, ao dar entrevistas para a TV, a mineirice saltou em várias ocasiões. “Cê” e “ocê” em vez de “você” e diminutivos feitos com “im” no lugar de “inho” deram cadência aos telejornais da Record, Globo, Band e SBT. Até um “uai” apareceu na entrevista no Palácio do Planalto. Ex-marido de Dilma, Claudio Galeno entrega: “Ela sempre fala ‘trem bão’, ‘uai’, ‘sô’, ‘ocê’”.

Sorrisos enchiam a tela e a cabeça virava um pouquinho para o lado — um gesto fofo. Em meio a promessas técnicas para seu governo, a presidenta falou do irmão búlgaro, viu na TV uma prima estrangeira que não conhecia, relembrou a batalha contra o câncer, ficou feliz por ser entrevistada por profissionais mulheres.

Tensão

“A forte tensão da campanha provoca fisionomia mais dura, posturas artificiais, ensaiadas, preocupação em sempre dizer a coisa certa. Depois que passa, vem o relaxamento. Retorna-se a um estado mais autêntico”, explica a psicóloga Teresa Creusa Negreiros, da PUC-Rio.

Especialista em marketing político e comunicação da UnB, Paulo José Cunha destaca que o tom de campanha político é bem específico: “Fora de campanha, as pessoas podem se revelar como são”.

Teresa ressalta que o relaxamento não vem só do fim da campanha. Antes de ser indicada para ser a candidata do PT à Presidência, Dilma passou por tratamento contra câncer linfático, que incluiu quimioterapia. Quando essa batalha foi vencida — com o diagnóstico de cura, no meio do ano —, a petista emendou a corrida presidencial. “Dilma está cheia de endorfina do vencedor. A sensação é de estar voando em céu de brigadeiro, como se respirasse melhor”, comparou.

Saem as metáforas, entram os argumentos técnicos

Respostas mais técnicas do que as do atual presidente também marcaram as entrevistas de Dilma Rousseff na semana passada. Fica claro que as metáforas de Lula vão dar lugar a argumentos diretos. Depois de oito anos de tiradas bem-humoradas, o povo agora terá que se acostumar a um estilo mais direto.

“Dilma sabe que não tem o carisma de Lula. Ela vai se definir na competência”, diz José Paulo Cunha, especialista em marketing político.

Segundo Cunha, Dilma foi orientada a trocar o vocativo “minha filha/meu filho” por “minha querida/meu querido” — como fez com uma repórter na entrevista com Lula no Planalto, quarta-feira: “O ‘minha filha’ tem conotação agressiva. Mas pode saber que, quando ela fala “minha querida”, está irritada. Saiba também que, quando o calo apertar, a ‘Dilminha paz e amor’ será substituída pela ‘Dilmão’. O tom leve permanece só até dezembro”.

Para que Dilma continue demonstrando segurança, a fonoaudióloga Lívia Bello tem um conselho: “Ela deve ter um cuidado maior com a sua voz para conseguir transmitir preparo e credibilidade.” A então candidata à Presidência encerrou a campanha quase sem voz.

Mergulhos e passeios de helicóptero antes do embarque para Seul

Além de mergulhos acompanhados de assessores, o período de descanso da presidenta eleita em Itacaré (BA) incluiu, na sexta-feira, um passeio de helicóptero pela região.

Hospedada na casa do empresário paulista João Paiva na Praia do Patizeiro, a 20 km do centro de Itacaré, Dilma decolou em direção ao Sul do estado e retornou por volta das 18h.

Ontem, ela pretendia voltar à Praia do Patizeiro para novos banhos de mar, mas a presença de jornalistas fez com que ela desistisse. Seguranças da petista pediram à imprensa que se retirasse do local, mas, diante da negativa, a presidenta eleita desistiu do programa. Mais tarde, estava prevista a visita dela à localidade de Duas Barras.

Esta semana, Dilma vai acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do G-20 (20 países mais ricos do mundo), em Seul, capital da Coreia da Sul. Será a primeira viagem internacional da presidenta eleita.

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