Ministro da Educação participou de entrevista sobre polêmica envolvendo o Enem. Haddad declarou que é normal o cancelamento de questões em provas de vestibular e que nova prova deve ser aplicada para estudantes.
O Bom Dia conversa com o ministro da Educação, Fernando Haddad.
Fernando Haddad, ministro da Educação: Na verdade, é o contrário. No ano passado, nós tivemos o furto de uma prova, o que obrigou ao adiamento do exame que foi bem realizado 60 dias depois da data prevista. Foi um furto em uma gráfica de grande porte, uma gráfica que no dia do furto declarou que cumpria todos os requisitos de segurança. Depois, vocês mesmo mostraram as imagens de que isso não era verdadeiro.
Alexandre Garcia: Agora, o edital exigia uma conferência por parte do Inep que não houve?
Fernando Haddad, ministro da Educação: Houve a conferência da matriz. O Inep não tem de condição de fiscalizar e ler 4,6 milhões de provas. O Inep lê a matriz, confere a matriz e dá ordem de impressão. A própria gráfica que é a maior empresa gráfica do mundo - que fatura US$ 20 bilhões por ano e é uma multinacional – em carta, ontem pela manhã, reconheceu que um lote de 21 mil provas saiu com erro de impressão.
Alexandre Garcia: A gente ouviu a decepção de alunos. O que o senhor tem a dizer para esses alunos que estão desconfiados?
Fernando Haddad, ministro da Educação: Que nós vamos recorrer da decisão da juíza. Não há nenhuma razão objetiva, técnica para cancelar a prova do sábado.
Alexandre Garcia: Não há razão para pedir desculpas a esses alunos?
Fernando Haddad, ministro da Educação: Todo desconforto merece por parte do poder público uma retratação. A questão é que se nós não acatarmos a teoria da resposta ao item, se nós não considerarmos que é possível aplicar uma prova aos alunos prejudicados, com o mesmo grau de dificuldade da primeira, nós vamos colocar em risco todo sistema de avaliação do Brasil.
Alexandre Garcia: Esse é o ponto. A Justiça está entendendo que, se aplicar nova prova a dois mil alunos ou menos de dois mil alunos, feriria o princípio da isonomia em concurso.
Fernando Haddad, ministro da Educação: Eu entendo o argumento, mas nós vamos levar ao conhecimento da Justiça que a tecnologia educacional nacional hoje permite com toda precisão fazer isso. Eu vou citar um exemplo. No ano passado, nós aplicamos dois Enems. Nós aplicamos um Enem para todo mundo e um Enem para os alunos que sofreram com as enchentes no Espírito Santo e para os alunos dos presídios. Eram duas provas distintas aplicadas em dias distintos. E os resultados saíram rigorosamente na mesma escala e na mesma data. Veja bem: o pagamento de bônus para professor de São Paulo. A Justiça vai derrubar porque os resultados não são comparáveis? O IDEB a Prova Brasil vão ser derrubados porque os resultados não são comparáveis. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) que permite a comparação entre estudantes de países diferentes de um ano para o outro: nós vamos derrubar? Nós vamos derrubar o TOEFL? Quer dizer, a Justiça precisa ser informada de que essa tecnologia está disponível e justamente para exames da escala do Enem.
Renato Machado: Ministro, o senhor e o Alexandre Garcia acabaram de mencionar vários exames internacionais que medem a capacidade de alunos de vários países. Eu queria mudar um pouco o assunto. Nesse ponto, o Brasil não tem se saído bem. Na verdade, no IDH da ONU, que foi publicado a poucos dias, o Brasil está em uma posição muito ruim por causa da educação. O senhor tem alguma coisa a dizer sobre isso?
Fernando Haddad, ministro da Educação: Eu discordo um pouco dessa avaliação por uma razão muito simples. O IDH conta com duas variáveis. Uma variável que olha para o passado que a escolaridade média do brasileiro com 25 nos ou mais. Nessa variável, nós vamos muito mal. Temos 7,2 anos. Mas essa variável olha para o sistema de ensino no século passado. A variável que olha para o nosso sistema educacional é expectativa de escolaridade que é quase o dobro da escolaridade média dos adultos brasileiros. Se você comparar as duas, você vai verificar que o Brasil é um dos países que mais avançou em escolaridade média. O PISA que vai ser anunciado em dezembro já nos dá conta de que, na primeira década do século XXI, o Brasil também está entre os três países que mais avançou em proficiência de leitura, matemática e ciências. Então, se você olhar para o que o Brasil foi na educação e verificar o local que nós ocupamos no ranking, você se decepciona, porque você pensa assim: “por que nós não fizemos mais pela educação no nosso país”? Mas se você olhar para o presente e para o futuro, o cenário é completamente diferente do século XX. Nós estreamos no século XXI com resultados importantes. E eu faço um convite a vocês: façam um debate com observadores externos ao Brasil. Façam um debate com pessoas que entendem de educação da CDE, do Banco Mundial, do BIDE, da UNESCO, da UNICEF e da OAI. Façam um debate público sobre o que foi a educação brasileira na primeira década do século XXI. Eu faço questão de participar ou assistir a essa debate, com toda tranqüilidade agora que nós estamos concluindo a primeira década do século.
Renata Vasconcellos: Ministro, vamos voltar para a prova do Enem. Além do problema de logística, foram apontados problemas na qualidade das provas, como erro de digitação, erro de pontuação, inclusive erros conceituais. Havia uma pergunta com duas respostas possíveis, questões repetidas, pergunta que não haveria uma resposta possível, apontadas por professores que avaliaram as provas. E agora?
Fernando Haddad, ministro da Educação: Isso na verdade, é o seguinte: o Enem tem 180 questões. E o gabarito oficial sai depois que os formuladores das provas que são professores universitários fazem a checagem final. No ano passado, por exemplo, nós tivemos que anular uma questão das 180. Quer dizer, há vários casos de vestibulares em que, a cada 100 questões, você tem uma taxa de tolerância em que se admite uma pergunta sem resposta ou com duas respostas em que a questão não é considerada. Então, nós vamos aguardar o parecer dos técnicos que elaboraram a prova. Conforme eu disse, são professores universitários convidados pelo Inep para formular a prova. E o gabarito oficial dá a palavra final sobre o assunto.
Renata Vasconcellos: No ano passado, grandes universidades descartaram o exame. Como o senhor vê a possibilidade de faculdades desistirem de usar o Enem no seu processo de avaliação, por causa das mudanças, inclusive no calendário?
Fernando Haddad, ministro da Educação: A desistência do ano passado se deveu ao fato de que nós não conseguimos processar os resultados em virtude do adiamento por 60 dias da prova. Não tem nada a ver com o Enem. Tanto é verdade, que todas que não usaram o Enem no ano passado, em função disso, voltaram a usar. O dobro de universidades usará o Enem este ano em relação ao ano passado. Ao todo, 500 mil alunos a mais se inscreveram no exame.
Alexandre Garcia: Estamos concluindo a entrevista. O que o senhor diria para os 3,4 milhões de estudantes que estão nessa dúvida? Eu sei que hoje o senhor vai falar com juristas para tentar convencê-los de que não há quebra de isonomia.
Fernando Haddad, ministro da Educação: Na verdade, o que nós vamos fazer é convencer o Judiciário que a tecnologia educacional hoje permite aplicar uma segunda prova sem nenhum prejuízo para os estudantes, com total isonomia, porque nós vamos seguir rigorosamente a mesma escala, como todas as avaliações nacionais e internacionais. Fazendo chegar essa informação à juíza, eu tenho certeza que ela vai mudar sua posição. Caso contrário, nós vamos recorrer ao tribunal, sem nenhuma dificuldade.
Retirado de Luis Nassif
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