Do Tribuna do Norte
Emparn alerta para enchentes no RN neste ano
O serviço de meteorologia da Emparn alerta que, este ano, o inverno para a região do semiárido do Rio Grande do Norte será acima da média (700mm a 800mm por ano, na região do Vale do Assu, e 800mm a 900mm no Oeste). Há algumas semanas, a previsão era de um acumulado de chuvas de normal a acima da média. Para o meteorologista Gilmar Bristot, os dados disponíveis até agora indicam que há grandes possibilidades de enchentes e rápida “sangria” dos grandes reservatórios, a exemplo dos anos de 2008 e 2009.
Esta semana, dias 18 e 19, meteorologistas de várias regiões do Brasil e de outros países se reúnem em Fortaleza para analisar os dados disponíveis. Mas segundo Bristot, as informações indicam que as autoridades governamentais, população e produtores das regiões dos vales do Assu e Apodi devem iniciar o planejamento para evitar ou reduzir as consequências dos rigorosos invernos daqueles dois anos. Entre 15 de março a 15 de abril é quando ocorre o maior volume de chuvas para o semiárido do Rio Grande do Norte, segundo a Emparn. A orientação aos agricultores é que mesmo diante desse prognóstico, é preciso esperar mais alguns dias até que as chuvas típicas dessa época se tornem mais frequentes. Ou seja, não plantar até meados de fevereiro. E quando iniciarem o plantio, evitar as vazantes e margens de rios, sob pena de perderem tudo em decorrência das cheias. Na entrevista que segue, Gilmar Bristot indica o cenário para a estação chuvosa e alerta sobre a necessidade de planejamento.
Dessa reunião, dias 18 e 19, é possível ter um diagnóstico quanto ao inverno deste ano?
Nesse workshop internacional, com a presença de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, vamos levar em conta as condições dos Oceanos Atlântico e Pacífico. Desde já, e pela minha prévia análise dos campos globais de vento, pressão e temperatura, a condição tirada da última reunião será mantida (inverno normal a acima do normal para o semiárido do NE). Muda um detalhe: agora é previsão acima do normal porque temos um componente muito importante, já durante o mês de dezembro, que é o vento agindo do Norte para o Sul do país. Isso, nessa época, é um bom indicativo de boas chuvas para essa região.
Então estamos falando de chuvas semelhantes àquelas de 2008 e 2009, quando tivemos enchentes?
Tudo indica que sim. Se compararmos o que aconteceu naqueles dois anos, os campos globais — temperatura do Oceano pacífico —, estamos com uma La Niña acentuada, abrangendo praticamente toda a bacia central do Pacífico.
Após essa reunião, em Fortaleza, há previsão de reunião com equipes do Governo? Será feito um alerta?
Espero que haja uma preocupação e planejamento em todas as áreas, inclusive na parte agrícola. Primeiro para aproveitar ao máximo para a questão da agricultura, já que 2010 tivemos uma frustração em relação à colheita, chegando a 90% de perdas na agricultura familiar e de subsistência; também na questão que indica termos ou não situações graves de alagamentos nas regiões do Vale do Assu e Apodi. Claro que tem outras regiões com certo potencial de inundação, como Pau dos Ferros, Caicó, numa parte baixa. Para essas regiões, especialmente, tem que ter um planejamento e cautela para que não haja perdas. Infelizmente, os governantes dos estados do Sudeste tiveram um aviso ano passado, início de 2010, e novamente em 2011, mostrando que não houve um cuidado. Ainda mais com as condições propícias que as informações climáticas vinham mostrando. Na questão de governo local, vamos provocar essa reunião, especialmente com a Secretaria de Agricultura para que tenhamos a possibilidade de potencializarmos ao máximo a agricultura, visto que é um ano excepcional. Especialmente porque o agricultor está sofrendo com a pouca chuva em 2010.
Com base nessas informações que se tem hoje, podemos dizer que há risco de ocorrerem as chamadas “trombas d’água”? Ou será acima normal, mas com chuvas regulares?
É inevitável que não tenhamos pancadas de chuvas mais fortes. Repetindo-se praticamente todos os dias. A característica da chuva no interior do Estado é uma chuva que se forma localmente, em boas condições, com nuvens pesadas com descargas elétricas, trovões e grande volume de chuva em poucas horas. Não ficaria surpreso se tivermos, especialmente entre meados de março e meados de abril, chuvas que ultrapassem os 100 milímetros em vários municípios do interior. Nas bacias dos rios Açu e Apodi, teremos um rápido enchimento dos grandes reservatórios, como Santa Cruz do Apodi, Armando Ribeiro Gonçalves (Assu).
Mesmo considerando os níveis que se encontram hoje?
Mesmo assim. Se lembrarmos 2008, tínhamos a Armando Ribeiro Gonçalves, se não me engano, faltando 8 metros para alcançar o topo do sangrador mais baixo; ou 46% do volume total, e essa diferença do nível da água foi tirada em questão de 15 dias de inverno. E tivemos uma lâmina de sangria de quase cinco metros de altura. E há chances sim de se repetir, até considerando que recebe água da bacia na Paraíba, onde chove muito, onde chove de 800mm a 1 mil milímetros.
Teremos as mesmas cenas de 2008 e 2009, com enchentes em zona urbana e rural, perdas de lavouras e morte de animais?
Provavelmente, teremos as mesmas cenas. Salvo se houver um planejamento e a Defesa Civil atue no sentido de evitar essas situações. O alerta vale também para os proprietários de pequenos açudes, pois se permanecerem essas condições, não será uma situação controlável pois haverá muita água. É preocupante. Exceto se houver uma mudança drástica, o que não acredito, pois estava analisando o comportamento do Oceano pacífico em profundidade, até 500m, e detectamos uma quantidade de água muito fria deslocando para a costa Leste da América do Sul. Há condição de manutenção do fenômeno La Niña até o final do período chuvoso para o Nordeste.
É cedo para o agricultor iniciar o preparo da terra?
A orientação é que espere as condições ideais. E não tem ninguém melhor que o agricultor para saber quando é hora de plantar. Mas, claro, temos que alertá-lo que nessa apreensão por plantar, não o faça na beira do rio porque mesmo plantando hoje essa colheita demoraria no mínimo 60 a 70 dias, dependendo do tipo de semente que vai usar, e nesse ínterim pode haver inundações.
Qual a previsão para este fim de semana?
Teremos pouca chuva ocorrendo em todo o Estado, ao menos até segunda-feira. Mas a partir da terça-feira teremos a retomada de chuvas no interior, e aumentando a partir da quinta-feira. A condição predominante para os próximos dias é chuva. Embora, antes, estivéssemos esperando um período mais longo de sol, sem chuvas, por ao menos uma semana.
O inverno começará mais cedo pela região Oeste potiguar?
Estamos observando que tem formação de nuvens tanto no litoral quanto no interior do Estado. Então, tanto pode começar no interior quanto no litoral. É uma situação excepcional.
Há previsão de chuvas torrenciais com potencial para causar enormes estragos aqui no RN?
Para os próximos meses, no caso do Litoral, não. A característica das chuvas, nessa época do ano na região litorânea, não é de nuvens pesadas. São mais restos de chuvas que ocorrem no sertão. Mas é importante lembrar que mesmo não sendo o período principal de chuvas, no Litoral, como vai chover acima da média no interior aqui teremos um total de chuvas acima da média para a região. Significa que teremos um acúmulo de água no solo, na região litorânea, acima do normal. Ou seja, quando chegar a estação chuvosa, o solo estará saturado e teremos consequências agravadas no período que vai de abril a agosto no Litoral. Mas, claro, isso so teremos clareza de previsão mais adiante porque são sistemas diferentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário