Sobrenomes são sempre os mesmos, dizem analistas
Para professor aposentado da UFRN, oligarquias do Rio Grande do Norte fazem “renovação” sem promover mudanças. Jornalista diz que política virou “ganha-pão” e é feita com base no DNA no estado
Edson Sardinha e Renata Camargo
Pode até mudar um nome aqui e outro ali. Mas os sobrenomes são sempre os mesmos. Essa tem sido a prática na política do Rio Grande do Norte há pelo menos meio século, segundo analistas políticos locais ouvidos pelo Congresso em Foco.
Para o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) José Lacerda Alves Felipe, as oligarquias do estado dão apenas um “verniz” ao velho modelo de fazer política. “No Rio Grande do Norte, as oligarquias fazem um processo de modernização e renovação sem promover mudanças. A renovação é feita por familiares, o que faz com que as famílias se mantenham no poder. Há uma renovação do quadro político, mas não há mudança”, diz o geógrafo. “O grupo oligárquico permanece, com pessoas mais abertas, o que dá impressão de transformação, mas ela não ocorre”, acrescenta.
O geógrafo diz que as oligarquias do Rio Grande do Norte têm origem urbana, diferentemente do que ocorre na maioria dos estados nordestinos, onde a raiz é rural. “No Rio Grande do Norte, não vejo neocoronelismo. Eles são mais modernos. Não são oligarquias que nasceram no campo. Essas três oligarquias – Maia, Alves e Rosado - nasceram na cidade, têm dominação no mundo urbano, com TV, jornal e rádios”, observa o professor, autor da tese de doutorado Memória e imaginário político na (re)invenção do lugar: os Rosados e o país de Mossoró.
Ganha-pão
Com 26 anos de experiência profissional, o jornalista Carlos Santos diz que a política local ainda é feita na base do DNA. “A política do Rio Grande do Norte há décadas é povoada praticamente pelos mesmos nomes e sobrenomes oligárquicos, que se revezam no poder, crescem ou encolhem um pouco, mas nunca saem da cena. Não é por acaso, que praticamente não existe renovação de quadros ou forças alternativas há mais de 40 anos. As caras ‘novas’ têm sempre um DNA bem conhecido”, diz o jornalista e blogueiro.
Para Carlos Santos, a política deixou de ser uma atividade baseada na força econômica de seus líderes para se tornar uma espécie de “profissão” para os atuais representantes das oligarquias estaduais. “Se, nos primórdios da República, as oligarquias derivavam do poder capitalista de seus próceres, alicerçado na pujança de economias regionais, na segunda metade do século XX e início do século XXI as oligarquias passaram a funcionar com outro ‘motor’. Transformaram a atividade política em profissão e ganha-pão”, considera.
“Mundo urbano”
O professor José Lacerda diz que as oligarquias do estado souberam fazer do “mundo urbano” seu território eleitoral, num movimento que ganhou mais evidência a partir dos anos 80. “Eles fizeram isso usando os mais diversos instrumentos, por meio de organizações civis, como clubes de mães, associações e conselhos comunitários, dando impressão de que a sociedade está organizada. Mas ela está organizada a serviço desse modelo político”, explica Lacerda.
O geógrafo cita como exemplo o estilo adotado pela família Rosado. “Eles sempre foram uma oligarquia urbana, sempre quiseram se mostrar como homens de saber. Criaram universidades, bibliotecas, têm uma coleção editorial e nunca usaram práticas de perseguição e eliminação física do adversário. Sempre mostraram esse lado ‘modernoso’ da coisa”, avalia.
Ditadura
Carlos Santos entende que esse sistema de poder ganhou força a partir dos anos 50 e se consolidou com a ditadura militar (1964-1985). “É desse tempo a formação da oligarquia Maia, inaugurada pelo governador biônico Tarcísio Maia, pai do atual senador José Agripino Maia. O período também favoreceu o fortalecimento do clã Alves, formado pelo ex-governador Aluízio Alves, que se transformou na ‘oposição consentida’”, observa o jornalista. “Expressões regionais também foram se enraizando mais ainda, como a oligarquia Rosado em Mossoró”, acrescenta.
Alvo de quase três dezenas de processos na Justiça movidos pela atual prefeita de Mossoró (RN), Fátima Rosado, por causa de críticas à sua administração, Carlos Santos considera que não há hoje espaço para mudança na forma de fazer política no estado. “Tudo termina sempre em torno de uma mesa familiar, reunindo parentes e aderentes, compadres e vassalos”, afirma.
Pode até mudar um nome aqui e outro ali. Mas os sobrenomes são sempre os mesmos. Essa tem sido a prática na política do Rio Grande do Norte há pelo menos meio século, segundo analistas políticos locais ouvidos pelo Congresso em Foco.
Para o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) José Lacerda Alves Felipe, as oligarquias do estado dão apenas um “verniz” ao velho modelo de fazer política. “No Rio Grande do Norte, as oligarquias fazem um processo de modernização e renovação sem promover mudanças. A renovação é feita por familiares, o que faz com que as famílias se mantenham no poder. Há uma renovação do quadro político, mas não há mudança”, diz o geógrafo. “O grupo oligárquico permanece, com pessoas mais abertas, o que dá impressão de transformação, mas ela não ocorre”, acrescenta.
O geógrafo diz que as oligarquias do Rio Grande do Norte têm origem urbana, diferentemente do que ocorre na maioria dos estados nordestinos, onde a raiz é rural. “No Rio Grande do Norte, não vejo neocoronelismo. Eles são mais modernos. Não são oligarquias que nasceram no campo. Essas três oligarquias – Maia, Alves e Rosado - nasceram na cidade, têm dominação no mundo urbano, com TV, jornal e rádios”, observa o professor, autor da tese de doutorado Memória e imaginário político na (re)invenção do lugar: os Rosados e o país de Mossoró.
Ganha-pão
Com 26 anos de experiência profissional, o jornalista Carlos Santos diz que a política local ainda é feita na base do DNA. “A política do Rio Grande do Norte há décadas é povoada praticamente pelos mesmos nomes e sobrenomes oligárquicos, que se revezam no poder, crescem ou encolhem um pouco, mas nunca saem da cena. Não é por acaso, que praticamente não existe renovação de quadros ou forças alternativas há mais de 40 anos. As caras ‘novas’ têm sempre um DNA bem conhecido”, diz o jornalista e blogueiro.
Para Carlos Santos, a política deixou de ser uma atividade baseada na força econômica de seus líderes para se tornar uma espécie de “profissão” para os atuais representantes das oligarquias estaduais. “Se, nos primórdios da República, as oligarquias derivavam do poder capitalista de seus próceres, alicerçado na pujança de economias regionais, na segunda metade do século XX e início do século XXI as oligarquias passaram a funcionar com outro ‘motor’. Transformaram a atividade política em profissão e ganha-pão”, considera.
“Mundo urbano”
O professor José Lacerda diz que as oligarquias do estado souberam fazer do “mundo urbano” seu território eleitoral, num movimento que ganhou mais evidência a partir dos anos 80. “Eles fizeram isso usando os mais diversos instrumentos, por meio de organizações civis, como clubes de mães, associações e conselhos comunitários, dando impressão de que a sociedade está organizada. Mas ela está organizada a serviço desse modelo político”, explica Lacerda.
O geógrafo cita como exemplo o estilo adotado pela família Rosado. “Eles sempre foram uma oligarquia urbana, sempre quiseram se mostrar como homens de saber. Criaram universidades, bibliotecas, têm uma coleção editorial e nunca usaram práticas de perseguição e eliminação física do adversário. Sempre mostraram esse lado ‘modernoso’ da coisa”, avalia.
Ditadura
Carlos Santos entende que esse sistema de poder ganhou força a partir dos anos 50 e se consolidou com a ditadura militar (1964-1985). “É desse tempo a formação da oligarquia Maia, inaugurada pelo governador biônico Tarcísio Maia, pai do atual senador José Agripino Maia. O período também favoreceu o fortalecimento do clã Alves, formado pelo ex-governador Aluízio Alves, que se transformou na ‘oposição consentida’”, observa o jornalista. “Expressões regionais também foram se enraizando mais ainda, como a oligarquia Rosado em Mossoró”, acrescenta.
Alvo de quase três dezenas de processos na Justiça movidos pela atual prefeita de Mossoró (RN), Fátima Rosado, por causa de críticas à sua administração, Carlos Santos considera que não há hoje espaço para mudança na forma de fazer política no estado. “Tudo termina sempre em torno de uma mesa familiar, reunindo parentes e aderentes, compadres e vassalos”, afirma.
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