Por Marcílio Moreira
Rosalba diz que os rosados não são uma oligarquia porque foram eleitos pelo voto livre. Ora, o que caracteriza uma oligarquia não é o processo de escolha, mas a forma de governo. Ou seja, o fato de ser um governo de poucas pessoas, quando um pequeno grupo de pessoas de uma família, econômico ou de um partido político governa um país, estado ou município. Sendo que os interesses políticos e econômicos desse grupo acabam prevalecendo sobre a maioria.
Rosalba refuta oligarquia e diz que povo escolhe
Governadora diverge do marido, o ex-deputado Carlos Augusto Rosado, que diz que a família é “uma oligarquia desde 1890”. Para ela, termo é pejorativo e Mossoró “respira liberdade”
“Minha família é tão grande que tenho 37 tios. Só eu e minha irmã Ruth entramos para a política", diz Rosalba Ciarlini |
Edson Sardinha e Renata Camargo
“Somos uma oligarquia desde 1890. Todos os nossos mandatos foram conquistados com o voto”, diz o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado (DEM-RN), antes de ser “corrigido” pela mulher, a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM). “Eu não aceito e considero inapropriado esse termo, que é pejorativo. Acho que ele se expressou mal. Não somos uma oligarquia, porque fomos eleitos livremente. O povo é que escolhe”, diverge a governadora. Os dois conversaram com o Congresso em Foco no saguão do Aeroporto Internacional de Brasília na noite da última sexta-feira (1º).
Rosalba ocupa hoje o cargo mais elevado entre todos os Rosado, família para a qual entrou há 36 anos após se casar com o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado. Prefeita de Mossoró por três mandatos, Rosalba é prima, pelo lado materno, de uma das principais lideranças da ala adversária da família, a deputada Sandra Rosado (PSB-RN), também prima de Carlos Augusto.
“Nossos primos são nossos grandes adversários, mas o nosso grupo é hegemônico”, afirma o ex-deputado. “Quando éramos jovens, nossa luta era da pedra para o fuzil. Agora já estamos velhos”, acrescenta ele, lembrando que a disputa entre os dois grupos já foi mais acirrada.
A governadora diz que poucos fazem política na família Ciarlini e que começou sua vida política no PDT, diferentemente do marido, que foi da Arena para o PFL, hoje DEM, partido de Rosalba. “Minha família é tão grande que tenho 37 tios. Só eu e minha irmã Ruth (Ciarlini) entramos para a política. Não temos tradição”, conta. Ruth é vice-prefeita de Mossoró, na gestão de Fátima Rosado (DEM-RN), prima de Carlos Augusto.
“Mãos limpas”
O ex-deputado estadual afirma que o segredo da longevidade dos Rosado no poder em Mossoró se resume a “trabalho, realizações e mãos limpas”. “Somos bisbilhotados o tempo todo. Nossa presença na política é oxigenada pelo voto”, diz. “Mossoró respira liberdade”, emenda Rosalba, antes de destacar que o município aboliu a escravatura em 1883, cinco anos antes da Lei Áurea, e abrigou o primeiro sindicato, a primeira eleitora e a primeira reitora do país. “E a primeira mulher a presidir a Unimed, que foi Rosalba”, acrescenta Carlos Augusto, referindo-se à cooperativa de médicos.
O casal diz esperar que seus filhos não sigam a vida política. “Eles só terão meu apoio para entrar na política se estiverem bem resolvidos, porque não considero a política uma profissão, mas uma atividade”, afirma a governadora. “Nossa família era riquíssima. Empobrecemos na política. Restou apenas o patrimônio da atividade política”, afirma Carlos Augusto Rosado.
Rosalba tem a missão de ser a primeira Rosado a concluir o mandato no governo do Rio Grande do Norte. Antes dela, apenas o sogro, Dix-sept Rosado, havia alcançado o degrau mais alto do Executivo potiguar. Mas o mandato foi interrompido precoce e tragicamente por um desastre aéreo, menos de cinco meses após a posse de Dix-sept como governador em 1951.
“Falácia” e “imaginário”
Alvo de 26 processos na Justiça movidos pela prefeita Fátima Rosado, o jornalista e blogueiro Carlos Santos diz que é uma “falácia” a declaração da governadora de que em Mossoró se respira “liberdade”. Dono do blog mais acessado na região, ele atribui as ações a que responde ao perfil crítico de seu trabalho.
“Minha visão em relação aos Rosado é que eles possuem mérito para tamanha longevidade e apogeu. O patriarca Jerônimo Rosado preparou os filhos para o poder, investindo em densa formação educacional, baseada a partir de seus princípios positivistas", afirma.
“Minha visão em relação aos Rosado é que eles possuem mérito para tamanha longevidade e apogeu. O patriarca Jerônimo Rosado preparou os filhos para o poder, investindo em densa formação educacional, baseada a partir de seus princípios positivistas", afirma.
Jornalista há 26 anos, ele diz que a família procura dar uma “aura mitológica” para legitimar seu poderio. “É frágil a tese de que tudo foi conquistado pelo voto e, por isso, é democrático. Na verdade, temos uma atmosfera social e institucional aparelhada há decênios, para dar uma aura mitológica e de legitimidade a esse poderio. Boa parte deles tornou-se profissional da política e vive dela, ao contrário do que ocorria nos primórdios, na primeira e segunda geração Rosado", considera.
Autor da tese de doutorado Memória e imaginário político na (re)invenção do lugar: os Rosados e o país de Mossoró, o geógrafo José Lacerda Alves Felipe diz que a exaltação de feitos históricos da cidade, como os citados por Rosalba, são uma característica da família. “Mesmo sem ter participado desses fatos, eles tentam se incluir neles”, explica o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Autor da tese de doutorado Memória e imaginário político na (re)invenção do lugar: os Rosados e o país de Mossoró, o geógrafo José Lacerda Alves Felipe diz que a exaltação de feitos históricos da cidade, como os citados por Rosalba, são uma característica da família. “Mesmo sem ter participado desses fatos, eles tentam se incluir neles”, explica o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
“Na sociedade local, eles se confundem com os heróis locais e seus feitos. A historiografia da cidade é recontada por eles, que selecionam fatos heróicos e históricos. Eles fazem com que a sociedade confunda esses mitos com eles mesmos. As coisas que eles criam é como se tivessem cumprindo uma ordem dos antepassados”, acrescenta Lacerda.
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