‘Lula será meu cabo eleitoral’
Prometendo trens rápidos e baixar o pedágio, Mercadante conta
com o apoio do presidente para se eleger ao governo de São Paulo
Fernando Zanelato
João Carlos Moreira
O senador Aloizio Mercadante trocou uma reeleição dada como certa para o senado por uma difícil eleição para o governo de São Paulo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, vai cobrar a conta.
“Acho que ele (Lula) vai ajudar muito na minha campanha”, diz, em entrevista exclusiva aos jornalistas João Carlos Moreira, do DIÁRIO, e Fernando Zanelato, do BOM DIA.
Segurança pública, educação, saúde e pedágios são os alvos preferidos de Mercadante, que, em 2006, perdeu o Palácio dos Bandeirantes no primeiro turno para José Serra (PSDB).
Derrotas do PT em São Paulo
A cada campanha a gente tem aumentado a intenção de votos. Em 2002, especialmente, havia muito medo do governo Lula, as pessoas tinham medo da mudança. No entanto, o êxito inquestionável do governo Lula credencia o partido a apresentar uma proposta de mudança para São Paulo com responsabilidade. Acho que os eleitores vêem o PT mais maduro, mais preparado.
Pesquisas
A campanha presidencial tem tido muito mais visibilidade do que a campanha estadual. A própria pesquisa do Diário de S.Paulo-Rede BOM DIA mostrou que 80% dos eleitores ainda não tinham candidato a governo de São Paulo. Eu me lembro que na última eleição para a prefeitura, o Alckmin também liderava com larga margem e terminou sem chegar no segundo turno.
Lula em São Paulo
Ele vai se dedicar muito a campanha de São Paulo, tem esse compromisso. Acho que ele vai ajudar muito na minha campanha porque ele tem um papel fundamental na disputa no Brasil e particularmente em São Paulo. Nós somos parceiros e ele nessa campanha vai ser militante e cabo eleitoral.
Apoio inimigo
Eu sinto um setor muito importante do DEM me apoiando, prefeitos que já se manifestaram publicamente, lideranças importantes no Estado já se manifestaram, vereadores. DO PPS também. Eu acho que o que tem de melhor do PMDB vai estar comigo.
Motivos do desgaste do PSDB em São Paulo
Primeiro porque o governo Lula é muito melhor que o governo que eles fizeram no Brasil. Não tem uma pesquisa que não mostra que o governo Lula é muito mais bem avaliado que o governo do Fernando Henrique Cardoso do PSDB. Agora, nós nunca governamos o Estado e por isso não há como comparar um governo do PT em São Paulo com o do PSDB.
Aloprados da campanha de 2006
O grave erro que foi cometido sempre serve como lição para que as pessoas tenham responsabilidade. Só há uma forma de se ganhar uma eleição: apresentando boas propostas. Isso para mim é uma coisa vencida.
Crise no Senado e defesa do Sarney
Eu achava que a gente tinha que apurar os atos secretos. Eu não concordava com a posição do governo e do PT (contrários à apuração das irregularidades supostamente cometidas pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP)). Fiquei muito chateado e achei que estava na hora de deixar a liderança do PT. Eu acho que o Lula (que o convençeu a voltar atrás) tinha razão porque minha saída não ia resolver a crise no Senado e iria prejudicar o governo do qual eu dei a maior parte da minha vida para ajudar a construir. Então eu fiquei [na liderança].
Acompanhamento real das doações para a campanha
Se for possível a gente ter capacidade de apresentar, tanto melhor. Acho que quanto mais transparência é melhor para a campanha, mas não é fácil resolver essa equação.
"Indio da Costa" do Mercadante
O Coca Ferraz (candidato a vice de Mercadante) é um professor da USP (Universidade de São Paulo), um especialista e consultor da ONU (Organização das Nações Unidas) e do Banco Mundial exatamente na área de transporte e trânsito. O fato dele não contribuir do ponto de vista eleitoral, sim (pode ser comparado ao deputado Indio da Costa (DEM-RJ), escolhido o vice do presidenciável José Serra (PSDB)). Ele não é uma pessoa que tem votos para ajudar na campanha, mas tem um currículo invejável e uma competência provada.
Privatização dos bancos estaduais
O governo do PSDB, ao privatizar o Banespa e a Nossa Caixa, retirou dois instrumentos fundamentais para você fomentar o desenvolvimento de micro e pequenas empresas, principalmente para você interiorizar o desenvolvimento. Eu quero criar uma agência, um fundo de investimento para suprir essa deficiência.
Guerra fiscal
A ausência de incentivos fiscais está levando uma parte da indústria do Interior a atravessar a fronteira e não há uma reação do governo do Estado.Sou totalmente contra a guerra fiscal, mas se eu for governador não vou deixar as empresas de São Paulo saírem por causa disso.
Presídios
O arrocho do salário das polícias, o enfrentamento da Polícia Civil com a Polícia Militar e a perda de disciplina e controle dos presídios foram os mais graves erros que o PSDB cometeu na segurança pública em São Paulo. Não há como recuperar segurança sem enfrentar a crise nos presídios. Hoje nós temos 59 mil presos além da capacidade do sistema e faltam 11 mil agentes penitenciários. Primeiro é preciso contratar agentes penitenciários e retomar o controle dos presídios. Segundo, separar os presos pela periculosidade. Remeter esses chefes para presídios de segurança máxima e para os presos de menor periculosidade trabalho e educação para que eles tenham perspectiva de recuperação na sociedade.
Monitoramento eletrônico e videoconferência
Os presos que estão aguardando julgamento e não ameaçam a vida da sociedade prisão domiciliar monitorada pela polícia, assim como para os que saem para o indulto ou vão para o semi-aberto.
Polícia comunitária
Em uma área de dois a três quilômetros você vai implantando progressivamente uma rádio patrulha com as equipes, com o rosto de cada policial, o nome e o número e vai entregar em todas as casas de porta a porta. A polícia vai estar presente 24 horas por dia naquela área e cada morador vai poder cobrar resultado.
Estatísticas do crime
Vou colocar em um único portal todas as estatísticas do crime para a população. Então você sabe no seu bairro quantos assaltos teve, quantos homicídios, se está tendo roubo, o que está acontecendo. A população sabe o que está acontecendo em tempo real. Porque aí a comunidade vai cobrar o que está acontecendo no bairro e a polícia é obrigada a dar resposta com mais eficiência nas áreas mais críticas.
Terceirização da frota das polícias
Hoje se você for no quartel da PM ou em uma delegacia uma parte do contingente policial está totalmente envolvida na manutenção das viaturas e esse não é o papel da polícia. Faltam 6 mil homens no policiamento da PM em São Paulo e nós temos um contingente próximo a isso nas oficinas. Quero tirar o pessoal da graxa e botar na rua. O custo é muito menor e você ganha no contingente que você põe na atividade fim que é o policiamento.
Trem rápido
O trem-bala é só o eixo principal. Nós temos que fazer um trem rápido Bauru-São Paulo, Ribeirão Preto-Campinas e Sorocaba-São Paulo para você poder reorganizar a Grande São Paulo e reverter essa crise na mobilidade. Não tem nem estudo [de valores], mas eu acho que a gente sempre tem que buscar parcerias com a iniciativa privada.
Habitação
A CDHU (Companhia de habitação do governo estadual) construiu uma média de 20 mil casas por ano. Se nós continuarmos nesse ritmo, só para a gente suprir a deficiência de favelas e moradias críticas nós precisaríamos de 42 anos. O "Minha Casa, Minha Vida" (programa do governo federal) já está construindo em São Paulo 104 mil casas esse ano e a meta é chegar a 183 mil. O governo do Estado deveria fazer uma política de complementação do "Minha Casa, Minha Vida".
Metrô
O meu projeto é a gente chegar a 100 quilômetros de Metrô em quatro anos. Nós temos hoje pouco menos de 70 quilômetros. Além disso é possível dobrar a capacidade da CPTM colocando mais vagões, mais carros nas linhas,informatizando as linhas e melhorando equipamentos.
Aeroportos
Cumbica tem que ser rapidamente ampliado e modernizado, Viracopos tem um projeto de expansão e acho que tem que revitalizar [o Campo] de Marte e vamos ter que criar provavelmente mais um aeroporto. Se a iniciativa privada quer fazer um novo aeroporto, eu acho que tem que fazer.
Aeroportos regionais
Nós temos que estimular os aeroportos regionais. A concessão [desses terminais] pode, mas isoladamente não resolve se você não tiver uma política de acesso e de transporte das companhias para chegar nesses aeroportos. O aeroporto de Bauru não chega vôos lá, não tem volume. Não é um problema só de gestão. O problema é criar uma dinâmica econômica-social-estratégica que leve a utilizar aquele aeroporto de modo relevante, por exemplo criar um aeroporto indústria.
Concessão das rodovias
Aonde for possível fazer concessão nós faremos a exemplo do que o governo federal fez com tarifas muito mais baixas. Não tem sentido você fazer licitação onerosa em São Paulo [que a concessionária paga para explorar a rodovia, o que aumenta o valor do pedágio] com a receita e a economia crescendo.
Pedágios
No meu governo nós vamos baixar os pedágios. Se for necessário prorrogar os prazos de concessão para reduzir a tarifa, vamos fazer.Você tem contratos em São Paulo que a taxa de retorno chega a 27% e das novas licitações, tanto do governo federal como do estadual, é de 8%, 8,5%. Tem alguns contratos que estão totalmente fora do parâmetro.
Progressão continuada
Sou totalmente contra a aprovação automática. Não existe uma boa escola se não tiver avaliação. Tem que avaliar o aluno, a escola e o professor.
Dois professores na sala de aula
Você usar monitores que estão cursando, por exemplo, licenciatura, para complementar o processo de formação dos alunos eu acho positivo. O problema de São Paulo é você falar em segundo professor com o salário que se paga para o primeiro, sendo que 96 mil que nem concurso fizeram. O professor tem que ter formação continuada. Nós temos que pegar as universidades estaduais e criar a universidade do professor paulista, focar na formação do professor.
Organizações sociais na saúde
Os hospitais [gerenciados] por OSS são portas fechadas, eles têm um público alvo. Os hospitais de portas abertas [de responsabilidade do Estado] estão muito sucateados, com muitas deficiências, muitos problemas gerenciais. Precisamos ter um sistema integrado. O que falta nas OSS é transparência, controle social e integração ao SUS (Sistema Único de Saúde).
AME
Não adianta você botar um ambulatório de especialidades se você não tem atendimento básico, não tem gestão. Você tem que integrar o sistema, tem que ter parceria município, Estado, União. Se eu for governador eu não vou acabar com os AMEs porque foi o outro que fez, eu vou dar continuidade, mas vou integrar ao SUS (Sistema Único de Saúde), vou fazer uma gestão compartilhada de todo o sistema e São Paulo vai assumir sua responsabilidade no SAMU (Serviço Atendimento Médico de Urgência), na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e no atendimento básico que não tem feito.
Hidrovia Tietê-Paraná
É fundamental mudar o modal de transporte. Essa é uma hidrovia muito importante que você pode, inclusive, usar para [o escoamento] do etanol, complementar o transporte de grão, carros. Nós vamos em um prazo de sete anos quintuplicar o volume de transporte de mercadorias. Hidrovia, ferrovia e algumas ferrovias não podem mais ser adiadas.
Copa
Acho um absurdo São Paulo não ter definido um caminho para a Copa. A contagem regressiva já começou. Se vai construir um novo estádio, vamos definir o que o grupo comercial, o que o Estado precisa fazer, o município e vamos avançar nessa questão. O que nós não podemos ficar é sem definir se vai recuperar o Morumbi, se vai construir um novo estádio...
Novo estádio
A informação que eu tenho é que existem grupos econômicos dispostos a construir um novo estádio particular. Isso é um caminho possível, desde que seja rapidamente definido, que haja uma parceria público-privada que viabilize o investimento o mais rápido possível. São Paulo comporta um novo estádio.
Dinheiro público
Eu acho que algum tipo de dinheiro público, de apoio, é necessário. Você pode fazer um empreendimento da iniciativa privada, mas você vai ter uma obra de fundo e é totalmente justificável diante da projeção do país, a imagem que você cria, o turismo que se projeta e a estrutura que fica.
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