Do blog do Planalto
Segurando orgulhosamente um pequeno barril com amostra de petróleo retirado do Campo de Baleia Franca, primeiro poço do Pré-sal a entrar em produção no Brasil, o presidente Lula afirmou ser hoje um dia histórico para a Petrobras, para a tecnologia brasileira e para o País. “Esse pequeno barril simboliza a independência que o Brasil terá no futuro”, disse ele em curto discurso em Vitória (ES) após visitar a plataforma da Petrobras que fica a 85 quilômetros do litoral capixaba. O poço começará a produzir cerca de 13 mil barris de petróleo leve por dia – devendo chegar à produção de 20 mil barris por dia até o final deste ano.
Lula lembrou o dia em que diretores da Petrobras o avisaram sobre “um tal de Pré-sal”, há cinco anos, e frisou a importância da descoberta para a indústria brasileira, como a naval, a petroquímica e a de fertilizantes. O presidente voltou a falar sobre a polêmica que envolve as alterações no marco regulatório do petróleo no Brasil e os motivos que levaram o governo a propor essas mudanças, enviando projetos de lei ao Congresso. “Estamos investindo no futuro do Brasil”, afirmou. Ele lamentou que a discussão sobre a divisão dos royalties do Pré-sal tenha sido antecipada para antes das eleições, mas acredita num bom desfecho. “Chegaremos a um bom termo e o Brasil sairá ganhando com isso”, disse ele, aproveitando a ocasião para rebater as informações publicadas em um jornal brasileiro sobre países europeus que estão deixando de explorar petróleo no fundo do mar. “Tem que ver quais países europeus ainda tem petróleo no fundo do mar.”
Para Lula, certamente há quem defenda que o Brasil não explore o petróleo de sua camada pré-sal, deixando-a para outros – o que não vai acontecer, afirmou o presidente. O Brasil tem tecnologia e vai explorar o Pré-sal de maneira responsável, investindo o que for necessário para evitar desastres como o ocorrido no Golfo do México com um poço ultraprofundo da British Petroleum (BP), que explodiu e joga petróleo no mar há semanas. “Aquilo não foi um acidente, foi um desastre. A empresa quis fazer mais barato, botou menos do que devia botar”, afirmou.
******
De O Globo:
O Brasil na contramão do mundo
Por Danielle Nogueira e Ramona Ordoñez
Depois dos Estados Unidos, ontem foi a vez de a Europa recomendar a suspensão temporária de novos projetos de exploração de petróleo e gás em águas profundas por causa do vazamento da BP no Golfo do México. O acidente, ocorrido em 20 de abril, já é o maior desastre ambiental da história da Indústria do petróleo. Na contramão, o Brasil acelera seus projetos e hoje o presidente Lula inaugura oficialmente a produção na camada pré-sal do Campo de Baleia Franca, no Sul do Espírito Santo. Ontem, o comissário de Energia da União Europeia, Guenther Oettinger, propôs a suspensão temporária de novos projetos de exploração no Mar do Norte, no Mar Negro e no Mediterrâneo.
Produção de petróleo no pré-sal começa. Europa e EUA reconsideram
Um dia antes de o Brasil iniciar oficialmente a produção de petróleo na camada pré-sal do Campo de Baleia Franca, a 85 quilômetros da cidade de Anchieta, no sul do Espírito Santo, o comissário de Energia da União Europeia, Guenther Oettinger, propôs ontem uma suspensão temporária de novos projetos de exploração de petróleo e gás em águas profundas no Mar do Norte, no Mar Negro e no Mediterrâneo. A recomendação segue a proibição determinada nos Estados Unidos, em resposta ao vazamento iniciado em 20 de abril no poço do Golfo do México, operado pela BP. A Noruega, maior produtor europeu e que não integra o bloco, também proibiu a exploração em águas profundas do Mar do Norte.
- A indústria deve testar três vezes suas práticas, programas de treinamento e tecnologias. As empresas precisarão convencer os órgãos reguladores de que fizeram as verificações necessárias e reforçaram a segurança – disse Oettinger após encontro com representantes de 22 companhias petrolíferas em Bruxelas.
A suspensão proposta pelo comissário da UE ocorreria enquanto os órgãos reguladores americanos e da UE examinam o que causou o acidente da BP. A decisão, porém, cabe a cada um dos 27 Estados do bloco.
Já o comissário de Meio Ambiente da UE, Janez Potocnik, reconheceu que uma análise das regras ambientais do bloco revelou falhas.
- Parece que temos duas opções: ou aplicamos instrumentos específicos (para a perfuração offshore) ou ampliamos o escopo de nossas ferramentas já existentes – disse.
Na contramão da suspensão de novos projetos em águas profundas, o Brasil inicia oficialmente hoje a produção no pré-sal em reservas no Espírito Santo descobertas em dezembro de 2008. Segundo a Petrobras, o poço produzirá 13 mil barris de petróleo leve por dia e a previsão é que atinja a capacidade máxima, de 20 mil barris/dia, ainda este ano. O projeto adotará tecnologias pioneiras para operar nas condições geológicas do pré-sal.
Analistas divergem sobre suspensão
As opiniões sobre a paralisação temporária da exploração em águas profundas são divergentes. Há cerca de 15 dias, problemas operacionais durante a perfuração do segundo poço no pré-sal, na Bacia de Santos, levaram a seu fechamento.
Edmar de Almeida, do Grupo de Energia do Instituto de Economia da UFRJ, reconhece que houve falhas graves da BP, mas afirma que o Brasil deve manter seu programa no pré-sal.
- Risco sempre tem. Mas uma moratória é uma resposta política à pressão popular. Além disso, a produção nas bacias brasileiras não está caindo como na Europa. Estamos apenas no início da festa. Portanto, o Brasil não tem que entrar nessa onda. O que deve ser feito é investir em tecnologia para mitigar riscos – afirma.
O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, garantiu que as normas de segurança adotadas no Brasil estão entre as melhores do mundo e, portanto, não vê motivos para a suspensão de futuros projetos em águas profundas no país.
- A nossa legislação de segurança operacional é considerada uma das mais modernas do mundo. Soubemos dessa notícia pela imprensa (suspensão em outros países) e por enquanto não temos a intenção de adotar medida semelhante – afirmou Lima, completando que o acidente da BP, após a conclusão das investigações, também será levado em conta para aperfeiçoamento da legislação.
O professor do Instituto de Economia da UFRJ Hélder Queiroz criticou a falta de mais informações sobre as regras de segurança por parte da ANP e do Ministério de Minas e Energia.
- A ANP precisa mostrar à sociedade o que temos, e se vai ser preciso mudar algo ou não. E se for, quais medidas serão necessárias para reforçar – disse Queiroz.
Já a procuradora federal Telma Malheiros, responsável pela criação do escritório de licenciamento das atividades de petróleo e nuclear do Ibama – atual Coordenação de Petróleo e Gás do instituto -, defende que o Brasil altere seu modelo de gestão das bacias petrolíferas, de modo a incorporar a avaliação ambiental dessas bacias.
- O Brasil não deveria autorizar novos projetos de exploração em águas profundas enquanto não tiver uma avaliação estratégica ambiental de suas bacias. Só assim teremos um mapeamento com áreas onde a atividade petrolífera não pode ser conduzida pelo elevado risco que um vazamento poderia provocar. E essa exigência deve ser imposta pelo governo.
Radicalmente contrário à exploração do pré-sal, o diretor de campanhas do Greenpeace, Sergio Leitão, frisa que o Brasil vai na contramão dos esforços mundiais para reduzir as emissões de CO2. Para ele, os bilhões que serão investidos no pré-sal deveriam ser aplicados em pesquisas para desenvolver energias alternativas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário