Retrato do músico e compositor e agora secretário de cultura de João Pessoa, Chico Cesar, na sede da secretaria, em João Pessoa
Por Fabio Victor
FSP
ENVIADO ESPECIAL A JOÃO PESSOA
Quem conta é o próprio Chico César: ao chegar em cima da hora para assistir à Paixão de Cristo de João Pessoa, na Semana Santa, ele foi impedido de sentar. “Essas cadeiras são para autoridades”, afirmou um sujeito. “Pode não parecer, mas eu sou uma autoridade”, devolveu o músico, antes de se acomodar e ouvir desculpas.
Francisco César Gonçalves, ou Chico César, 47 anos, é desde janeiro secretário de Cultura da Paraíba, seu Estado natal. Aprofunda a experiência como gestor iniciada em 2009 na Prefeitura de João Pessoa, à frente da Fundação Cultural da cidade.
O compositor avalia que a sua escolha pelo governador Ricardo Coutinho (PSB), amigo desde o movimento estudantil, denota uma política de inclusão e diversidade que ainda causa estranheza, como na cena descrita acima.
Em quatro meses no cargo, Chico César adotou como bandeira a valorização da cultura tradicional paraibana e o reconhecimento de ícones artísticos do Estado.
“A Paraíba acostumou-se a ser plateia, a não ter protagonismo. Muitas vezes o paraibano busca sua identificação no que vem de fora. Temos que criar autoestima e passar a reconhecer e consumir nossas coisas”, diz, listando nomes –Sivuca, Jackson do Pandeiro, Augusto dos Anjos, Antonio Dias etc.
“O que fez o frevo e o maracatu sobreviverem e serem identificados como manifestações pernambucanas foi uma política pública”, afirma, referindo-se a uma de suas inspirações, o escritor Ariano Suassuna.
FOGUEIRAS
Mal assumiu o cargo, Chico César administra controvérsias, a mais notória a do “forró de plástico”, em que rejeitou dar verba para contratar grupos que fogem à forma tradicional do gênero.
Outra fogueira da gestão, esta menos midiático, foi a nomeação do músico João Linhares, ex-integrante da banda de Chico César, como regente da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB).
É um cargo de confiança do governador, mas o secretário-cantor abonou o nome, o que fez integrantes da OSPB reagirem ao que seria coleguismo, por Linhares não ter formação de maestro –embora seja violoncelista clássico e tenha sido regente-assistente da Jazz Sinfônica Jovem, de São Paulo.
Chico César, de novo, evoca a raiz. Linhares é paraibano, e a OSPB, segundo o secretário, acostumou-se ultimamente a contratar maestros forasteiros.
Quando esteve na prefeitura, o atual secretário recebeu críticas no meio cultural paraibano por supostamente privilegiar a música (e amigos músicos) em detrimento de outras manifestações e priorizar sua agenda artística sobre a pública.
“Como compositor, Chico César é genial, mas ser um criador genial não faz dele um bom gestor público. E como gestor ele tem deixado muito a desejar”, declara a pesquisadora e crítica literária Sônia van Dijck.
O músico diz ter combinado com o governador de dedicar a semana à secretaria, reservando os fins de semana à carreira artística.
É certamente um trato flexível, como se viu na semana passada: Chico César só despachou na terça e na quarta. Quinta e sexta, participaria em São Paulo de shows de Edvaldo Santana.
Quando completa, sua equipe terá 40 pessoas. Chama a atenção a quantidade de jovens. O orçamento da secretaria para 2011 é de R$ 8 milhões. O salário bruto de Chico César é de R$ 13 mil.
EXPEDIENTE
Na última quarta, a Folha acompanhou um dia de expediente do músico na Secretaria de Cultura.
Ele chegou às 10h45. Vestia calça, camiseta e blazer pretos e tinha a cabeleira presa num coque.
No gabinete apertado, teve quatro audiências até as 19h30. Recebeu o representante regional do MinC, o diretor do programa estadual de microcrédito, um consultor da Caixa Cultural e uma produtora insistente em busca de verba –que ele disse não ter. Acompanhou-o sempre a chefe de gabinete, Maristela Garcia, paulista com quem trabalha há 12 anos.
Ouviu, perguntou, tomou notas, bebeu muita água e fuçou seu notebook Apple.
Foi almoçar a pé, num restaurante por quilo.
DVD E NAMORO
Chico César, que lançou em 2009 “Francisco Forró y Frevo”, não tem programado novo álbum de inéditas. Negocia com a Biscoito Fino para gravar no segundo semestre o DVD de “Aos Vivos”, seu festejado trabalho de estreia.
Natural de Catolé do Rocha, no sertão paraibano, o músico mantém uma casa em São Paulo, onde viveu por 25 anos até voltar a João Pessoa, em 2009.
Alugou então uma outra casa na capital paraibana, na praia de Ponta do Seixas. No primeiro dia, foi caminhar e conheceu uma vizinha, Isabela Lucena, uma tradutora de alemão com quem namora até hoje.
Retirado do Substantivo Plural
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