sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pensou em ser professor?

Os cursos de licenciatura estão ficando vazios. Já está faltando professores em todas as áreas de conhecimento. Pois, como a carreira pode ser atrativa com baixos salários, insegurança nas escolas, turmas superlotadas, falta de estrutura  em escolas, sem tempo para  o professor planejar e se capacitar? Já pensou em ser professor?

"Em um questionário aplicado em escolas, diante da pergunta Pensou em ser professor?, apenas 2% dos estudantes assumiram, como primeira opção de ingresso à faculdade, o curso de Pedagogia ou outra licenciatura. Boa parte do grupo defende a nobreza e o valor da profissão, mas acredita que a sociedade não reconhece a importância do professor." 

Reproduzo abaixo um excelente texto retirado do Blog Educação Deficiente

O MODELO DE PROFESSOR IDEAL
JULIANA BUBLITZ E ÂNGELA RAVAZZOLO - Zero Hora 28/04/2011


Diante da lousa, com a autoridade de quem detém o saber, o professor discursa. Em silêncio quase sepulcral, os alunos escutam. Não há brecha para questionamentos. Corriqueira décadas atrás, a cena já não existe. Ou está com os dias contados. Com o século 21, não por acaso batizado de “século do conhecimento”, nasce um novo mestre. Com o intuito de valorizá-lo, o movimento Todos Pela Educação lança uma campanha de mobilização, que a partir de hoje – Dia da Educação – ganha destaque nacional. Com o slogan “Um bom professor, um bom começo”, reforça a importância desses profissionais e pressiona por melhorias.

– O professor tem uma posição estratégica no século 21. Só que precisa ser valorizado, e isso inclui salários iniciais atraentes, plano de carreira e melhores condições de trabalho. Não basta ter brilho nos olhos e, como se diz aqui no Nordeste, fogo nas ventas – diz Mozart Neves Ramos, professor da Universidade Federal de Pernambuco e conselheiro do Todos pela Educação.

PENSOU EM SER PROFESSOR? - ÂNGELA RAVAZZOLO | EDITORA DE EDUCAÇÃO

Pesquisa da Fundação Victor Civita sobre a atratividade da carreira docente expõe um alerta: a provável falta de professores em um futuro próximo. Em um questionário aplicado em escolas, diante da pergunta Pensou em ser professor?, apenas 2% dos estudantes assumiram, como primeira opção de ingresso à faculdade, o curso de Pedagogia ou outra licenciatura. Boa parte do grupo defende a nobreza e o valor da profissão, mas acredita que a sociedade não reconhece a importância do professor.

Se os próprios estudantes já perceberam, é sinal de que precisamos (todos) nos preocupar.

Nos Estados Unidos, o programa KIPP – Knowledge is Power (Saber é Poder) é um bom exemplo de que a união de forças muda um cenário ruim. O KIPP é formado por uma rede de escolas em que 80% dos alunos vêm de famílias de baixa renda. Os estudantes ficam duas horas extras por dia no colégio, os professores visitam regularmente a residência da família, e os pais assinam um termo de compromisso: se comprometem a verificar o dever de casa e garantir a presença em sala de aula. O projeto é citado em um estudo internacional da consultoria McKinsey como um bom exemplo mundial: o desempenho das crianças do KIPP no 7º ano ficou acima da média nacional.

A campanha do Todos pela Educação segue nessa direção, envolve a sociedade e assim foge daquela postura do pai (ou da mãe) acomodado, que espera o professor resolver tudo. Além de ensinar, fazer de tudo para que o filho alcance o sucesso sonhado. Sim, o professor deve ser o protagonista, mas ninguém mais pode ficar escondido na coxia.

1. GOSTAR DO QUE FAZ

Mais do que qualquer profissional, quem opta pelo magistério tem de ter paixão por ensinar e se orgulhar de seu papel na sociedade. Quanto mais os alunos sentirem essa empatia, garantem especialistas, mais abertos estarão à aprendizagem e melhor será o
desempenho em sala de aula.

– O bom professor não apenas deve ter orgulho da profissão, como deve defendê-la com garra.

Ele é um otimista, um sonhador. Tem a utopia de um mundo melhor, sem a ingenuidade da busca de resultados fáceis e sem se abater frente aos obstáculos – afirma Francisco Aparecido Cordão, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação e diretor-presidente da Consultoria Educacional Peabiru. Em contrapartida, reconhecem gestores e estudiosos, o educador que ama o que faz e se dedica de corpo e alma ao trabalho também precisa ser valorizado por isso. Melhores salários e condições de trabalho são considerados fundamentais.

2. TER UMA BOA FORMAÇÃO

O professor ideal deve ter formação sólida e ampla. Esse processo, segundo a superintendente de Educação e Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, Bernardete Gatti,
deve incluir o domínio dos conteúdos da disciplina escolhida e, em igual peso, o conhecimento das metodologias e práticas de ensino.

– De nada adianta saber o conteúdo, se o educador não consegue transmiti-lo aos alunos. A maioria dos cursos não tem nem 10% de formação pedagógica, e esse é um
problema sério, que precisa ser repensado – alerta Bernardete.

Além de uma boa base, a diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro), Cecília Farias, destaca a importância de haver continuidade nos estudos. Para acompanhar a velocidade das mudanças na sociedade atual, os mestres precisam se manter atualizados – e, para isso, devem contar com o apoio dos gestores, públicos ou privados. Além de uma imposição profissional, esse deve ser um desejo pessoal.

3. FALAR A LÍNGUA DOS ALUNOS

Não se trata de adotar as gírias ou se comunicar como um adolescente, mas de entender o universo da garotada e planejar aulas que levem em conta esse jeito particular de ver e viver o mundo de hoje.

– O professor tem de compartilhar o universo dos alunos e ser um pouco artista diante desse público.

Se não usar isso a seu favor, se não falar a mesma língua deles, corre o risco de se transformar em uma cápsula de sonífero – diz o consultor educacional do Fronteiras . Educação – Diálogos com a Geração Z, Francisco Marshall, da UFRGS.

Isso significa, por exemplo, estimular a interatividade e evitar falar sozinho, sem parar, uma aula inteira. Significa, também, não subestimar os adolescentes. Foi-se o tempo em que o mestre era o dono do conhecimento. No passado, ele falava, e os estudantes ouviam em silêncio. Hoje, ele deve estimular o diálogo. Se, para
isso, for possível usar e abusar de recursos audiovisuais, como projeções de imagens, vídeos e músicas, tanto melhor.

4. USAR NOVAS TECNOLOGIAS

O educador do século 21 não pode ser um analfabeto digital. Ignorar ou repudiar a influência da internet na vida dos alunos é aprofundar o abismo entre os estudantes e a escola.

– Ao tirar proveito disso, o professor traz a realidade da criança e do adolescente para a sala de aula. É uma forma de aproximação e uma maneira de apresentar o conhecimento de um novo jeito – afirma a professora Maria Elizabeth de Almeida, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Não basta, porém, dominar a tecnologia. É preciso que saiba aplicála. Primeiro, é importante que navegue nos sites preferidos de seus pupilos e faça parte das redes sociais. Depois, explorar o potencial dessas ferramentas de forma criativa. Por que continuar restrito ao velho mapa-mundi se pode usar o Google Earth para mostrar regiões, países e cidades em detalhes? Por que não estimular a gurizada a escrever microcontos no Twitter? As portas que se abrem são infinitas.

5. IR ALÉM DO CONTEÚDO

O bom professor, ressaltam especialistas, deve saber que sua missão profissional não se resume a repassar o conteúdo da disciplina. Hoje, mais do que nunca, ele deve ser um guia, um tutor. O velho chavão “ensinar para a vida” continua valendo. Cabe ao mestre, com a família, difundir valores éticos e morais e fazer com que crianças e adolescentes sejam capazes de reflexões críticas.

– O aluno não é um saco vazio. Ele já chega com conhecimento e recebe, de todos os lados, um turbilhão de informações, sem filtros. O professor deve estar atento a isso e ser um orientador – avalia a presidente do Conselho Estadual de Educação, Sonia Balzano.

Para Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, ir além do conteúdo também implica usar as experiências vivenciadas pelos alunos como ponto de partida para discutir assuntos importantes e transmitir ensinamentos.

Fonte: Blog Educação Deficiente

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