O editorial da última terça-feira do jornal O Globo é mais uma demonstração da postura que a mídia hegemônica defende em relação à política externa brasileira. A ânsia por submissão aos países desenvolvidos e opressão às nações pobres parece não ter fim.
Sob o título “A política externa das más companhias”, o referido editorial bate forte na visita de Lula à África, e aproveita para alfinetar o presidente em velhas questões como o caso do dissidente cubano Orlando Zapata ou as negociações com o Irã. Para O Globo, “assim o Brasil se afasta de sua tradição de equilíbrio na política externa”. Falta esclarecer o que é, para o jornal, equilíbrio na política externa. A crítica às negociações que Lula tem buscado com todos os países e ao respeito às questões internas dos outros países sugere que, para O Globo, equilíbrio na política externa é submissão aos mais ricos e opressão aos mais pobres, desrespeito aos latino-americanos e africanos, respeito demais aos norte americanos e europeus.
Lula apoiou o pedido da Guiné Bissau de ingresso na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Para o editorialista d’O Globo, “a CPLP não deveria abrir suas portas para um ditador”. O entendimento curto e raso ou a má fé leva o jornal a desinformar o leitor. Seja o líder da Guiné Bissau ditador ou não, o pedido não é para que ele entre na CPLP, mas para que o país seja admitido. Ao contrário do que O Globo afirma, particulares não podem ingressar na Comunidade, apenas países.
A lembrança de Cuba não poderia faltar. A Copa do Mundo levara algumas das grandes empresas de comunicação a deixarem um pouco de lado as fortes críticas à política de externa de Lula. Mas, como antes, agora Cuba está de novo em pauta. Guillermo Fariñas, preso político cubano, encerrou nesta quarta sua greve de fome, após o governo cubano prometer libertar 52 presos políticos nos próximos meses. Mas, na terça, O Globo achava motivo para criticar Lula: “Agora mesmo, o governo brasileiro segue em silêncio diante da morte iminente de Guillermo Fariñas, outro prisioneiro de consciência cubano em greve de fome há cem dias”.
O jornal espera que Lula, de repente, faça um pronunciamento para criticar o governo cubano? Quando, em Israel, ocorreu um fato específico – a invasão e agressão do governo israelense a uma frota de ajuda humanitária – a ideia geral da grande imprensa brasileira era que o governo daqui não deveria dizer nada. Ou seja, inclua Israel entre as nações às quais devemos obedecer. Cuba deve ser agredida.
Essa última “obrigação” não é cobrada apenas no editorial. Uma reportagem da mesma edição de O Globo afirma, já no título: “Menos presos políticos, mas a mesma repressão”. O texto da repórter Cristina Azevedo, porém, não consegue, apesar de grande esforço, demonstrar a segunda parte da afirmação. Omite informações, como quando afirma, em relação a Cuba, que “proporcionalmente esse é um dos maiores números de presos políticos no mundo”, mas esquece de dizer quais os outros países que encabeçam a lista.
Em seguida à matéria uma entrevista com Oswaldo Payá tenta mostrar mais “horrores” do governo cubano. Credita Payá como “Prêmio Sakharov de Direitos Humanos do Parlamento Europeu em 2002” e “coordenador do Movimento Cristão de Libertação”. Ignora, porém, que Oswaldo Payá foi quem organizou um projeto, enviado ao governo cubano, cujo conteúdo coincidia com o “programa de transição” para Cuba, do ex presidente norte americano George W. Bush.
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