Partidos : Estratégia piora clima que antecede convenção tucana
Raquel Ulhôa | VALOR
A pouco mais de uma semana da convenção nacional do PSDB que vai eleger a nova direção partidária, está clara a disposição da corrente ligada ao senador Aécio Neves (MG) de evitar que o ex-governador de São Paulo e candidato derrotado à Presidência José Serra ocupe cargo de projeção no comando da sigla. Junto com o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), Aécio está à frente das articulações. Estratégias de ação estão sendo definidas para 2012, visando fortalecer a candidatura presidencial da legenda em 2014. Um dos objetivos é evitar que o partido fique a serviço do projeto pessoal de Serra.
Ontem, as divergências entre os grupos paulista e mineiro se agravaram por causa de dois episódios. Primeiro, a decisão da bancada do PSDB do Senado de reiterar o convite ao ex-senador Tasso Jereissati para presidir o Instituto Teotonio Vilela (ITV), órgão de estudos e formação política do partido. O gesto foi interpretado como veto a Serra. A reunião dos senadores foi na quarta-feira, no gabinete de Aécio. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tinha dado início à articulação para que Serra fosse indicado ao cargo.
Outro fato que azedou o clima interno no partido foi a notícia da existência de um parecer jurídico considerando que a reeleição de Guerra na presidência do partido contraria o estatuto do PSDB, que restringe a quatro anos consecutivos o mandato do dirigente. Guerra foi eleito em 2007, mas seu mandato foi prorrogado por duas vezes, totalizando quatro anos no cargo.
Na leitura de aliados de Guerra, trata-se de ameaça de pessoas ligadas a Serra, de contestar a recondução do pernambucano, caso não haja acordo em torno da composição da executiva. O parecer estaria nas mãos do deputado Jutahy Júnior (BA), ligado ao ex-governador. “É irrelevante [o parecer]. Estou tranquilo”, disse Guerra, que discutiu o assunto ontem com lideranças do partido.
Com relação à indicação de Tasso para o ITV, a primeira manifestação de apoio da bancada do Senado foi no ano passado, depois que Tasso foi derrotado na tentativa de se reeleger ao Senado. O senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), aliado de Serra e único ausente na reunião da quarta-feira, criticou a decisão e negou que se trate de decisão da bancada. “Foi um encontro cordial, em torno de uma pessoa muito querida. Um homem como Tasso tem que estar na executiva. Mas sou contra o método de lista para nomeação. Tem que ser precedida por debate”, disse.
Segundo Aloysio, “é um absurdo um partido querer sepultar uma pessoa só porque quer ser candidato a presidente”. Ele defende que a composição da executiva não pode ser decidida “pedaço por pedaço, igual salame”. Disse ser necessário o entendimento entre as correntes partidárias, sob pena de haver confronto na convenção e Guerra presidir um partido “dividido e ferido”. O presidente do PSDB afirma que vai trabalhar até o dia da convenção para “compor” as alas do partido.
O grupo de Aécio, que hoje está à frente das negociações, parece disposto a contrariar interesses do grupo paulista. O argumento é o seguinte: ainda que a disputa agora deixe alguma sequela, se a solução garantir um funcionamento adequado do partido, é preferível que haja reações a um entendimento “de fachada”, que imobilize o PSDB nos próximos anos.
Mesmo fora dos cargos de mais importantes da direção nacional do PSDB, o grupo ligado ao governador Alckmin prefere apoiar nomes aecistas, na tentativa de enfraquecer a influência de Serra das decisões da legenda. Alckmin já conseguiu o comando dos diretórios municipal e estadual do PSDB em São Paulo, deixando quase nenhum espaço a seu antecessor. “É inevitável a recondução de Sérgio Guerra e de Rodrigo de Castro”, disse um político da ala de Alckmin.
Deputado federal aliado a Aécio, Castro deve reassumir a secretaria-geral nacional do partido. Serra havia tentado emplacar o nome do ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, que evitou comentar o assunto. “Não participo das conversas. Elas se dão em Brasília, Em São Paulo, só quem participa é Alckmin e Serra, mas estou à disposição do partido”, afirmou.
As negociações estão encaminhadas para manter a maioria do diretório e da executiva. A novidade é a criação do conselho político, do qual Serra teria participação como ex-candidato a presidente e Aécio, como representante do Congresso. O ex-governador paulista, no entanto, avalia que o órgão não tem importância e rejeita a ideia.
A ida de Tasso para o ITV é considerada importante para o grupo de Aécio, porque os dois são aliados e o ex-senador mostra muita disposição para o projeto de “atualizar o programa do partido”. O receio da corrente de Aécio é que Serra, à frente do ITV, coloque o órgão a serviço de um projeto pessoal. Serra nunca admitiu publicamente a intenção de assumir o ITV, mas Alckmin reafirmou ontem o apoio a ele.
O projeto do grupo de Aécio é estruturar o partido no país todo, criar uma comunicação institucional interna eficiente – que alimente as bases de informação -, identificar e potencializar os erros e fragilidades do governo federal, aproximar o partido da sociedade e criar marcas que identifiquem o PSDB, diferenciado-o do PT.
Para 2012, a intenção é organizar um comando de alianças nas eleições municipais, apoiando candidatos que tenham mais condições de vencer o PT, ainda que sejam de partidos hoje aliados ao governo de Dilma Rousseff. A lógica é que, como o adversário de 2014 será o PT, o objetivo é dividir a base governista e atrair o maior número de aliados para o candidato do PSDB a presidente. (Colaboraram Ana Paula Grabois e Cristiane Agostine, de São Paulo)
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