A denúncia contra Palocci publicada na Folha deste domingo é um recado claro, começou a caça ao governo Dilma. A falta de repercussão da notícia nos jornais de hoje é outro recado claro. Não temos interesse em derrubar Palocci nem de ir para cima do governo agora. Só queremos mostrar que temos fogo.
Falando em fogo, isso não é fogo amigo do PT, como a própria mídia tenta fazer crer. É fogo do inimigo, mesmo. E bem calculado. Um sinal de alerta.
O ministro da Casa Civil é de longe, no atual governo, o mais confiável dos tubarões do setor financeiro e dos barões de todos os outros setores empresariais, entre eles os mídiáticos.
Mesmo assim, seu crescimento patrimonial que deve ter assustado ao mais empedernido governista, foi para as manchetes.
Antes de entrar na análise do jogo político, um parêntese para tratar da denúncia em si. Não há ilegalidade no fato de Palocci ter tido uma empresa enquanto era deputado. Quase todos têm empresas. Há imoralidade é se suas empresas guardavam relação com o cargo que ocupava na Câmara ou com o que ocupara no governo anterior.
Ele era da Comissão de Finanças e Tributação no período do crescimento do patrimônio e foi por longo tempo ministro da Fazenda de Lula. Aliás, continuou sendo seu conselheiro econômico quando deputado.
Se Palocci deu consultoria a bancos e a agentes econômicos, houve claro favorecimento de seus clientes em relação à concorrência.
Por isso, dado ao imenso crescimento do seu patrimônio, seria correto que divulgasse os nomes dos clientes e o balanço da empresa.
Palocci não é um funcionário público qualquer. É o ministro da Casa Civil. Denúncias contra ele atingem a credibilidade do governo. Nesse caso o discurso de “não tenho que dar satisfação a ninguém porque isso aconteceu antes de assumir o ministério” não vale do ponto de vista político. Mesmo que seja justo do ponto de vista jurídico.
O fato é que Dilma vai ter seu grande teste no gerenciamento dessa crise.
Se tentar esconder o caso embaixo do tapete, vai deixar seu governo refém da mídia e das elites que dizem adorar Palocci. No momento adequado esse caso vai emergir. Vai ser uma história sempre a postos para virar pauta negativa. E colocá-la nas cordas.
Ao mesmo tempo se decidir demitir Palocci, passa a ser pautada pelas manchetes dos jornais. E terá uma perda importante no primeiro escalão antes de completar seis meses no cargo.
É difícil para a presidenta sair dessa história sem perder algo. A questão é com que lado ela vai se aliar para enfrentar as próximas batalhas.
Palocci merece ser tratado como aliado. Sua demissão imediata não é uma boa saída política.
Mas ao mesmo tempo, a denúncia de ontem deve servir de alerta para um fato. O governo hoje tem pendido muito mais para as políticas que Palocci representa, do que para a pauta dos movimentos sociais.
Outro dia disse no twitter que isso poderia custar caro, ter um preço político alto num momento de crise. Insisto na tese.
Mesmo com todo esforço de Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, este governo tem tido menos sensibilidade com o movimento social do que os anteriores de Lula.
Líderes sindicais, ambientais, de organizações não-governamentais, da cultura têm reclamado cada vez mais disso. O fazem de forma dura em conversa de bastidores. Em geral, apontam Palocci como responsável pela interdição das suas pautas.
O governo não pode abrir mão desses setores. Porque mesmo Palocci sendo o queridinho do PT para o lado de lá, ele continua sendo do PT.
Por isso o leitor vai ver o crescimento patrimonial dele nas manchetes de jornais, mas não verá o mesmo de proeminentes figuras do tucanato. O lado de lá, sabe que é do lado de lá.
Fonte: Blog do Rovai
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