Da redação do sítio Fazendo Media:
Com base em denúncias que circularam pela internet em meados de 2003, o Laboratório de Mídias Eletrônicas (LabMídia), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), produziu um vídeo demonstrando que o governo estadual de Minas Gerais, na gestão de Aécio Neves (PSDB), cerceava a liberdade de imprensa no Estado. Com depoimentos de um ex-diretor da filial da Rede Globo em Minas Gerais e outro do jornal impresso o Estado de Minas, além de outros veículos e jornalistas, são apresentadas as dificuldades e até restrições em disseminar informações contrárias aos interesses do governo à época. A produção e roteiro são de Marcelo Chaves, e o material é datado de 2005/2006.
Marco Nascimento, ex-diretor executivo da Globo Minas, que passou seis anos por São Paulo, onde foi chefe de redação por dois anos, lembrou de quando o governador Aécio Neves, recém eleito, adiou uma entrevista para o programa “E agora governador?”. A conversa só foi realizada meses depois no telejornal local, e com algumas dificuldades:
“A assessora veio depois dizer que as perguntas não estavam combinadas”, disse o ex-diretor. Andréa Neves, por sua vez, responde no vídeo que “é incomum haver quebra de formato proposto e aceito por ambas as partes, sobretudo numa entrevista ao vivo”. Algum tempo depois, a assessora chamou o diretor para um almoço, no qual reclamou da cobertura de jornalismo da emissora e criticou uma matéria que denunciava o consumo de crack perto da delegacia de investigação em Minas. A reportagem também denunciava o desvio de função policial para presídios e a superlotação carcerária, além da corrupção na corporação. Segundo Nascimento, a assessora disse que “essa matéria veio num momento ruim para o governo do estado”.
As denúncias não param por aí. Paulo Sérgio, ex-apresentador do Itatiaia Patrulha, afirma que “era veladamente proibido de cobrar do governo através do chefe, Marcio Poti”, que dizia “tudo o que você fizer eu quero na minha sala”. Como ele relatava problemas no comando da polícia, resolveram tirá-lo do programa.
Além dele, o famoso jornalista esportivo, Jorge Kajuru, quando trabalhava na Band, em 2004, denunciou na porta de um jogo de futebol que enquanto 42 mil ingressos foram colocados à venda para o povo cerca de 10 mil foram direcionados para convidados especiais da CBF e do governo de Minas. E a entrada para estes era a mesma das pessoas portadoras de necessidades especiais. No meio da matéria Kajuru informa que vai entrar nos intervalos comerciais e não retorna. Além da reportagem ficar pela metade, ele foi demitido. São vários os exemplos, outros jornalistas deram depoimentos no vídeo relatando as dificuldades de se publicar matérias mais críticas ao governo.
Chegou a tal ponto essa situação que todas as notícias que pudessem contrariar o governo eram contestadas pelos assessores, diz o ex-diretor da Globo Minas. Acabou que Marco Nascimento foi demitido, apesar de ter sido chamado pela própria empresa para sair de São Paulo e assumir o cargo de direção em Minas. E com a demissão desses profissionais, um dos jornalistas diz que eles ficam marcados e outras empresas se negam a contratá-los, chegando a ficar seis meses sem emprego por sustentar opiniões contrárias ao governo. Sindicatos entraram com uma ação no Ministério Público Federal, para investigação de acordos empresariais com o estado de Minas, mas o Ministério Público Estadual engavetou os processos.
É importante estar atento a esse lado da figura de Aécio Neves, atual referência da oposição capitaneada pelo PSDB. Não se trata de criticá-lo em defesa do atual governo, mas pela liberdade de expressão. Seu partido, junto à mídia, bombardeou Brasil afora críticas à liberdade de imprensa quando o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) foi proposto pela governo junto à sociedade.
E atual presidenta Dilma Roussef também já recebeu críticas por suas manifestações em cobrar maior responsabilidade dos meios de comunicação de massa. Aécio, por sua vez, foi cogitado a vice presidente de José Serra nas últimas eleições, e vem crescendo como liderança aos olhos da mídia hegemônica. O senador tem grandes chances de se candidatar às próximas eleições, e essa sua relação com a mídia não pode passar despercebida.
Reproduzido do Blog do Miro
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