Eleitores “vaivém” explicam números do levantamento Datafolha
José Roberto Toledo – O Estado de S.Paulo
A pesquisa Datafolha que mostra empate técnico entre José Serra (39%) e Dilma Rousseff (38%) é uma reviravolta na corrida presidencial? Não. Ela é facilmente comparável às anteriores (Vox Populi e Ibope) que mostravam vantagem da candidata do governo (40% a 35%).
Vale notar que as variações na intenção de voto estimulada para o total do eleitorado estão dentro do intervalo da margem de erro.
Dilma, pelo Datafolha, poderia ter até dois pontos a mais, e chegar aos 40% indicados pelos outros institutos. O mesmo vale para Serra: o tucano poderia ter até dois pontos a menos, o que lhe daria 37% ? o mesmo porcentual a que ele chegaria somando-se a margem de erro de Vox Populi e Ibope.
Mas essa não é a explicação principal. As sondagens são de datas diferentes. O Datafolha teve tempo de captar o impacto dos spots de 30 segundos que o PSDB veiculou entre 26 e 29 de junho na TV. A propaganda tucana, camuflada nos intervalos comerciais, alcançou o objetivo que o programa de 10 minutos do partido não conseguiu: foi lembrada por metade dos eleitores.
É o chamado efeito “recall”: a memória mais fresca na cabeça daqueles eleitores que ainda não fizeram uma opção firme. Eles oscilam entre Serra e Dilma, e respondem aos pesquisadores o último nome que ouviram no rádio ou na TV. É possível estimar o tamanho desse eleitorado oscilante? Quantos podem ser chamados de “eleitor vaivém”?
Até maio, eles eram cerca de 10% do total. O aumento do grau de identificação de Dilma com o presidente Lula fez com que a petista absorvesse metade desses eleitores pendulares.
Desde o começo de junho, o contingente dos “vaivém” não passa de 5%. Mas, como eles saltam de Serra para Dilma e vice-versa, acabam tendo seu peso dobrado.
A julgar pelos cruzamentos do Datafolha, os “vaivém” são preponderantemente mulheres e/ou eleitores com baixa escolaridade. Obviamente isso não significa que a maioria das mulheres e dos eleitores que estudaram pouco têm esse comportamento errático.
Os “vaivém” são um pequeno grupo que tem preocupações maiores do que a eleição. Ao serem abordados pelo pesquisador, resolvem o problema sobre o qual não tinham pensado com uma resposta que puxa mais pela memória do que pelo raciocínio. A diferença dos “vaivém” para os indecisos é que esses últimos indicam nenhum nome aos pesquisadores e, assim, acabam fora das análises.
Os dois grupos devem continuar diminuindo, à medida que os presidenciáveis se tornam mais conhecidos e adquirem uma identidade no imaginário de mais eleitores.
Segundo o Datafolha, ainda há 25% de eleitores que não sabem quem é o candidato de Lula. É um contingente maior do que a soma de indecisos e dos “vaivém”. Essa conta alimenta a expectativa dos petistas de que Dilma retomará seu crescimento assim que mais eleitores descobrirem quem Lula apoia.
É possível, mas, por enquanto, o principal efeito da pesquisa Datafolha é devolver esperança à campanha de Serra, depois de uma sequência de trapalhadas que ameaçou afundar o barco antes de ele deixar o porto.
É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM ESTATÍSTICAS
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