sábado, 3 de julho de 2010

Um economista sem “roda presa”

É um alívio ver um economista que não se alinha ao coro monocórdio do “dever de casa” do superávit fiscal, dos juros altos, do freio no país. Por isso, faço questão de transcrever um trecho da entrevista de Paulo Nogueira Batista Júnior publicada pelo Dilmanaweb. É alguém que, mais de uma vez, tenho mencionado – e torcido muito – pode ser alguém muito importante na cúpula da área econômica do Governo Dilma.


Se o critério for ser capaz de lidar com diferenças de visão na economia, experiência não lhe falta. Afinal é o representante do Brasil que quer crescer no FMI que sempre fez muxôxo ao crescimento do Brasil.

“Brasil abandonou as ilusões da globalização”, diz diretor do FMI

Qual a avaliação sobre o desempenho dos países em desenvolvimento na crise financeira mundial, iniciada em 2008?

Foi uma grande surpresa. Os países em desenvolvimento, em sua maioria, enfrentaram a crise razoavelmente bem. O Brasil se destacou nesse particular. Muito do prestigio atual do país se deve à percepção de que o Brasil soube lidar bem com os choques externos em 2008 e 2009. Houve a maior crise desde a Grande Depressão dos anos 1930, e o Brasil não só não teve grandes problemas em suas contas externas, como virou credor do FMI! Quem diria!

Que significado tem dentro e fora do FMI a mudança de posição do Brasil de devedor para credor externo? 

Hoje a nossa posição é outra. A influência do Brasil no exterior, inclusive no FMI, G20, é crescente. O Brasil tem demonstrado capacidade de atuar de forma independente. Nem todos os emergentes têm essa capacidade. Houve, acredito, uma mudança enorme na posição internacional do país. Temos que trabalhar para manter e consolidar essa posição mais forte. 
Para isso, é importante, entre outras coisas, manter as contas em ordem e evitar a dependência de capitais externos. 

Quais vantagens competitivas o senhor vê no Brasil em relação aos outros países?
 
O Brasil é um país-continente. É um dos maiores do mundo em termos de PIB [Produto Interno Bruto], população e extensão geográfica. Tem recursos naturais abundantes. Uma população ativa e criativa. Sempre acreditei, mesmo nos piores momentos durante os anos 1980 e 1990, no futuro do país e no seu potencial. Passamos por muito sofrimento, muita decepção, mas agora tomamos o rumo do desenvolvimento com independência. “A independência é para os povos, o que a liberdade é para o individuo”, dizia De Gaullle. Depois de muita cabeçada, parece que finalmente o Brasil encontrou o seu caminho, abandonando as ilusões sobre “globalização”, fim do Estado nacional e outras que nos seduziram na década de 1990.

O Brasil pode se tornar a 5ª maior economia do mundo, como algums preveem? 

É difícil prever. Mas o Brasil deve continuar crescendo mais do que a média mundial. Para continuar crescendo, é importante manter políticas econômicas sólidas, estimular o investimento e não se deixar inibir pelas estimativas pessimistas que muitos economistas fazem sobre o nosso “crescimento potencial”. Essas estimativas são mais incertas do que se imagina. Não me parece exagerado buscar metas de crescimento ambiciosas, digamos, de 6% ao ano nos próximos anos.

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