Mesmo tendo um papel crucial no desenvolvimento intelectual desde a infância até a fase adulta, os professores ainda convivem com a desestimulante realidade que envolve a profissão. O resultado dessa desvalorização dos mestres vem provocando um crescente déficit de profissionais - seja ela gerada pelo abandono da carreira ou da recusa do ingresso na profissão.
Além da rejeição dos novos professores, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte/RN) estima que dos 18.800 professores do Estado, mais de 7 mil estão fora da sala de aula devido a doenças ocupacionais provocadas pela sobrecarga de trabalho. O coordenador-geral do órgão, Rômulo Arnaud, não informou precisamente os números relacionados à jurisdição de Mossoró, mas informa que o desestímulo e déficit de profissionais seguem a tendência do Estado.
Conforme o coordenador-geral Sinte/RN, a rejeição à função no ensino público ocorre devido à falta de perspectivas, baixos salários e precárias condições de trabalho. "Com uma má remuneração e dificuldades dentro da escola, que se transformou em um ambiente hostil em salas superlotadas, os novos professores não duram muito na profissão. Há professores que desistiram de lecionar na primeira semana de atuação", revela o especialista.
Dentre o grupo de professores que desistiram logo após início da carreira, está a auxiliar comercial Carla da Silva. Ela conta que depois de concluir a graduação em Letras, com habilitação em Língua Inglesa, decidiu tomar outro rumo profissional. Motivo: a difícil ausência de perspectiva com a profissão.
"Durante o estágio curricular percebi que aquilo não era uma boa escolha. Não me identifiquei, pois antes de tudo é preciso vocação. Aliado a isso, a falta de estrutura das escolas públicas desestimula qualquer um. Por isso hoje trabalho em uma área totalmente distinta da educação e estou trilhando novos caminhos para minha carreira", destaca a auxiliar comercial.
Para o coordenador do Sinte-RN, a carga horária excessiva que obriga o profissional a trabalhar em três turnos para se manter também compromete a dedicação à carreira e a escolha da profissão. "Um professor precisa de tempo para elaborar provas e as aulas, com essa sobrecarga é humanamente impossível. Eu mesmo já cheguei a lecionar 17 aulas em um único dia. Não aguentei esse ritmo e tive que me afastar pelo estresse que estava gerando. Esse problema acomete muito a categoria", explica Rômulo Arnaud.
Segundo o especialista, existe um nível elevado de afastamento de professores devido a doenças ocupacionais, como estresse e depressão. "A cada 10 funcionários do Estado que procuram a Junta Médica oito são professores. Por ano, 140 profissionais da educação são readaptados em outros setores por não terem condições de retornar às salas de aula. Com esse crescente número de remanejamento, atualmente mais de sete mil professores do Estado não estão lecionando. Há muitos professores com medo de ir à escola, tamanho o estresse", frisa.
O representante ressalta que se não houvesse esse elevado número de professores desligados por doenças ocupacionais, a demanda de profissionais na rede estadual de educação seria suprida.
Categoria mantém greve para chamar atenção da sociedade quanto à situação do ensino
Revoltados com as condições de trabalho e a baixa remuneração, desde 28 de abril os professores do Estado paralisaram as atividades. Para o representante da categoria, Rômulo Arnaud, a greve é o momento de despertar a sociedade em relação aos problemas enfrentados pelos professores. "Essas dificuldades muita gente já conhece, mas é preciso discuti-las. E o engajamento da sociedade nesse debate é muito importante", ressalta.
Passados 25 dias do movimento paredista, o Sinte-RN acredita que a paralisação está mais forte em virtude das novas adesões. "Muitas escolas que ainda não tinha aderido juntaram-se a nós. E hoje estamos com 90% dos professores parados. Além disso, realizamos uma assembleia com grande participação dos funcionários das escolas e 50% da classe já aderiram à greve", diz.
O coordenador-geral do Sindicato disse ainda que a secretária estadual da Educação conversou por telefone com os representantes do Sinte-RN, sinalizando um possível encontro para debater as reivindicações dos professores. "Ainda não recebemos comunicado oficial, mas talvez hoje possamos ter uma audiência para tratar de uma nova proposta do governo", declara.
Fonte: O Mossoroense
Nenhum comentário:
Postar um comentário