terça-feira, 24 de maio de 2011

Uribe usou arquivos das FARC para incriminar Chávez e Correa, revela Wikileaks

O governo do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2002-2010) manipulou informações contidas nos computadores de "Raúl Reyes" -- codinome de um dos líderes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), assassinado em 2008 --, para vincular o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o equatoriano, Rafael Correa, à guerrilha, de acordo com despachos vazados pelo Wikileaks.

Uma série de despachos publicados pelo jornal colombiano El Espectador informou que a administração Uribe utilizou "estrategicamente" o material que foi entregue a vários países e "que inclusive conseguiu fundos privados para que um organismo estrangeiro direcionasse às conclusões”. O trecho se refere ao relatório do Instituto de Estudos Estratégicos (IISS) "Dossiê das FARC: os arquivos secretos de Venezuela, Equador e Raúl Reyes", publicado este mês.


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Um dos documentos – datado apenas um mês após a operação militar colombiana que matou o guerrilheiro, no Equador – revela que o então ministro da Defesa, Juan Manuel Santos [atual presidente], como o vice-ministro Sergio Jaramillo, haviam confirmado que se planejava utilizar o material apreendido para provar conexões dos presidentes da Venezuela e do Equador com as FARC.

Jaramillo foi designado por Uribe para "desenvolver a estratégia de utilização dos conteúdos do computador de Reyes". Número dois das FARC, o guerrilheiro foi abatido em um acampamento localizado em território equatoriano, a 1.800 metros da fronteira com a Colômbia, em março de 2008.

A operação causou um desentendimento entre Quito e Bogotá e provocou a ruptura das já desgastadas relações diplomáticas entre o governo Uribe e Chávez. No ataque, morreram 26 pessoas, entre elas Reyes, o equatoriano Franklin Aisalla e quatro estudantes universitários mexicanos. Os três países renovaram as relações diplomáticas no ano passado, após Santos assumir a presidência.

O documento diplomático mostra ainda que o governo colombiano esperou que a Interpol (polícia internacional) verificasse a informação dos computadores de Reyes para depois entregar o material a uma organização independente, que não fosse ligada nem a Bogotá, nem a Washington.

O então ministro Santos entregou toda a informação aos Estados Unidos, mas deixou claro ao embaixador norte-americano William Brownfield que fazia a entrega daquele material mediante a condição de que seu conteúdo não fosse divulgado sem antes consultar previamente a Colômbia.

Paralelamente, Jaramillo viajava a cada semana para mostrar informação dos computadores de Reyes a distintos governos, entre eles do México, Brasil, Chile, Reino Unido e França. Na semana passada, a Corte Suprema de Justiça concluiu que o conteúdo dos e-mails de Raúl Reyes não poderia constituir prova judicial.

Na última sexta-feira (20/05), Santos assegurou que o procedimento realizado com os computadores foi correto. No dia 10 de maio, o governo colombiano havia dito que não faria comentários acerca da pesquisa do IISS. O estudo se baseou na informação contida nos computadores do guerrilheiro número dois.

Por sua vez, o ministro de Defesa de Equador, Javier Ponce, respondeu também na sexta-feira que "ficam desvirtuadas" as acusações de apoio das FARC à campanha presidencial do presidente Correa, quando a Corte de Justiça colombiana invalidou como provas os e-mails de Reyes.

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